O diagnóstico está feito. Só falta agir

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1 Pressupostos (há consenso científico generalizado sobre eles): o Big Bang, que deu origem ao universo, Ocorreu há cerca de 13 700 milhões de anos.

A Terra terá sido formada há cerca de 4540 milhões de anos, num processo que terá durado vários milhões deles, durante o qual sofreu o impacto de numerosos meteoritos (um dos quais terá dado origem à Lua). Após o seu arrefecimento, surgiram os oceanos.

Terá sido nestes que, há cerca de 3500 milhões de anos, se formaram os primeiros seres vivos (a princípio "sopas de moléculas" unicelulares, sem núcleo; depois com núcleo, as quais foram realizando a fotossíntese e assim enriquecendo a atmosfera de oxigénio; e por fim os primeiros seres multicelulares, animais marinhos com corpo mole, e mais tarde com concha).

Por volta de há 400 milhões de anos já havia grande variedade de plantas no solo terrestre, que começou a ser invadido pelos primeiros animais anfíbios.

Há 150 milhões de anos terão surgido as aves e os primeiros mamíferos.

Estes foram-se diversificando (via mutações no ADN) − e os primeiros hominídeos terão surgido há cerca de dois milhões de anos, deles derivando a nossa espécie atual (Homo sapiens), surgida em África há uns 350 mil anos.

2 Descobertas relativamente recentes: a vida define-se pela capacidade de uma célula duplicar o seu código genético e depois separar as duas metades em duas células filhas (reprodução).

Os vírus não se dividem e não são autónomos, mas têm código genético e evoluem (razão por que uns cientistas os consideram seres vivos e outros não). Foram cruciais na nossa evolução e evoluíram connosco. Têm uma função simbiótica determinante na nossa vida, influenciando nomeadamente o comportamento neurológico, a performance do sistema imunitário e a homeostase (propriedade de manter em equilíbrio todas as suas funções). Temos mais micro-organismos no nosso intestino do que células no corpo todo.

Mais significativo: os vírus têm sido o instrumento mais eficaz da regulação da diversidade das espécies. (Por exemplo: a seguir às guerras a natureza encarrega-se em geral de controlar o processo reprodutivo de forma que nasçam mais homens do que mulheres.) Em particular, os vírus tendem a intervir sempre que uma espécie se torna demasiado dominante ou predadora em relação a outras.

3 O diagnóstico salta assim à vista: o planeta parece estar a reagir de forma natural à brutal agressão de que tem sido vítima, crescentemente, por esta espécie que "perdeu a cabeça" com o consumismo desenfreado e está a dar cabo dele, tornando-o em breve inabitável para ela própria (é provável que escaravelhos e outros animais consigam viver cá quando os seres humanos já não o puderem fazer − o que, convenhamos, seria um final irónico para esta espécie que se extinguirá a si mesma por abuso sobre as outras, ao adotar um modo insustentável de habitar o planeta que a gerou, exaurindo-o de recursos, inundando-o de gigantescas montanhas de lixo diário não reciclado, enchendo-lhe os oceanos de plásticos praticamente não-biodegradáveis, etc.).

Daqui resulta que provavelmente muitos mais vírus aparecerão em breve, e talvez cada vez mais potentes nos seus ataques à nossa espécie, obrigada a (con)viver com eles − até que algum equilíbrio seja por fim restabelecido. Não é preciso invocar deuses nem teorias da conspiração: trata-se simplesmente de reconhecer a Terra à procura da sua estabilidade interna (e da sua harmonia, podemos acrescentar).

4 Então só é preciso passar à ação, rapidamente e em força, e em todo o lado ao mesmo tempo. Se por fim os políticos (tão genericamente incapazes de pensarem para prazos mais longos do que a sua próxima reeleição) perceberem a ligação entre os vírus e a vida na Terra, e consequentemente se dedicarem com urgência ao consenso global que é indispensável para uma resposta eficaz concertada, talvez ainda possamos salvar a vida da nossa espécie, atuando afincadamente para restabelecer o equilíbrio já perdido.

Claro que será difícil e terá custos enormes (controlo da demografia, abandono de todos os combustíveis fósseis, abrandamento drástico do consumismo, etc. − uma autêntica revolução na política, na economia e na cultura). Mas como a alternativa é desaparecermos todos a curto prazo... não é preciso dizer mais nada.

Maestro, compositor e professor aposentado

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