Um pequeno astronauta perdido e assustado num planeta desconhecido. Que aventura é a dele? Bem, para começar, talvez o planeta não seja assim tão desconhecido, nem os seres que nele habitam tão assustadores quanto parece. Olá Estranho, da alemã Julia Ocker, é uma das primeiras curtas-metragens de animação programadas na 18.ª edição do IndieJúnior, que arranca nesta quinta-feira e decorre até 8 de maio, em Lisboa, entre as salas do Cinema São Jorge, Culturgest e Cinema Ideal. Uma narrativa elementar que fala do nosso primeiro contacto com o mundo numa linguagem acessível aos meninos e meninas com mais de 3 anos de idade, ilustrando muito bem o espírito da restante programação: pequenos filmes, mais divertidos ou mais dramáticos, que colocam as crianças (e adultos) diante da experiência de crescer e viver em sociedade..Neste último caso, há exemplos particularmente criativos, como Pincéis de Cerda, de Quentin Haberham, com uma bela demonstração de entreajuda entre pincéis, depois de um pequeno desastre com a cabeleira de um deles, e Sozinhos no Elevador, da grega Anastasia Papadopoulou, que reflete com muita graça (e a mais-valia da técnica stopmotion), sobre o comportamento das pessoas dentro de um elevador, ora quando estão sozinhas, a espremer uma borbulha ou a dançar com fones nos ouvidos, ora quando estão acompanhadas e inibem todos os gestos....Para os miúdos mais crescidos (maiores de 12), a entrar na adolescência, troca-se a animação pela imagem real para falar de coisas sérias. Pode ser a ansiedade do primeiro beijo com língua, como acontece na curta francesa O Beijo, de Clemence Pogu - retrato muito sensível desse momento marcante da adolescência, aqui inscrita na era em que tudo se pesquisa na internet -, ou a pergunta difícil de como lidar com a morte de um pai ou de uma mãe. O delicado Yaren e o Sol, produção belga de Renate Raman e Joren Slaets, é o documentário que se aproxima da resposta a essa questão dando a conhecer um campo de férias especial, que será mais um "campo de luto", onde todas as crianças participantes perderam alguém próximo. Aqui acendem-se velas, fazem-se atividades e jogos, e é nesse ambiente de comunhão que se vai criar o contexto para enfrentar o tema difícil da orfandade. Há quem fale de como se sente tratado de maneira diferente pelos colegas da escola, há quem diga que se tornou mais sensível pelo efeito da dor (a menina do título, Yaren), e com a gradual partilha do sentimento de ausência criam-se laços debaixo de um céu luminoso..É também da aceitação da partida que trata a curta de animação Contos da Água Salgada, assinada pelos franceses Alexandra Petit, Antoine Carré, Martin Robic, Tamerlan Bekmurzayev, e pelo luso-francês Rodrigo Goulão de Sousa. Uma comovente e imaginativa crónica a captar a forma como cada membro de uma família reage à emancipação de um dos seus. Já num plano global, Estrelas no Mar, do sul-coreano Jang Seung-wook, dá uma perspetiva inquietante sobre as alterações climáticas, mostrando uma mãe com dois filhos que, de um momento para o outro, se vê numa situação de sobrevivência perante a inundação que vai fazendo desaparecer o prédio onde vivia. Este último será inclusive o ponto de partida para um debate, no dia 6 (Culturgest, 18h00), sobre o impacto do aquecimento global, com a presença de professores e alguns especialistas..No IndieJúnior não faltam também oficinas, atividades e até cinema de colo, secção onde se destaca Alasca, da russa Oxana Kuvaldina, uma adorável animação centrada num cãozinho, raça Malamute, que tenta fazer amigos no Alasca, carregando uma sombra em jeito de aurora boreal. E ainda de produção russa, de referir Sobre uma Mãe, de Dina Velikovskaya, uma das curtas maravilhosas apresentadas na edição de 2016, que volta ao programa com o retrato do que uma mãe dá aos seus filhos: tudo..dnot@dn.pt