O lado africano de B Fachada
Quando há dois anos B Fachada lançou o EP Há Festa Na Moradia já tinha explorado subtilmente trabalhar a sua vincada personalidade musical com sons de uma festa africana. Mas como o nome deste novo disco faz prever, nunca até Criôlo B Fachada se tinha atirado de forma tão intensa aos ritmos do semba e ao balanço afro-pop. No entanto, a África (e não só, para sermos justos, está aqui também o Brasil e o Portugal idealizado por António Variações) que ouvimos ao longo destas oito canções é feita de camadas de sintetizadores e batidas electrónicas que olham para a ditadura do imposto bom gosto com desdém, o que no final permite a B Fachada surpreender, positivamente, de uma forma quase radical. Quase porque mesmo sendo um disco repleto de canções pop exóticas e dançáveis que recorrem somente a sintetizadores retirados diretamente dos anos 80 mais foleiros (elogio), em Criôlo o cantautor não abandona nunca a individualidade que fez dele um nome maior da atualidade, portuguesa e além fronteiras. A atitude provocatória das suas letras mantém-se acutilante como sempre, basta ouvir o single Afro-Xula, onde canta: "O Aníbal a comer/ o polícia a cozinhar/ toda a gente sem poder/ e ninguém a trabalhar".
Criôlo acaba por ser mais uma prova que B Fachada se mantém um letrista e, acima de tudo, um compositor de canções pop de excepção. O que aqui se ouve não é para todos. Mas está disponovel para escuta gratuita na plataforma Bandcamp.