Comunicam entre si naquela espécie de esperanto moderno que é um nível médio de inglês, mas têm consciência de que a mensagem mais poderosa que passam dispensa quaisquer palavras. Falamos do polaco Mikołaj Rejs, do húngaro Fat Heat, do checo Tomáš Junker aka Pauser e da dupla eslovaca RCLS, reunidos em Lisboa para participar na 4ª edição do Muro Festival de Arte Urbana, promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, em coprodução com a Junta de Freguesia do Parque das Nações e a Gebalis. Em sorte, coube-lhes a "página em branco",de 400 metros, de um viaduto ferroviário na Avenida de Pádua/Rua da Centieira e o mote foi a sustentabilidade ambiental. Estabelecidas tais premissas, era dar largas à criatividade e à dinâmica entre todos..Em conversa zoom com o DN, Mikolaj, Fat Heat e Pauser são unânimes em reconhecer a importância do tema tratado "e o papel que a arte urbana pode assumir na transmissão desta mensagem." Para o checo Pauser, "o facto do nosso trabalho ter uma leitura imediata por parte do transeunte talvez ajude a uma consciencialização mais rápida do muito que ainda há para fazer em prol da sustentabilidade." E acrescenta: "Nesta matéria é minha convicção que muitas das boas práticas que já existiam foram abandonadas durante a pandemia. As pessoas falam muito sobre estas questões, as ONG"s promovem sua sensibilização, as escolas fazem muitas vezes um trabalho de educação ambiental, mas há hábitos demasiado arraigados. E se na Europa é mau, nos gigantes asiáticos, como a China ou a Índia, é mesmo desastroso.".Este sentido de responsabilidade social da arte urbana é partilhado pelos três. Para o polaco Mikolaj, a quem a formação em Ciências da Natureza torna particular sensível ao tema da sustentabilidade, " trabalhos como o nosso proporcionam a muita gente o primeiro contacto que alguma vez tiveram com as artes plásticas. Se lhes despertarmos esse gosto e começarem também a frequentar museus e galerias, melhor ainda.".Em Lisboa, como noutras cidades, o trabalho destes artistas conta quase sempre com a participação espontânea de quem passa, independentemente da técnica ser o graffiti ou a fotografia com realidade aumentada (como Pauser usa). Segundo o húngaro Fat Heat, "acontece por todo o lado. Mesmo que algumas perguntas nos possam parecer estúpidas, temos de perceber que estamos a intervir no espaço público e, como tal, nas vidas das pessoas. Temos de estar disponíveis para todas as perguntas e comentários.".O papel pedagógico de quem se dedica a este género artístico é, aliás, sublinhado por Mikolaj, que habitualmente faz palestras em escolas e bibliotecas sobre o tema: "Os jovens, em particular, têm uma grande curiosidade pelo nosso trabalho. Se nos for possível fazer algo de construtivo com essa curiosidade, se a canalizarmos para uma sensibilidade social e estética, estaremos no bom caminho.".E o trabalho em conjunto, embora nem sempre em simultâneo, como correu? "Conhecíamo-nos todos vagamente - diz Fat Heat - mas a parceria correu muito bem. Embora à partida, todos tivéssemos delineado o que queríamos fazer, neste tipo de trabalhos há sempre alguma coisa de imponderável. Por um lado, é uma obra colectiva e nunca sabemos como as pessoas se vão dar entre si. Por outro, estamos noutro país e outra cultura". Mas o balanço não poderia ser melhor. "Para além da comida ser ótima e os portugueses muito cordiais, o Parque das Nações é incrível, um lugar muito inspirador para um artista urbano.".O painel, que ficará concluído esta terça-feira, 29, é uma iniciativa da Embaixada da Polónia em Lisboa para assinalar o trigésimo aniversário do grupo Visegrad, que, para além deste país, integra a Eslováquia, Hungria e República Checa..A 4ª edição do Festival Muro (este ano submetido ao lema O Muro que nos (Re)une) conta com as participações de 60 artistas nacionais e internacionais (como os portugueses Odeith, Oker, Fedor ou Bordallo II), 25 intervenções de arte urbana nos pilares da Ponte Vasco da Gama, campos de basquetebol, empenas de prédios, atravessamentos pedonais, mas também duas exposições, duas instalações, um workshop de João Varela e várias visitas guiadas. Decorre de 3 a 11 de Julho, numa parede perto de si..dnot@dn.pt