Apesar de insistentemente interpelado por Catarina Martins (BE) e depois por Assunção Cristas (CDS), o primeiro-ministro manteve-se fiel ao argumentário previamente definido para defender a posição do Governo face às sucessivas necessidades de reforço de capital que o Novo Banco (NB) tem exigido ao Fundo de Resolução (entidade gerida pelo Banco de Portugal)..O NB, assegurou, não terá no Estado uma "torneira" (expressão de Catarina Martins) capaz de jorrar ilimitadamente milhões para suprir necessidades e contingências. O máximo ficou definido no contrato em que assentou a venda do NB pelo Estado à Lone Star: 3890 milhões para suprir contingências - e apenas sob a forma de empréstimo (a 30 anos), garantiu o chefe do Governo..Tanto Cristas como Catarina Martins desmentiram categoricamente esta visão do problema. Segundo asseguraram ambas, há um documento da Comissão Europeia que diz que o Estado terá de acorrer ao NB em qualquer situação - e sem limitações de montantes - se os "ratios" do banco descerem para níveis que exigiam compensação..Face às considerações - do BE, do PCP e do PEV - de que o melhor teria sido mesmo nacionalizar o banco, António Costa insistiu na ideia de que, caso se tivesse avançado por aí, o Estado já teria tido de meter cerca de nove mil milhões de euros no banco. Assim, acrescentou, a venda à Lone Star foi o melhor negócio possível - mas, reconheceu, feito apenas, pela forma como o Governo herdou o problema, numa lógica de "limitação de danos"..Costa voltou a insistir na ideia de que o Parlamento poderia desencadear uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) à forma como o Banco de Portugal (BdP) tem gerido o caso do Novo Banco (através do Fundo de Resolução). Revelou também muita curiosidade sobre a auditoria que o Banco de Portugal pediu à sua própria atuação em todo o processo que levou à resolução do BES (auditoria realizada pelo Boston Consulting Group e que o BdP mantém em segredo)..De manhã Carlos César já tinha remetido a ideia da CPI para a próxima legislatura. À tarde, no plenário, Ferro Rodrigues cortou cerce a ideia: as regras não permitem mais do que duas comissões de inquérito em simultâneo e já há três (EDP, Tancos e CGD). Portanto, só uma destas sendo encerrada é que se poderia criar uma nova..Outra instituição bancária presente no debate foi o Montepio. O chefe do Governo deu sinais de que está disponível para apertar o cerco ao presidente da associação mutulista, Tomás Correia. Vai fazê-lo com o governo a aprovar uma norma interpretativa da lei das associações mutualistas dizendo que o regulador do setor, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, tem mesmo a obrigação de verificar a "idoneidade" dos administradores de empresas. É algo que aquela entidade tem recusado fazer.."Que as pessoas venham à rua".Com o país a cumprir um dia de luto nacional pelas vítimas de violência doméstica, o tema antecedeu e atravessou o debate quinzenal. Primeiro, com um voto de pesar apresentado pelo presidente da Assembleia da República, aprovado por unanimidade, que considera "intolerável e inadmissível" que vários dos homicídios em contexto de violência doméstica tenham acontecido depois de as vítimas terem apresentado queixa, "sem que as instâncias competentes ou a sociedade lhes tenham prestado a proteção e a segurança que se impunha". "Temos, obrigatoriamente e urgentemente, de fazer mais e melhor", defendia o voto, que foi seguido por um minuto de silêncio em memória das vítimas deste crime..O tema haveria de voltar ao debate, com a socialista Isabel Moreira a defender que "o principal problema que assola as mulheres não está na lei". Para a parlamentar, a reforma das leis penais feita em 2015 "foi e é uma boa reforma", pelo que só "circunstâncias excecionais podem justificar novas modificações à lei". Isabel Moreira apontou um "incumprimento de obrigações internacionais", dado que a lei portuguesa não é clara a estabelecer a falta de consentimento como um elemento definidor do crime de violação (o que está previsto na Convenção de Istambul, de que Portugal é signatário). Isabel Moreira anunciou que o PS vai apresentar, já esta sexta-feira, um projeto de lei que "faz da ausência de consentimento um elemento tipo do crime de violação e de coação sexual, sendo a violência uma circunstância agravante"..Mas Isabel Moreira aproveitou também para criticar a "notícia de que o Governo vai submeter a estudo a criação de tribunais especiais para violência doméstica". "Que fique claríssimo: tais tribunais, ou de resto tribunais especiais para a corrupção e por aí fora são, flagrantemente inconstitucionais", defendeu a deputada, recusando "populismos penais animados pela compreensível revolta da população". Na resposta, Costa referiu que a intenção do governo não passa por criar tribunais especiais para julgar crimes de violência doméstica, mas de "estudar formas de ter em conta a especialização na avaliação deste tipo de criminalidade"..Já no final do debate, em resposta ao deputado do PAN, André Silva, o primeiro-ministro apelou à participação nas manifestações contra a violência e pela igualdade de género que estão marcadas para amanhã - "Que as pessoas venham à rua e que marchem" - e adiantou que ele próprio marcará presença..Pensões em 90 dias.Durante o debate quinzenal desta tarde, novamente interpelado pelo PCP sobre os atrasos na atribuição de pensões, com Jerónimo de Sousa a reafirmar que o Centro Nacional de Pensões chega a demorar dez a doze meses neste processo, o primeiro-ministro disse que tudo está a ser feito para que esse prazo seja reduzido para os 90 dias. "Então pronto, senhor primeiro-ministro, então estamos combinados...", foi a resposta de quem espera para ver do secretário-geral do PCP.