O elogio do "Portugal que arde mas sobrevive"
O advogado Fernando Seara recomenda A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, que "é o retrato do Portugal do interior, do Portugal rural" que resiste "a tudo e a todos".
"É o retrato de um regresso de Paris em que Jacinto, mal vislumbra Barça d'Alva, proclama que 'cheira bem'", sublinha o antigo dirigente do CDS - na liderança do professor Adriano Moreira - e depois deputado eleito pelo PSD.
A obra de Eça, publicada no início do século XX, contrapõe os aspetos negativos da vida na cidade - Paris - às vantagens da natureza, em Tormes, junto ao rio Douro (concelho de Baião). Ora este é "um sentimento que permanece!", exclama o antigo presidente da Câmara de Sintra e natural de Viseu.
"É este Portugal que arde mas sobrevive, é este Portugal que sofre mas sempre renasce", acrescenta o antigo aluno do Colégio Militar.
"É este Portugal que resiste", insiste Fernando Seara. "A tudo e a todos, mesmo que na capital deixe de se considerar relevante a leitura" de outra obra clássica de Eça, Os Maias - "e as almas urbanas de Carlos da Maia".
"O que nos fortalece a alma é que Jacinto chegou ao Douro. O rio lá está, embora o caminho-de-ferro já não!", porque "um qualquer Carlos decidiu que não [e] mesmo que os Jacintos de sempre continuem ano após ano a proclamar, mal sentem a proximidade do Pocinho, do Pinhão ou da Régua, que 'cheira bem'", lamenta o também professor universitário que concorreu à autarquia de Odivelas nas últimas eleições locais.