Provocado por um dos sismos mais fortes do último século, e o maior dos últimos 40 anos, o maremoto que há exactamente um mês atingiu as zonas costeiras de 12 países no oceano Índico foi o mais mortífero de que há registo histórico: pelo menos 228 429 pessoas morreram, mas esta contabilidade não é definitiva, já que há ainda vários milhares de desaparecidos..Houve muitos maremotos ao longo da História, no mar do Japão, no Pacífico, no Índico, no Atlântico e até no Mediterrâneo, muitos deles causadores de milhares de mortos. Lisboa também sofreu em 1755 as trágicas consequências de uma destas ondas devastadoras, na sequência do terramoto..É preciso, no entanto, recuar quase 3500 anos para encontrar um maremoto comparável a este último. Corria o ano de 1410 a.C.e na ilha de Creta, no Mediterrâneo, entrava na sua fase final a milenar civilização minóica (de Minos, que aí terá reinado)..Há várias teorias para fim desta civilização, mas a que mais adeptos colhe relaciona-se com a ocorrência de um tsunami que nesse ano arrasou Creta, em consequência da violenta explosão do vulcão Santorini, no norte da ilha. De acordo com estimativas referidas pelo NGDC, o centro nacional de dados geofísicos dos Estados Unidos, terão perecido nesse desastre de enormes proporções cerca de cem mil pessoas. Esse maremoto acabaria por dar origem à lenda da Atlântida..Para a História ficou também o desastre que, em 1883, atingiu a ilha indonésia de Cracatoa. Na sequência de uma violenta erupção, o abatimento de uma parte do vulcão causou uma onda gigante que provocou a morte a mais de 36 mil pessoas na ilha e noutras zonas costeiras da Indonésia..Em consequência do violento sismo de 26 de Dezembro, Samatra moveu-se, em média, cinco metros na direcção Norte, embora nalguns pontos essa deslocação tenha atingido 20 metros. Esta deslocação corresponde «a 70 anos de tempo geológico, no caso dos cinco metros, e a 300 anos no caso dos 20 metros», explicou ao DN Luís Matias, investigador do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa..A razão para estes valores é simples. Como se diz na gíria científica, o interior estável das placas (neste caso a birmanesa e a indiana) está em movimento - e em rota de colisão - à razão de 6 centímetros ao ano. Há exactamente um mês, em apenas três minutos, Samatra deslocou-se o equivalente a várias décadas. Três minutos foi o tempo que durou o sismo, em que a falha de 1300 quilómetros foi percorrida pelo movimento sísmico, à velocidade de 2 km por segundo.