A ideia de que poderemos aliviar o grilhão da dívida total nacional, só através do crescimento, sem mudar as regras europeias da UE, continua a ser desmentida pelos indicadores de desempenho económico. A direita considera como sinal de responsabilidade a negação da evidência da insustentabilidade da dívida. Lembrando aqueles doentes graves que escondem o seu diagnóstico para não preocupar a família (neste caso, para não assustar os credores). Contudo, a ideia dominante à esquerda de "renegociar a dívida", embora mais razoável, parece-me longe de ir ao essencial do problema. No caso português, o fardo da dívida, ao contrário do que quase sempre se insinua, não é apenas público. Se o Estado deve 130% do PIB, a dívida dos privados (famílias e empresas), apesar da "desalavancagem" já efetuada, aproxima-se dos 260% do PIB. Se juntarmos as duas dívidas, e pensarmos apenas na perspetiva dos credores estrangeiros, a dívida externa do país atinge 226% do PIB. Pela sua magnitude, a dívida atual faz de Portugal um triste Sísifo condenado a transportar eternamente a sua pedra. É claro que o problema não se resolve com um birrento e unilateral "não pagamos!". A pergunta fundamental a fazer é a seguinte: como foi possível chegarmos a este abismo? A resposta é simples: a zona euro é corresponsável pela substituição da nossa baixa competitividade, agravada pela perda de soberania monetária, por uma montanha de crédito. Qualquer solução para a dívida portuguesa deve integrar uma reforma multilateral válida para a ZE no seu conjunto. Ao contrário da austeridade do Tratado Orçamental, que reinstalou o velho instituto da prisão por dívidas, já abolido em todo o mundo civilizado. Também um dia, até os credores irão perceber que essa é a opção mais desastrada, até para eles. Resta saber se perceberão a tempo.