John Legend foi um dos protagonistas do festival online One World: Together at Home, que juntou nomes como Alicia Keys, Elton John, Jennifer Lopez, Stevie Wonder ou Rolling Stones e encerrou com um tema interpretado a meias com Lady Gaga, Celine Dion e Andrea Bocelli, depois de horas antes ter protagonizado um dos momentos da noite, num dueto com Sam Smith, com quem cantou o clássico Stand by Me..Desde que a pandemia chegou aos Estados Unidos, no início de março, o músico, cantor, ator e produtor americano foi um dos primeiros a usar as redes sociais para animar os fãs durante o período de isolamento social. "Todos os que estão em casa precisam de coisas para se entreter, música, séries, filmes. E nós precisamos de vos entreter, portanto estou aqui para vos dar alguma música", anunciou na rede social Instagram a 17 de março, momentos antes de interpretar ao piano alguns dos seus maiores êxitos, bem como um pequeno excerto de um tema novo.."Sim, tenho estado bastante ativo no Instagram. Mas não sou só eu, é toda a comunidade artística, especialmente a dos músicos e cantores, que assim encontraram uma maneira de compensar os fãs por todos os cancelamentos e adiamentos, tanto de concertos como de novos discos, além de que conseguem manter a ligação com eles e entre todos, uns com os outros, porque a música tem esse dom de nos unir", responde do outro lado da linha, com a mesma voz de veludo com que o elevou à categoria de estrela planetária, através de temas como All of Me, Ordinary People ou Preach..Mas, por estes tão estranhos dias, até um dos maiores e mais reconhecidos artistas mundiais tem uma vida tão normal quanto a da maior parte dos comuns mortais, igualmente sem sair de casa e tentando arranjar tempo para repartir entre a família e o trabalho. "Tento criar e compor alguma coisa, o que nem sempre é fácil, com os miúdos sempre à minha volta. Essa é talvez a minha principal ocupação agora, entreter os meus filhos. Também tenho continuado a trabalhar a minha voz, em conjunto com o meu treinador de voz, que me tem enviado uns exercícios", conta..E sempre que tem mais algum tempo livre, dedica-se à produção do novo disco, ainda sem título conhecido mas do qual já foram lançados quatro singles: Actions, Last Time I Say Sorry, Conversations in the Dark e Bigger Love- este último apenas a 17 de abril. "Tenho aproveitado este tempo para terminar o novo álbum. Estou a fazer muito do trabalho de produção e de mistura em casa, porque pretendo mesmo lançá-lo ainda durante a primavera. Sei de muitos artistas que estão a adiar os discos para o verão ou para o outono, mas eu optei por não o fazer", sublinha. De resto, assume que quase não sai de casa, mas se tiver de o fazer mantém a distância social e faz "todas aquelas coisas necessárias para tentar manter o vírus afastado e minorar as consequências disto tudo, para nós e para os outros"..Filho de uma costureira e de um operário fabril que nas horas vagas tocava bateria, John Roger Stephens nasceu a 28 de dezembro de 1978 em Springfield, Ohio, e, tal como os irmãos (dois rapazes e uma rapariga), cedo começou a cantar no coro da igreja local, dirigido pela mãe e no qual a avó era organista. Começou a tocar piano com apenas 7 anos e sempre foi um aluno exemplar, o que anos mais tarde valer-lhe-ia convites para ingressar nas prestigiadas universidades de Harvard ou Georgetown. Acabaria por optar pela Universidade da Pensilvânia, onde rapidamente se tornou presidente e diretor musical do prestigiado grupo a capella The Counterparts, pertencente a esta instituição. Foi enquanto tirava o curso de Inglês (na vertente de literatura afro-americana) que um dia foi apresentado por um amigo a Lauryn Hill, acabando contratado por esta para tocar piano no tema Everything Is Everything, incluído no aclamado álbum a solo da cantora dos Fugees, The Miseducation of Lauryn Hill..Ao mesmo tempo também já atuava em nome próprio, em pequenos clubes, onde aproveitava para vender os álbuns caseiros que ia gravando. Em 2001 foi apresentado a Kanye West, que o contratou para a sua nova editora, GOOD Music. Três anos depois é finalmente editado o primeiro álbum a sério de John Legend, nome escolhido por sugestão do poeta afro-americano J. Ivy, que ao ouvi-lo cantar disse-lhe que tinha "uma voz como a das lendas" dos velhos tempos da soul. Chama-se Get Lifted, vendeu três milhões de cópias em todo o mundo e valeu a John Legend três prémios Grammy, para melhor álbum de R&B, melhor novo artista e melhor performance vocal masculina de R&B..Um dos maiores êxitos do disco foi Ordinary People, canção que, após alguma hesitação, reconhece ao DN ser a que melhor o define. "Foi a que deu o tom para me transformar no que sou hoje, a que me fez sobressair e afirmar enquanto artista", adianta. "Desde que me conheço, sempre quis ser artista a solo. Tudo na minha carreira foi sempre feito nesse sentido e com esse objetivo e, nessa altura, foi muito bom sentir que consegui deixar de ser apenas um bom cantor para me transformar num grande artista", confessa o também mentor do programa televisivo The Voice, no qual tenta sempre passar esta mensagem aos aspirantes a estrelas. "Digo-lhes que têm de ser proativos e empreendedores, não basta ter apenas uma boa voz. Não temos de nos transformar em homens de negócios, temos é de encontrar uma personalidade própria e saber comunicá-la ao mundo", defende..O que agora, paradoxalmente, e apesar de todas as ferramentas digitais, até é mais difícil. "O streaming democratizou a música. Há muitos lançamentos ao mesmo tempo e muitos acabam por perder-se. É mais fácil ser músico, mas, ao mesmo tempo, é mais difícil ter sucesso". Ou seja, "é preciso talento e ter algo a dizer com esse talento". E talento é qualidade que não lhe falta, como se comprova pelo facto de ter sido o primeiro artista afro-americano a conseguir ascender ao exclusivo clube EGOT, os vencedores de Emmys, Grammys, Óscares e Tonys, do qual apenas fazem parte 15 pessoas. "É uma honra enorme e só o consegui porque trabalhei com pessoas muito talentosas ao longo da minha carreira. Nesta fase da minha vida sonhava, talvez, em ganhar muitos Grammys. Ou melhor, muitos não, talvez alguns [risos] e já ficava bastante feliz", diz com humor. E ainda mais bem-humorado responde à questão de ter sido eleito pela revista Life como o Homem Mais Sexy do mundo. "Não foi bem uma eleição, foi antes uma decisão editorial. Enfim, é uma faca de dois gumes, porque temos de estar preparados para todo o tipo de reações e, pelo que vi nas redes sociais, houve gente que não concordou nada com isso [risos]."."O meu melhor disco de sempre".Regressemos então à música, mais em concreto ao novo álbum, que John Legend acredita ser o seu "melhor álbum de sempre". Uma fasquia bem alta, tendo em conta o êxito dos trabalhos anteriores. "Sim, mas estou verdadeiramente muito entusiasmado com o disco. Não quero revelar tudo, mas vai ter muitos sopros e cordas. Vai soar a soul, vai ser sexy e excitante. Estou mesmo muito ansioso para que finalmente toda a gente possa ouvi-lo.".E nem a pandemia o demoveu desta intenção. "Não afeta assim tanto o processo de lançamento, porque há muito tempo que ninguém vai às lojas comprar discos físicos. O próprio cinema já começou a fazer isso, com os filmes a estrear-se em primeiro lugar nas plataformas de streaming e já não em salas, como antigamente. Só ainda não há um substituto para os concertos", salienta o cantor, que manteve, para já, todos os espetáculos marcados para este verão, como o agendado para o próximo dia 3 de julho, em Cascais, integrado na edição deste ano do Cool Jazz Fest. "Estou muito excitado por poder voltar aí. Quero mostrar-vos as novas canções, mas também aqueles clássicos que todos querem ouvir, especialmente agora. Espero que o calor consiga afastar o vírus, porque os aplausos do público são sempre muito melhores do que estar apenas a ver emojis."