Na história europeia e ocidental o princípio do Estado-nação apenas recebeu cobertura jurídica, esta mais moderadora do que imperativa, quando, na paz da Guerra de 1914-1918, o presidente Wilson fez adotar esse princípio nos textos dos estatutos da Sociedade das Nações, a que finalmente os EUA não aderiram. Desapareceram os impérios que existiam antes da Guerra de 1914-1918, que eram o alemão, o austro-húngaro, o russo, o turco, e aumentou o número de Estados na Europa. Mas, mais uma vez na história, o simples problema das fronteiras geográficas fez que persistisse o sério problema das minorias, que tem secular presença no processo que Acton, no século XIX, analisou, e que se resume na conclusão de que a regra é ser o Estado que forma a nação e não a nação que forma o Estado. Não se trata de diminuir a importância do modelo, trata-se sim de reconhecer que o tempo tem dimensão diferente para cada caso, porque para cada um é eventualmente diferente a circunstância..O processo de descolonização que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial de 1939-1945, adotou o princípio, mas o elemento tempo, a diferença das circunstâncias em cada área, etnia, cultura, e crenças, não podia ignorar, como aconteceu, a consideração da circunstância de cada caso, sendo que em cada caso tinha importância diferente a definição territorial, a composição étnico-social do povo que ganhava a liberdade política em relação ao Estado colonial que ali deixava uma história de Estado extrativo e não de Estado democrático, ou Estado-nação. Pelo que, estando em questão a posse do poder, os conflitos violentos não se verificaram apenas com cada uma das potências que perdiam a sua parcela no império euromundista, continuaram a verificar-se internamente, frequentemente longe do valor do Estado-nação que não fazia parte da herança do passado colonial..Passado meio século de anticolonialismo ocidental, o que começa a ser anunciado, entre tantos desastres que afetam a "terra casa comum dos homens", é que o conceito de Estado-nação cresce de importância em várias das antigas colónias, o que significa uma atitude de escolha ideológica e ética do governo em exercício, ainda que demore a conseguir o complemento que é a divisão de poderes, e escolha dos titulares pelo voto, porque o fator tempo condiciona a marcha da autenticidade do projeto..O continente americano já teve o seu tempo longo, e não é geral o êxito da conclusão de Acton, e até na crise grave atual de saída do Reino Unido da União Europeia as suas dificuldades de ordem interna obrigam a não esquecer que o Reino Unido não é um Estado nacional, o que se inscreve na problemática interna que está a enfrentar. É por isso que são animadoras, não apenas as manifestações literárias que vão referindo o povo de cada antiga colónia como nação, ou que a semântica política adote a expressão Estado-nação, porque anuncia que o processo Acton iniciou nesses casos o desenvolvimento: mas o fator tempo não pode deixar de ser considerado para que se produza a ligação autêntica entre a palavra e a realidade, uma advertência que preocupantes acontecimentos da América Latina dos nossos dias suscitam, com consequências dramáticas internas e internacionais..A literatura, alguma simplesmente criativa, mas que por isso tem a força do verbo, acompanha outra já com autoridade universitária local, com legitimidade para exigir o apoio das instâncias internacionais e a cooperação, se aceite, das mesmas antigas soberanias coloniais. Com esperança de que a paz prometida em fins de 1945 cresça progressivamente no espaço de "arena mundial", em que o globalismo se transformou. A própria experiência europeia, sobretudo a iniciada na paz de 1918, viu multiplicar os Estados, mas não conseguiu que os novos traçados evitassem minorias étnicas ou culturais, por vezes apenas porque separados do povo, indefinidamente, a que pertencem. Não é pois de esperar que o processo de passagem da situação de "povo liberto" do colonizador para nação que a história criou, não exija tempo. Um tempo de apoio, de cooperação, de racionalização da memória do passado que não dificulte a definição de um novo futuro..A situação africana, do Cabo ao Cairo, mostra a lentidão da marcha empreendida, mas também que a intervenção exterior não está sempre do lado da projetada evolução da paz. Designadamente, parece que um esforço útil seria conseguir, em todos os casos, a cooperação do antigo Estado colonizador, o que implica uma reformulação das memórias respetivas, que transforme os passados confrontos em experiência corretora. As políticas dos antigos Estados colonizadores europeus ganharão credibilidade se a União Europeia adotar uma linha comum.