O projeto de instalação de uma central solar fotovoltaica numa área com mais de 800 hectares, a cerca de um quilómetro da vila de Cercal do Alentejo, está a suscitar críticas da população e reservas por parte da Câmara Municipal de Santiago do Cacém e da junta de freguesia. A proximidade à população e às habitações são algumas das preocupações levantadas..No mesmo concelho, o projeto de uma outra central solar, mas de maiores dimensões, com mais de mil hectares, na freguesia de São Domingos e Vale de Água, foi chumbado após avaliação de impacte ambiental, tendo sido devolvido ao promotor para reformulação, conta o presidente do município. E acredita que poderá acontecer o mesmo à central prevista para Cercal do Alentejo.."Admito que sim. Mesmo que o parecer seja favorável por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), tenho a certeza absoluta que será com fortes condicionantes, obrigando, na prática, a uma alteração profunda do projeto", diz ao DN Álvaro Beijinha..No projeto inicial, prevê-se uma área de 816 hectares, dos quais 137,05 são destinados à instalação de 553 800 módulos fotovoltaicos, "numa área vedada total de 546,7 hectares", como é referido no parecer emitido pela autarquia, a que o DN teve acesso, no âmbito do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), que esteve em consulta pública até 10 de maio..A instalação desta estrutura de grandes dimensões, da empresa Cercal Power, S.A, está a suscitar críticas da população. Existe, aliás, uma petição lançada por moradores, empresários de turismo e agricultores que dizem "Não à Central Fotovoltaica do Cercal do Alentejo". Os subscritores estão contra "a monocultura intensiva de painéis solares" e criticam a APA por ter promovido uma sessão de esclarecimento a apenas dois dias do fim do prazo da consulta pública.."A proliferação das centrais solares é o novo fenómeno no litoral alentejano, depois das estufas de frutos silvestres, olivais e amendoais intensivos. Os planos de mega centrais solares em torno de pequenas aldeias e vilas com um décimo dessa área, tem que ser revisto", lê-se no documento..Destaquedestaque"Podiam ver outros locais, mesmo na freguesia, mas mais distantes da localidade e das habitações", diz presidente da junta de freguesia.Na sessão de esclarecimento, foi referido que o projeto inicial implica instalar painéis solares a 50 metros de habitações. "São precisamente esse tipo de situações que consideramos que não são aceitáveis e foi isso que explanamos no parecer que emitimos", no âmbito do EIA, disse o presidente da autarquia.."A APA assumiu logo ali, naquela reunião, que os painéis não podiam estar tão próximos das habitações", recorda António Albino, presidente da junta de freguesia de Cercal do Alentejo, que coloca também reservas quanto à dimensão. "É muito grande e essa é uma das preocupações", diz. A existir, que a central "seja em menor dimensão do que está proposto e mais distante das populações e das habitações"..Não está contra a central solar, mas lamenta a dimensão e a sua localização. "Podiam ver outros locais, mesmo na freguesia, mas mais distantes da localidade e das habitações", sublinha. Um processo que devia ter sido conduzido de outra forma pelo Governo, considera. "Deviam consultar os municípios, ver onde há terrenos disponíveis. Se as coisas fossem pensadas assim, se calhar não havia contestação", lamenta..Estando prevista para a entrada da localidade de Espadanal, "que, ao fim ao cabo, é à entrada do Cercal, ou seja, está muito próximo", a câmara considera "que tem de haver um afastamento maior", afirma Álvaro Beijinha..As reservas apontadas pela câmara no parecer que emitiu vão nesse sentido, "na proximidade à localidade de Cercal do Alentejo, às habitações e a alguns turismos rurais", bem como a "necessidade de criar cortinas arbóreas para minimizar o impacto visual", uma "questão fundamental"..Aliás, Nuno Forner, da Zero, disse à Lusa que a associação ambientalista "está extremamente preocupada", pelo facto de estarmos "perante uma artificialização do espaço rural"..Álvaro Beijinha defende também que "a questão do abate de algumas árvores, sobreiros e azinheiras, também deve ser evitada ao máximo"..Aguarda-se para "breve" o parecer da APA, refere o autarca, esclarecendo que o pedido de licenciamento ainda não deu entrada na câmara, onde o projeto será ou não aprovado, mediante o "enquadramento no PDM"..Um projeto promovido pela empresa Central Power, S.A, e resulta da junção de cinco centrais de menor dimensão, "com licenciamento de atividade" atribuída pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), e que implica a construção de uma Linha de Muito Alta Tensão (LMAT), "numa extensão de 25,6 km"..Está previsto que tenha uma "potência nominal" de "223,6 MVA" (megavolt-ampere), que "visa uma capacidade para a produção média anual de 596 206 MWh/ano. "Acompanhamos a necessidade de produção de energia a partir de fontes renováveis. Já estamos a sofrer na pele as consequências das alterações climáticas", defende Álvaro Beijinha, sem esquecer, no entanto, as preocupações da comunidade..As grandes centrais fotovoltaicas representam "um novo paradigma" da sociedade atual e, recorda o autarca, surgem na sequência do que foi anunciado pelo Governo, no âmbito do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), em que Portugal definiu como meta atingir até 2030 nove gigawatts de capacidade solar fotovoltaica..E o facto de o concelho estar próximo de Sines, para onde o Governo projetou um projeto de investimento em hidrogénio verde, suscita, "obviamente", uma grande procura por parte dos promotores. "Temos, de facto, tido alguns contactos com outras empresas", diz..Mas quanto a propostas em concreto existe a da central para Cercal do Alentejo e uma outra para a freguesia de São Domingos e Vale de Água, a THSiS, que abrange mais de mil hectares, promovida pela empresa Sunshining, do grupo Prosolia. Um projeto que mereceu parecer negativo por parte da APA.