O "homem sem história" que matou quatro colegas ninguém sabe porquê
45 anos, há 16 a trabalhar na polícia. Informático, problemas de audição, mulher, dois filhos, de três e nove anos. Uma pessoa, dizem colegas e responsáveis policiais, que nunca tinha criado qualquer problema. Os vizinhos dizem o mesmo da família: "Nunca deram que falar."
Tudo isso mudou esta quinta-feira. Mickaël H -- é este o nome que os media franceses difundem -- começou no seu próprio serviço, no edifício da Prefeitura de Paris, onde estão sediadas as direções de todas as polícias, à exceção da Judiciária.
Seriam umas 12.30 locais quando puxou de uma faca de cozinha e atacou três colegas, matando-os. De seguida, numa escada, esfaqueou uma agente administrativa de outro serviço, que não sobreviveu, e uma outra funcionária, essa dos recursos humanos, ficou gravemente ferida. (Algumas notícias garantiam que uma das funcionárias mortas seria a sua responsável hierárquica, mas surgiu depois o desmentido.)
Chegado ao pátio principal da prefeitura, foi-lhe dada ordem para largar a faca por um agente estagiário da Direção de Ordem Pública e Tráfego. Como o não fizesse, o agente disparou a matar, atingindo-o na cabeça. Outro polícia da mesma divisão, ferido no ombro, foi transportando de urgência para o hospital, assim como a referida funcionária dos recursos humanos.
Ataque de loucura. Foi a primeira hipótese adiantada pelas autoridades e continua sobre a mesa, já que até ao momento nenhuma pista concreta foi divulgada que permita encontrar uma motivação para a fúria homicida. Fala-se de um conflito com a hierarquia e da sua recente -- há 18 meses, segundo o canal BFMTV -- conversão ao islamismo, mas não parece haver evidência de radicalização.
"Este homem nunca apresentou o mínimo sinal de alerta nem de dificuldades comportamentais", assegurou o ministro do Interior, Christophe Castaner.
Três polícias e uma funcionária administrativa mortos depois, é óbvio que algo de muito errado se passava com Mickaël H, de quem só se sabe mais que nasceu na Martinica, seria casado com uma mulher que também tem problemas de audição e vivia em Gonesse, um subúrbio a cerca de 16 quilómetros do centro de Paris, na direção noroeste.
Segundo os media franceses, a hipótese de se tratar de um ato terrorista não está completamente afastada mas também não está a ser privilegiada. Mas tendo as buscas terminado já bem entrada a noite é possível que nelas se tenha conseguido alguma informação ainda não conhecida.
"Muito fechado, como um maluquinho dos computadores pode ser." É assim que uma colega descreve o homicida ao jornal Le Parisien. "Toda a gente está espantada. É um homem sem história, que nunca se mostrou violento."
Diz esta ex-colega que se cruzou com ele alguns minutos antes daquilo a que o presidente Emmanuel Macron, que se encontra em Rouen num encontro sobre o sistema de reformas, qualificou como "um verdadeiro drama."