O Banco de Portugal (BdP) já enviou à comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso Banif centenas e centenas de documentos - todos eles classificados com o selo de "confidencial" -, mas nesse vasto lote continua a faltar um relatório a que alguns deputados dão grande importância, o que a Boston Consulting Group (BCG) fez avaliando a atuação do supervisor bancário no caso BES..Esse relatório, pedido pelo Bloco de Esquerda, foi elaborado a pedido do próprio BdP. Os bloquistas afirmaram no pedido que a BCG terá assinalado uma "falta grave" do BdP na supervisão e isso, confirmando-se, daria pretexto ao governo para poder afastar Carlos Costa do cargo de governador do Banco de Portugal..No ofício que enviou ao Parlamento a explicar os vários documentos enviados, o BdP diz porque não razão não mandou a auditoria da BCG. Basicamente porque essa auditoria não tem que ver com a atuação do banco face ao Banif, ou seja, está fora do âmbito da própria comissão parlamentar de inquérito (a auditoria tinha apenas que ver com a atuação do BdP face ao BES). Nos documentos "cujo conteúdo não tenha conexão com a medida de resolução [...] o Banco de Portugal encontra-se plenamente sujeito às obrigações de segredo profissional" estabelecidas no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF). Ou, dito de outra forma: "Na perspetiva do Banco de Portugal, a informação a prestar à comissão de inquérito poderá cobrir os períodos e a documentação necessários para avaliar não só a medida de resolução em sim mesma e as circunstâncias em que foi tomada mas também as medidas de supervisão que a antecederam e que com ela podem ter uma conexão relevante, como as medidas relacionadas com os processos de recapitalização e reestruturação.".Isto explica também que todos os documentos enviados pelo supervisor bancário para o Parlamento tenham o carimbo de "confidencial" - significando isto que só podem ser consultados pelos deputados: "A transmissão à comissão parlamentar de inquérito deve, no entendimento do Banco de Portugal, ser acompanhada de mecanismos adequados de proteção, de modo a evitar a sua divulgação fora do âmbito da comissão e das finalidades do inquérito parlamentar.".Além do relatório da BCG, o Banco de Portugal recusou enviar aos deputados "informações respeitantes a clientes do Banif, os relatórios de auditores e consultores com cláusula expressa de confidencialidade e a correspondência trocada entre terceiras entidades com eventual cópia ao Banco de Portugal"..No acervo da CPI também ainda não deverão constar os vários planos de reestruturação do Banif chumbados em Bruxelas. O BdP estará aguardar autorização, neste caso, da Direção-Geral da Concorrência (DGComp) da Comissão Europeia. O que os deputados receberam foi, isso sim, toda a correspondência trocada entre o BdP e o Banif - documentação que terá mais de 800 páginas..Segurista relator.O deputado Eurico Brilhante Dias foi o escolhido pelo PS para relator da comissão (mais noticiário na página 17)..A candidatura irá hoje a votos numa reunião agendada para as 12.00. O PS conta com o Bloco de Esquerda e o PCP para obter a maioria que elegerá o deputado socialista. A escolha dos relatores faz--se pelas maiorias que se formam e não obedece aos esquemas de rotatividade que definem o partido do qual saem os presidentes das comissões (nesta pertence ao PCP, através de António Filipe)..Eurico Brilhante Dias, licenciado em Gestão e professor no ISCTE, foi eleito deputado, pela primeira vez nas últimas legislativas, pelo círculo de Castelo Branco. De 2011 a 2014, integrou a direção de António José Seguro no PS, sendo o seu principal porta-voz para as questões económicas. Apoiou Seguro contra António Costa nas eleições primárias do PS que levaram Costa à liderança do partido. Já com António Costa à frente do PS, participou nos trabalhos de preparação do programa eleitoral do partido. As primeiras audições da comissão serão a 29 deste mês. Os ex-administradores do banco Marques dos Santos e Jorge Tomé estão convocados para depor perante os deputados. No dia seguinte, será ouvido Luís Amado, chairman do banco, e só depois serão chamados responsáveis da supervisão e do poder político..A 20 de dezembro, o governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos - incluindo tóxicos - para a nova sociedade veículo. A resolução foi acompanhada de um apoio público de 2,255 mil milhões de euros, tendo 1,766 mil milhões saído diretamente do Estado e 489 milhões do Fundo de Resolução bancário, que consolida nas contas públicas.