A incerteza sobre o nome a dar ao novo disco de Virgul, lançado já durante o último mês do ano passado, manteve-se quase até ao fim. Apesar de 2020 ter sido de tão má memória para o mundo, para o antigo vocalista dos Da Weasel até se revelou positivo, em especial por ter sido o ano em que voltou a ser pai. "A verdade é que todas estas músicas foram criadas antes de a pandemia surgir e o próprio lançamento foi sendo adiado devido à mesma e todos os nomes deixaram de fazer sentido, devido ao ano que vivemos", afirma ao DN..O álbum já estava pronto antes da pandemia e alguns dos 13 temas até já tinham sido divulgados, como Difícil demais, Cada Um no Seu Lugar ou Dividir Amor, o terceiro single, tornado público em setembro. O músico recuperou ainda uma canção do primeiro álbum, All We Need Is Love, que surge agora numa nova versão acústica, como um bónus. "Tem uma mensagem que faz mais sentido depois de termos estado todos confinados, a necessitar de amor. Fiz nessa altura uma versão acústica que acabou por também fazer parte do disco", conta..Entretanto, e à medida que se aproximava a data de lançamento, sabia apenas que o novo trabalho, o segundo em nome próprio, "teria de ser de celebração", mas sem ser de festa, "pois tal não faria sentido" - e o título teria de refletir isso mesmo. E foi assim, "mesmo à última", que lhe surgiu a ideia de Júbilo. "Tinha sido novamente pai. Nessas alturas percebemos que o amor é sempre o mais importante. Era positivo, sem ser exuberante, mas pacífico, tal como eu me sentia", lembra ao DN. Um sentimento que experimentou também enquanto fazia o disco, mas especialmente quando, já depois de pronto, o ouviu pela primeira vez do início ao fim. "Emocionei-me muito, durante as gravações e já depois de estar pronto. Senti uma alegria enorme, até por ter podido trabalhar com artistas que admiro tanto e tenho a sorte de ter como amigos.".Na criação dos temas, e a exemplo do que já acontecera no primeiro disco, Saber Aceitar, de 2017, Virgul contou com a colaboração de Alex D'Alva Teixeira e de Ben Monteiro, dos D'Alva. Além destes, destaca-se ainda a participação especial de três verdadeiros pesos-pesados: Sam the Kid, Dino d'Santiago e o músico cabo-verdiano Jon Luz, velho companheiro de estrada de gente como Cesária Évora, Maria Alice ou Tito Paris.."Convidei-os a todos só depois de ter as músicas prontas. O Sam, porque achei que faltava qualquer coisa de hip hop no tema em causa, o High. Não só é o melhor naquilo que faz como é a pessoa que é. Já nos conhecemos há tanto tempo, que só me pediu para lhe enviar o tema, para ver se gostava. No final acrescentou mais de um minuto de rap à canção. Ficou tão boa que defendi que devia ser o single, mas a editora não concordou, por ser demasiado longa e, como tal, pouco radiofónica..Mas não quero saber, vou à mesma fazer um vídeo", garante. Já sobre Dino d'Santiago, cuja participação encerra o tema High Outro, "é um irmão, não há mais nada a justificar". Quanto a Jon Luz, conheceu-o quando começou a frequentar o Tejo Bar, onde depressa se tornaram amigos. "Um dia ele foi ter comigo ao estúdio, só para curtirmos um bocadinho, mas correu tão bem que decidimos incluir isso no disco, porque como o anterior tinha sido muito mais digital, queria tornar este mais orgânico, dar-lhe um pouco aquela energia dos concertos ao vivo", sustenta..São estes "pequenos momentos de felicidade" que pretende celebrar em Júbilo, em temas como O Tempo Que Passa, uma música inspirada na sua própria infância. "Por vezes somos felizes, mas só mais tarde o percebemos. E quando somos crianças vivemos um período de pura felicidade, foi algo que percebi ao ser pai pela primeira vez, e agora novamente, mas de uma forma ainda mais madura", revela..A filha mais velha, com 10 anos, foi também a fonte de inspiração para outra canção forte do disco. Chama-se Dividir o Amor e recorda o processo de separação da antiga companheira e como isso terá afetado, ou não, a filha. "Senti-me finalmente preparado para falar disso. Ela sente o amor dos pais e sabe que estaremos sempre cá para o que for necessário, e isso é o mais importante, porque esse sentimento deve ser um complemento de ambos", defende o cantor, que entretanto viu o tema ser adotado pela Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos para uma campanha de sensibilização..O ano de 2020 devia ter sido também o do tão aguardado regresso dos Da Weasel, entretanto adiado para julho, para a próxima edição do festival NOS Alive. "Esperamos que seja mesmo em 2021, porque já bastaram os outros dez anos de ausência", diz com humor, revelando que "estão muitos ansiosos, mas de uma maneira positiva". A espera, no entanto, permitiu-lhes "ensaiar melhor, mudar algumas coisas e aumentar ainda mais a vontade de voltar". E não se refere apenas à banda da qual faz parte com Pacman, Jay Jay, DJ Glue, Quaresma e Guillaz: "Todos nós precisamos de voltar a estar juntos, sem medo, seja para nos abraçarmos ou para andarmos simplesmente ao moche."