É um David Fonseca diferente, o que se apresenta aos ouvintes neste disco, ora mais experimentais, ora mais escuras ou simplesmente inesperadas, dentro seu do universo de canções pop perfeitas, sempre expandido a cada novo disco. Ao todo 16 os temas recuperados para Lost and Found - b-sides and rarities, que foi editado agora e funciona como uma espécie de Lado B da própria carreira de David Fonseca..Como o próprio assume em conversa como DN, dos "muitos e diferentes David que existiram nestes últimos 15 anos", a baliza temporal deste disco. A ideia surgiu durante o período de confinamento, "uma altura em que todos começámos a olhar um pouco mais para o passado", reconhece. Até ele, que, confessa, não é "dado a efemérides ou a saudosismos", deu por si a olhar em retrospetiva para o passado, através destas canções, nunca antes editadas comercialmente, apesar de algumas delas já terem sido lados b de singles ou incluídas nas coletâneas não oficiais que todos os anos faz para os membros do seu clube de fãs, o Amazing Cats Club.."São temas algo obtusos, que por alguma razão não couberam na altura nos meus discos. E ao aparecerem agora pela primeira vez juntos, num único disco, permitem observar a minha carreira sob um novo prisma, que quer eu queira ou não, é sempre analisada a partir dos singles, porque a minha premissa principal, enquanto artista, é sempre essa busca pelo formato canção", analisa..E numa primeira audição, são muitas as canções que ficaram na gaveta, embora David discorde. "Não sei, há aqui muitas experiências, algumas delas bastante radicais e são quase todas demasiado longas para passarem na rádio", diz com humor. Uma das mais surpreendentes é precisamente o inédito Depois de Amanhã, a única em todo o disco que nunca antes tinha sido gravada. Foi escrita durante a feitura de Futuro Eu, o único disco de David Fonseca cantado inteiramente em português, e foi na altura pensada para ser tocada pela Filarmónica dos Marrazes, a aldeia onde o cantor morou durante toda a sua infância e juventude - e talvez por isso soe tão emocional e melancólica.."São canções que de certa forma representam uma pequena amostra do que fui editando e, fora esse inédito, todas elas foram gravadas e finalizadas, mas mesmo assim não deixam de ser apenas experiências, exatamente porque não as consigo catalogar no meu universo e eu preciso sempre de um contexto", explica. O que não quer dizer que as abandone, muito pelo contrário: "Penso sempre que um dia talvez as consiga usar noutro contexto", embora nunca saiba bem qual. "Quando começo a trabalhar num disco novo faço sempre o triplo das canções necessárias e muitas delas nem sequer chegam à seleção final. Mas ainda bem que tenho todas essas sobras, é sinal que as melhores são as que chegam cá fora, ou pelo menos assim o espero", assinala..Durante o confinamento também criou algumas canções e ainda se colocou a possibilidade de lançar um álbum novo, rapidamente colocada de parte por uma razão bem prosaica, decorrente da pandemia: não o poder apresentar ao vivo. "Mas como nunca antes tinha editado um trabalho assim, também acaba por ter para mim um lado de novidade, apesar do material ser antigo", considera, apesar de reconhecer que "sem o Covid este disco certamente não existiria"..Para já, não faz parte dos planos do músico apresentar este Lost and Found ao vivo, embora admita que "seria incrível" faze-lo. "Já não tocamos desde fevereiro e apesar terem voltado a haver concertos ainda são coisas muito residuais, pelo que, neste momento e com todas as condicionantes existentes, seria muito complexo estar a montar um espetáculo novo de raiz", esclarece. Algumas, "umas duas ou três", nem seriam propriamente novidade, pois fazem às vezes parte dos alinhamentos. "Normalmente toco todas as minhas canções nos concertos, mas há aqui algumas das quais não me lembro sequer de um acorde, tinha de aprender a tocá-las novamente, o que também seria um desafio muito interessante. Só por isso já valeria a pena fazer esse concerto".