A ilusão de uma "carreira a sério" na música começou cedo. Tinha 16 anos quando o manager da "primeira banda a sério", os Casino, a convenceu a trocar a cidade natal por Lisboa. Na altura pareceu boa ideia", e mudou-se com o colega Filipe Pacheco. Chegaram a editar um disco pela EMI, mas a história do grupo ficou por aí. "Acho que hoje não passaria pela cabeça de nenhuma banda do Porto vir para Lisboa por essa razão, e ainda bem." A forma como reagiram os pais diz muito deles - e da filha. "Perceberam que era aquilo que eu queria fazer e sempre fui muito responsável. Fiz um acordo de que não iria descurar a escola, que ia para a Faculdade, etc."..A música não foi uma descoberta de adolescente. Começou a brincar (e depois a aprender) nas teclas do piano da tia-avó antes de saber ler e escrever. Mais tarde, cumprindo uma tradição familiar, frequentou uma escola de música. "Desisti demasiado cedo mas aprendi a tocar piano, fiquei com as bases." Ainda criança e já escrevia canções. A língua inglesa surgiu-lhe com "naturalidade" - e não foi apenas para escrever e cantar. Terminado o curso de Comunicação e Cultura na Faculdade de Letras (hoje chama-se Ciências da Cultura), ainda sem saber bem o que fazer em termos profissionais, respondeu a um anúncio para fazer traduções..Estreou-se em francês, mas tem sido a verter a língua de Shakespeare para a portuguesa (e vice-versa) que tem trabalhado. Desde 2007 que faz tradução de filmes, catálogos de exposições e livros: romances, ensaios, livros para crianças... "Não me incomoda nada ter outra profissão em paralelo, porque estou convencida de que uma coisa alimenta a outra e aquilo que faço em música é só o que gosto de fazer, seja como Minta & The Brook Trout como noutros projetos em que participo ou colaboro." É um trabalho com o qual se identifica e mostra-se "contente com o equilíbrio" das duas atividades na sua vida. "Gosto de coisas que puxem pela cabeça, que tenham um estilo próprio e depois tentar reproduzi-lo na língua de chegada. Prefiro coisas mais longas, dá para entranhar mais no estilo. Já me diverti imenso a fazer traduções de romances como de argumentos de cinema", conta sobre o ofício. Num cantinho especial guarda o primeiro romance que traduziu, Minha Ilha, Minha Casa, de Alfred Lewis, um açoriano que emigrou para os Estados Unidos..A vida universitária coincidiu com um interregno de "três ou quatro anos" na música. Quando regressou, em 2006, nasceu Minta, primeiro a solo com gravações caseiras, mais tarde acompanhada de um grupo que hoje é composto por Mariana Ricardo (com quem divide um "estúdio minimal"), Margarida Campelo, Tomás Sousa e Bruno Pernadas (em cujo grupo, por sua vez, canta e toca guitarra e percussões). Minta & The Brook Trout conta três álbuns de originais e um ao vivo. E o que é Minta? "Musicalmente foi mudando de cor e de letras também, embora seja sempre eu a escrevê-las. No limite são canções pop. Cada vez soa mais a Minta.".Além deste grupo, Francisca Cortesão faz parte da formação de Mão Verde, o projeto musical para crianças de Capicua e Pedro Geraldes, no qual toca baixo e canta; e de They"re Heading West, quarteto que desde 2011 toca uma vez por mês na Casa Independente, com um convidado diferente. Este grupo nasceu com o objetivo de viajarem pela Costa Oeste dos Estados Unidos, o que aconteceu em 2011 e 2014. "E havemos de tornar a ir, porque os nossos concertos são para guardar dinheiro para viajar.".Em Portugal, entre 2009 e 2012 também viajou ao substituir Rita Redshoes na formação de David Fonseca. "Tive imenso gosto em trabalhar e com quem aprendi muito", reconhece.