Eles estão habituados a jogar em casa: diante de turistas que se encantam com o som da guitarra portuguesa (a versão coimbrã) e emocionam com mensagens que lhes chegam numa língua que, por vezes, não entendem. A casa é uma capela do século XIV, onde se promove uma viagem no tempo, "dentro do fado de Coimbra, desde o início do século XX até às coisas mais atuais". No entanto, o Grupo de Fados àCapella também experimenta outros palcos: quarta-feira, dia 16, às 21.30, chega ao do Teatro Tivoli (Lisboa). Entenda-se, eles também estão acostumados a jogar fora de casa, a sair da sua Capella - seja em noites de fados espalhadas pelos país, seja em projetos que tentam explorar novas vertentes da canção coimbrã ou da música popular portuguesa. O objetivo "é desmistificar a música de Coimbra", resume ao DN Nuno Correia da Silva, uma das vozes do quinteto. É isso que traz ao Tivoli o grupo de fados nascido no àCapella, um centro cultural que devolveu a vida a uma velha capela escondida numa ruela, entre a Baixa e a Alta da cidade dos estudantes. "No Tivoli, vamos tentar fazer um espetáculo eclético dentro da música de Coimbra, com algumas reinvenções. Os temas têm uma abordagem musicalmente diferente, pois temos acordeão e piano, além dos instrumentos base do fado [a guitarra e a viola]", descreve Nuno Correia da Silva. A intenção é clara: contar a história do fado coimbrão - "dos temas mais políticos e românticos à vertente mais terrena dos anos 1970 e 80" - desfazendo preconceitos, como o de que não se poder bater palmas no final [pormenor exclusivo das serenatas]. "Há muita gente que nunca esteve na presença de uma versão mais moderna do fado de Coimbra. É o que vamos fazer, uma abordagem diferente do traçar da capa e da guitarra a tocar", sublinha o cantor. O público lisboeta verá aquilo que conimbricenses e turistas podem encontrar quase todos os dias (a partir das 21.30), na Capela de Nossa Senhora da Vitória, o antigo espaço litúrgico que une os membros do grupo. Nuno Correia da Silva (voz), Luís Ni Ferreirinha (viola), Ricardo Dias (guitarra portuguesa "de Coimbra") e Ricardo J. Dias (acordeão) são os sócios que gerem o centro cultural e casa de fados (a eles junta-se, em palco, a voz de José Vilhena). "Este espaço surgiu, em 2003, com o desejo de fazer uma casa de fados como não existia em Coimbra na altura. Recuperámos uma capela abandonada do século XIV, que foi classificada como Património Histórico de Interesse Municipal e distinguida com o prémio de arquitetura Diogo de Castilho (2004). Em 13 anos, tivemos lá milhares de pessoas e milhares de horas de música, tanto do fado de Coimbra e de Lisboa como de outras áreas", descreve o fadista. O grupo está junto há seis anos, neste formato, após uma reestruturação no àCapella. Mas os músicos não se ficam por aí: pelo meio, vão-se desdobrando em outros projetos, para lá do fado tradicional. "Isso acaba por se fundir na capela e na sonoridade que trazemos", resume Nuno Correia da Silva. É o que chega agora ao Tivoli.