Ainda no "ponto zero" dos eventuais entendimentos entre PSD e CDS para as autárquicas e quiçá legislativas, como diz o secretário-geral do PSD e coordenador autárquico do partido, José Silvano, há algumas "certezas" que as duas forças têm e que podem agilizar ou dificultar uma negociação eleitoral concertada para "retirar mais câmaras ao PS" e criar uma frente de centro-direita em 2023 para tentar conquistar terreno à esquerda..Uma dessas "certezas" dos sociais-democratas é que "o normal seria o PSD ter o seu candidato próprio em Lisboa e Porto". Sendo as duas principais câmaras do país das mas apetecíveis e talvez difíceis de conquistar a solo e também as que maiores dores de cabeça representam para os dois partidos e por razões diferentes..Em Lisboa, a seguir o padrão de negociação tradicional, o cabeça-de-lista pelo concelho caberia ao CDS, que ficou à frente do PSD nas últimas autárquicas. Assunção Cristas, então líder do CDS e cabeça-de-lista em Lisboa, bateu a candidata do PSD, Teresa Leal Coelho, com 20,7% dos votos contra 11,22%..Este pode ser mesmo um engulho em possíveis conversações entre os dois partidos. Tal como o facto de na Câmara do Porto o CDS ter apoiado Rui Moreira..Nem num caso nem no outro os dois coordenadores autárquicos adiantam o que poderá acontecer - apenas José Silva reforçou a tal ideia de que o mais natural é o PSD ter um candidato próprio, mas deixa a porta aberta a "negociações globais"..A acontecer, essas "negociações globais", admite o coordenador autárquico social-democrata, teriam de abranger um número alargado de câmaras..José Silvano, que volta a liderar uma nova equipa do PSD, constituída na semana passada, que vai pôr em marcha as eleições autárquicas, mantém que, "por princípio", em todas as concelhias do PSD e do CDS que entenderem que é benéfico os dois partidos irem de braço dados às eleições de 2021, será aprovado a nível nacional..Mas certezas sobre todo o processo nem vê-las. "Ninguém no CDS ou no PSD pode dizer o que vai acontecer. Se vai haver reuniões conjuntas e o que estará em cima da mesa", afirma José Silvano. Diz ao DN que só agora irá ser delineada a estratégia autárquica do partido. O homólogo do CDS, António Carlos Monteiro, vai no mesmo sentido, mas lembra que o seu partido, pela voz do novo líder, Francisco Rodrigues dos Santos, já manifestou o empenho e desafiou o PSD para um entendimento. "O nosso desafio foi o de constituir uma alternativa para retirar câmaras ao PS e constituir a base para um processo de entendimento político para outras eleições.".António Carlos Monteiro rejeita que a condição do CDS para partir para as conversações seja "um acordo global", mas sublinha que é importante que as cúpulas dos partidos "deem um sinal claro" às estruturas locais que querem mesmo avançar para coligações em vários municípios..O vice-presidente centrista também não destapa a ponta do véu sobre as condições que serão postas em cima da mesa nas eventuais conversações com o PSD. "É ao presidente do partido que cabe definir a estratégia", afirma, quando questionado sobre se o seu partido abrirá mão do cabeça-de-lista em Lisboa a bem de um entendimento mais vasto com o partido de Rui Rio..Os dois partidos já têm coligações em Aveiro, Estarreja, Amares, Braga, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Torre de Moncorvo, Faro, Guarda, Cascais, Amarante, Maia, Penafiel, Trofa, Rio Maior, Ourém, Castro Daire e Tabuaço. Estas serão naturalmente para repetir..No congresso do PSD, em Viana do Castelo, Francisco Rodrigues dos Santos desafiou: "O CDS tem no PSD o seu parceiro tradicional, a história assim o dita, queiramos em conjunto construir esta relação com base numa cooperação institucional, baseada num diálogo construtivo, estruturado, leal e de confiança recíproca. Creio que através do discurso do que pretende Rui Rio e até dos reptos que foram sendo lançados pelo CDS, após o nosso último congresso, estão criadas as condições para que seja criada esta plataforma de entendimento.".PSD prepara tudo ao milímetro.No PSD, a equipa de coordenação autárquica já foi constituída. José Silvano é o coordenador, mas tem a seu lado nesta tarefa Salvador Malheiro, vice-presidente do partido, presidente da Câmara de Ovar e líder da distrital de Aveiro do PSD..Integra também esta equipa, como noticiou o Expresso, Isaura Morais, deputada e nova vice-presidente do partido e ex-presidente da Câmara de Rio Maior. Tal como Fátima Ramos, deputada e antiga presidente da Câmara de Miranda do Corvo, e o presidente da autarquia de Mafra, Hélder Silva, e presidente dos Autarcas Sociais Democratas..Estas escolhas demonstram que Rui Rio aposta na experiência para lançar o processo autárquico que é vital para o partido ganhar balanço para as legislativas..Com mais ou menos acordos com o CDS, os sociais-democratas precisam de conquistar mais câmaras do que em 2017, altura em que se ficaram pelas 98, quando o PS conquistou 159..Muitos analistas admitem que será mais fácil em 2021 o PSD cantar uma vitória se conquistar mais algumas câmaras socialistas, já que o seu score eleitoral foi o mais baixo de sempre. Os sociais-democratas irão, por isso, analisar com mais profundidade as câmaras nas quais o PS ganhou por uma margem escassa e em que existem maiores probabilidades de as "roubar"..É nesta estratégia e nas futuras negociações com o CDS que entroncarão as escolhas que Rui Rio fará dos cabeças-de-lista. O líder social-democrata já avisou que é preciso apostar "nos melhores" e não nos caciques do partido. E entre os melhores estarão, certamente, figuras independentes que possam fazer a diferença nos concelhos na luta com os socialistas.