Intrépido, determinado, subiu ao último piso da torre do Castelo de Berg. Aí, saiu por uma janela e, com a energia da fúria, venceu a dificuldade da idade: alçou-se, à corda, até ao pico mais alto da cobertura. Ergueu-se no pico do pico, olhou para leste, um pouco a sul, buscando as margens do Danúbio, descobriu a Hungria, levantou o braço, esticou o dedo e disse: "Rua!".A imprensa escondeu este heroico repente do ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo, o socialista Jean Asselborn. Reportou-nos apenas, nesse memorável 21 de Julho, a frase oficial: "Devemos realizar um referendo na União Europeia para saber se queremos tolerar Orbán na UE." Somou-se à ordem de Rutte o marechal holandês: "A Hungria já não tem lugar na União Europeia." Dito na mesma altura que isto: "A minha intenção é deixar a Hungria de joelhos." Para completar a Operação Benelux, faltaria a Bélgica, não fora, em Bruxelas, a bojuda e poderosa Comissão fazer de estado-maior e motor da manobra bélica..As instituições europeias já tiveram decerto a sua mão-cheia de grandes imbecis. Não estão isentas disso, não são menos do que outras instâncias nacionais ou internacionais. Mas não me lembro de alguma vez ter visto, a este nível, linguagem de guerra aos comandos da União Europeia. Lembremos apenas três parágrafos do Preâmbulo do Tratado de Lisboa, em vigor:."RECORDANDO a importância histórica do fim da divisão do continente europeu e a necessidade da criação de bases sólidas para a construção da futura Europa,"."CONFIRMANDO o seu apego aos princípios da liberdade, da democracia, do respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais e do Estado de direito,"."DESEJANDO aprofundar a solidariedade entre os seus povos, respeitando a sua história, cultura e tradições,".Asselborn, Rutte e os outros que se desdobram em ataques à Hungria e a Orbán espezinham o espírito essencial dos tratados: voltam a cavar a divisão do continente europeu; mostram desprezo pelos princípios da liberdade, da democracia, do respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais e do Estado de direito; rasgam a solidariedade entre os povos europeus, sem respeito pela sua história, cultura e tradições. São o piorio que nos poderia calhar. Pior ainda, em tempos tão difíceis, carregados de desafios..É certo que Asselborn, Rutte e todos os outros pretextam violação de direitos fundamentais pela Hungria. Mas é ao contrário: ainda por estes dias foi notícia uma grande manifestação LGBT em Budapeste, o normal em democracia. É em Haia, em Bruxelas, no Luxemburgo que o Estado de direito é rasgado e a democracia calcada, quando se hostiliza e enxovalha as instituições húngaras e o voto do seu povo, quando se reclama um referendo de guerra, descabido e ilegal, quando se cozinham sanções à margem dos tratados e da decência. Tudo embrulhado num persistente preconceito discriminatório face ao grupo de Visegrado e outros do Leste, como que a repor de pé o muro que os soviéticos inventaram e a liberdade derrubou..Se acreditam que na Hungria se está num "risco manifesto de violação grave dos valores" comuns da União Europeia, devem seguir os caminhos do artigo 7.º do Tratado UE e deixarem-se de fantasias, abusos e atropelos. Quando surgem a ameaçar a Hungria com os fundos, exibem a burocracia do suborno, que é o princípio da mais completa decadência e o chafariz da corrupção..Voltemos à fundadora Declaração Schuman de 9 de Maio (1950): "A Europa não foi construída, tivemos a guerra." É isso: se a Europa for destruída, voltaremos à guerra. Expulsar-nos-emos uns aos outros, febris de ideologia, a caminho do inferno..O projecto europeu, nas mãos de mercadores e arlequins, sem estadistas e gente de pensamento, corre riscos tremendos. O ministro Asselborn devia demitir-se ou ser demitido. Devia ter vergonha. Infelizmente, não é provável..Advogado e ex-líder do CDS. Escreve de acordo com a antiga ortografia