O clássico empate quentinho que deixa tudo na mesma
Feio, muito feio! O clássico terminou empatado (2-2), deixou tudo na mesma na liderança do campeonato e trouxe ao de cima o que de pior há no futebol. Picardias, ameaças e agressões como há muito não se via num FC Porto-Sporting. Deram o exemplo os treinadores, que terminaram o chorrilho de cenas lamentáveis com um abraço. Dragões e leões seguem separados por seis pontos na tabela.
O início do clássico foi frenético, emocionante e quentinho. Aos 30 segundos de jogo, Vitinha de longe e Taremi na recarga obrigaram Adán a evitar o golo do FC Porto. Aos 34 segundos Matheus Reis viu o primeiro cartão amarelo por travar o génio de Fábio Vieira com o braço no rosto do portista. Um falta estratégica que cortou o ímpeto ofensivo dos portistas, que logo depois voltaram a testar os reflexos do guarda-redes leonino. Primeiro por Pepe e depois por Taremi, a surpresa de Sérgio Conceição no onze ao lado de Evanilson.
A fortíssima entrada do líder da I Liga não evitou que fosse surpreendido aos oito minutos. Paulinho, ali bem no coração da área, entre Pepe e Mbemba, cabeceou para o fundo da baliza de Diogo Costa, que no jogo passado acabou no hospital, mas recuperou a tempo de jogar o clássico da jornada 22. Há 74 anos que o Sporting não marcava um golo tão cedo em casa do FC Porto para o campeonato (Jesus Correia, em 1948, marcou aos 5 minutos).
O golo deu conforto ao Sporting, que começou com Palhinha no banco e Ugarte a titular. Lá para os 20 minutos encaixou nas marcações do FC Porto e com isso reduziu as opções de passe para uma boa circulação de bola dragoniana. Além disso, as diagonais rápidas de Matheus Nunes iam causando calafrios à defensiva portista, sempre de olho nas costas para evitar que Sarabia ou Nuno Santos (que jogou no lugar do lesionado Pedro Gonçalves) recebessem a bola em condições de criar perigo.
Os leões aproveitaram que o jogo baixou de intensidade e passou por momentos de maior combatividade a meio campo para ter mais bola e desenhar uma jogada perfeita que fez a bola passar por todos os setores até entrar na baliza portista. Nuno Santos foi o autor do remate, mas pode agradecer aos dez colegas que participaram na jogada pela ajuda. Fábio Vieira não deu tempo para grandes festejos e reduziu logo a desvantagem portista, evitando assim que o desnível do marcador pudesse pesar sobre as cabeças portistas.
Os últimos cinco minutos da primeira parte foram surreais com menos de um minuto de tempo útil jogado. O próprio árbitro sentiu dificuldades para segurar o jogo perante as constantes picardias. E depois de muitos empurrões e alguns cartões amarelos mostrados, João Pinheiro optou por uma intervenção pedagógica e chamou os capitães (Pepe e Coates) para uma conversa em pleno relvado e avisou-os que ia endurecer a postura se os ânimos não se acalmassem.
Se todos (ou quase) esperavam que o intervalo metesse gelo no jogo, os intervenientes principais tinham outras ideias. Mal voltou dos balneários, o Sporting ficou reduzido a dez jogadores, com a expulsão de Coates, que travou Evanilson quando ele se isolava em direção à baliza de Adán. Nada a dizer deste amarelo... já o primeiro foi um equívoco do árbitro e por isso mesmo o capitão leonino não calou a injustiça na hora da saída.
Rúben Amorim teve então de fazer reajustes. Meteu Palhinha no jogo e Matheus Reis passou para central, o que obrigou Nuno Santos a recuar no flanco esquerdo. Sérgio Conceição respondeu tirando um homem do miolo (Vitinha), dando palco a Galeno para explorar a ala e reforçar as hipóteses de chegar ao empate. E Zaidu esteve perto de o conseguir aos 59 minutos, mas a acertou no poste!
A partir desta altura os dragões passaram a ser donos e senhores da bola e das oportunidades de golo, obrigando a equipa de Alvalade a fechar-se defensivamente para aguentar o forte. O técnico leonino não gostava do que via e voltou a mexer. Neto entrou para central, Matheus Reis voltou ao lado direito e Paulinho deu lugar a Slimani. Sérgio respondeu com Francisco Conceição e Pepê, mas a equipa abusava do jogo pelos corredores. O recurso ao cruzamento era previsível, mas revelou-se eficaz. Foi assim o FC Porto chegou ao empate. O rei das assistências (11), Fábio Vieira meteu a bola na cabeça de Taremi, que se antecipou a Feddal e bateu Adán.
Adivinhava-se um fim de jogo frenético. Assim como tinha começado, mas Sporting resistiu e assim regressou a Lisboa com um ponto e a sua quota parte nas cenas lamentáveis que se viram no Dragão no final do clássico, que teve quase 49 mil adeptos nas bancadas.
isaura.almeida@dn.pt