O melhor jovem do mundo brilha e coloca Portugal na final do europeu
Que reviravolta épica! A perder desde os 17 segundos de jogo, Portugal acabou por vencer a Espanha (3-2) e marcar encontro com a Rússia na final do Euro 2022, que se jogará no domingo (16.30, RTP1) em Amesterdão. É a terceira final continental conseguida pela seleção nacional, depois do europeu de 2018 e do mundial 2021... que terminaram os troféus na Cidade do Futebol.
Se a forma como a seleção nacional deu ontem a volta aos espanhóis foi impressionante, o que dizer do facto de a equipa liderada por Jorge Braz não perder um jogo oficial no tempo regulamentar há seis anos - o último foi no Mundial de 2016, diante da Argentina.
Na outra meia-final, a Rússia venceu a Ucrânia, por 3-2, num encontro marcado pela tensão política entre os dois países. Russos e portugueses têm ambos um título europeu e procuram o segundo. No caso da seleção nacional, um triunfo no domingo fará dela bicampeã europeia, uma vez que é a atual detentora do título.
Twittertwitter1489710535813869576
Dizer que Portugal entrou a perder no jogo é pouco. A Espanha marcou aos 17 segundos, por Raul Gomez, após assistência de Sérgio Lozano, que aos dois minutos podia ter feito o 2-0. Uma entrada a todo o gás dos vizinhos como que a lembrar os tempos em que erram o bicho papão da seleção portuguesa, com uma história extremamente favorável nos duelos ibéricos (24 vitórias em 32 jogos até ontem).
Pany Varela podia ter empatado o jogo aos quatro minutos, mas acertou no poste. O selecionador Jorge Braz pediu pausa técnica para tentar chegar ao empate, mas em vez disso viu a equipa sofrer o segundo. Chino fez o 2-0 e na reação Paçó fez o mesmo que Pany Varela e acertou no poste aos 15 minutos.
A sorte do jogo parecia não querer nada com os portugueses. E o que dizer da tripla oportunidade falhada. Primeiro foi Tiago Brito que viu um corte de carrinho evitar o golo português. Didac estava fora da baliza, mas Zicky Té falhou novamente o golo mesmo à boca da baliza e o remate em desespero de Afonso Jesus do meio da rua saiu por cima da baliza. Depois Tiago Brito ainda impediu o terceiro dos espanhóis que deram uma lição de bem defender à seleção que mais estatuto tem nesse aspeto.
A missão para o segundo tempo passava por marcar dois golos no mínimo e Portugal veio com tudo do intervalo. Paçó ameaçou Didac e Erick Mendonça proporcionou-lhe uma defesa estrondosa a um pé e já em desequilíbrio. Depois Lozano acertou em cheio na cabeça de Miguel Ângelo e deixou o português mal tratado. O jogador espanhol, a quem chama búfalo, por levar tudo e todos à frente tal a força, obrigou logo depois André Sousa a fazer uma grande defesa para impedir o terceiro de nuestros hermanos.
O festival de oportunidade falhadas e de quase golo sucederam-se do lado português. Nem Tomás Paçó, nem Fábio Cecílio, nem Tiago Brito conseguiram fazer golo. Desmontar a organização e serenidade espanholas parecia uma tarefa hercúlea, mas ao alcance de Afonso Jesus, que arrancou um penálti a Ortiz. Depois o experiente Bruno Coelho reduziu o marcador para Portugal. O empate chegou três minutos depois por Zicky Té. O eleito melhor jogador jovem do mundo teve calma e paciência para surpreender os espanhóis com um fortíssimo remate. E ainda faria melhor.
Os golos intranquilizaram a Espanha, Portugal passou a ter mais bola e veio ao de cima todos os ensinamentos e palestras de Jorge Braz, que "há anos" defende que a seleção portuguesa é melhor que a espanhola e que os recentes títulos europeu (2018) e mundial (2021) foram o marco da mudança de mentalidade. A um minuto do fim, Erick e Pauleta construíram a jogada perfeita para o miúdo (Zicky Té) brilhar e colocar Portugal na final do europeu... também com a ajuda de André Sousa que logo depois agarrou o remate de Lozano e abafou o último suspiro espanhol.
Twittertwitter1489714217439608833
"Foi mais um dia em que estive calado durante toda a segunda parte e de ver o jogo sem a certeza de saber se íamos virar. Estava a dar-me uma satisfação brutal de ver o jogo porque estava a ver a alma desta gente e do que preparámos. Foi fantástico. Tivemos que meter-nos no nosso caminho, no nosso percurso. Tivemos de perceber o que é aquele cantinho da Península Ibérica [Portugal]. Se somos campeões da Europa e do Mundo é por alguma coisa. Temos feito grandes coisas, coisas fabulosas. Mas de vez em quando, à boa forma portuguesa, deslizamos. Temos que acreditar. Sermos felizes no que fazemos. Somos uns sortudos e felizardos por representarmos o nosso país. Tivemos que perceber onde podíamos correr riscos, que tínhamos de respeitar a Espanha, foi clarificar isso e acreditar em quem nós somos e no que fazemos. Depois disso, foi a interpretação de cada um deles", analisou Jorge Braz no final do jogo, em declarações à RTP3.
Já Zicky Té recusou humildemente o papel de herói do jogo: "Tanto podia ser eu como qualquer outro meu colega porque nós trabalhámos muito para isso. Felizmente fui eu mas podia ser qualquer outro."
isaura.almeida@dn.pt