Novidades literárias não tiveram fim de ano 

As novidades literárias para 2022 são muitas e boas. A ficção portuguesa vai ter um ótimo ano e a não-ficção trará muitos ensaios nacionais e internacionais a que prestar atenção.
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Há muito que não acontecia na edição portuguesa a inexistência de um intervalo entre as novidades de um ano a terminar e as do que se seguem, mas foi o que aconteceu na passagem de 2021 para 2022, quando as editoras imprimiram até quase ao último dia livros novos e nos primeiros dias já o estão a fazer. Se em anos anteriores, os caixotes com livros que chegavam a partir do meio de novembro nem eram abertos pelos livreiros, designadamente nas grandes superfícies e lojas, não se sabe o que aconteceu desta vez. Exemplo dessa ausência de interrupção na edição está na saída a meio de dezembro de uma obra há muito ansiada, os Diários 1950-1962 de Sylvia Plath, e na reedição de outra, Renascer - Diários e Apontamentos 1947-1963, de Susan Sontag.

A segunda compreende-se, pois este ano vai ser em parte dominado por Sontag devido à publicação da sua biografia escrita por Benjamin Moser. Quanto à primeira, são 800 páginas fundamentais para quem aprecia a poeta que desapareceu jovem. Em ambos os livros, editados, respetivamente, pela Relógio D"Água e Quetzal, as entradas dos diários, que se aproximam nas datas dos seus registos, revelam os anos da adolescência das duas, da descoberta da vida sexual, da experiência universitária e da entrada no mundo intelectual e criativo de que foram nomes sonantes. A obra de Plath tem a novidade de incluir os textos que o marido, o poeta Ted Hughes, proibira ser revelados antes de 2013, e a organização da de Sontag coube ao filho, David Rieff. Para quem gosta da diarística, estão aqui duas boas doses de literatura.

As novidades literárias já divulgadas para 2022 parecem tornar este ano em muito igual ao anterior, quando milhares de volumes lançados após a reabertura das livrarias em março apresentaram um nível muito bom, às vezes mesmo excecional. É difícil fazer uma escolha que caiba em duas páginas, mas destaca-se para já os novos romances de autores portugueses: o mais recente Prémio Leya, As Pessoas Invisíveis, de José Carlos Barros; A Última Curva do Caminho de Manuel Jorge Marmelo, Madalena de Isabel Rio Novo, As Sombras de Uma Azinheira, de Álvaro Laborinho Lúcio e Um cão deitado à fossa, de Carla Pais.

Em janeiro irá lançar oito livros, entre os quais Breviário de Decomposição de Emil Cioran, com prefácio de Eduardo Lourenço; A Maçonaria, de John Dickie; Dez Mitos sobre Israel, de Ilan Pappé; Árabes - Uma História de 3000 Anos de Povos, Tribos e Impérios, de Tim Mackintosh-Smith; e uma tese de assassinato em vez de suicídio analisada em Stefan Zweig, Deve Morrer.

Logo a abrir o ano sairão dois thrillers: de Julia Navarro De Lugar Algum, que aborda o conflito árabe-israelita e o fenómeno da radicalização islâmica na Europa. O segundo é de um autor inédito em Portugal: Chris Whitaker com O Fim é o Princípio. Entre os autores portugueses estará Ana Cristina Silva com um retrato de Annie Silva Pais, Miguel Szymanski com uma história familiar verídica que vai do final do século XIX ao XXI, e Maria João Fialho Gouveia viaja até ao imaginário dos Templários .

A Quetzal continua a publica a obra de Jorge Luis Borges com O Livro dos Prazeres Inúteis, a de Roberto Bolaño com Chamadas Telefónicas, bem como Gulag de Anne Applebaum, e o Prémio Goncourt Mohamed Mbougar Sarr com A Mais Secreta Memória dos Homens. O mais aguardado está marcado para maio: Pessoa. Uma Biografia, de Richard Zenith. A Temas e Debates terá Uma História de Extremos de Dan Carlin e O Mundo Segundo A Física de Jim Al-Khalili.

Um dos primeiros lançamentos é a investigação As Duas Faces de Salazar, de Rui Carvalheira, que analisa o legado do ditador. Segue-se o romance histórico O Aliado Improvável de Daniel Pinto, passado na Segunda Guerra Mundial, bem como O Passageiro Misterioso de Louise Candlish, muito premiado na categoria de thrillers e policiais. Enquanto a Justiça Dorme, de Stacey Abrams, é outro livro a ler, que investiga as intrigas internacionais segundo o registo de thriller.

A aposta no romance envolve uma nova coleção intitulada "romances de guerra e paz", que incluem Jurek Becker com Jacob, o Mentiroso, de Domenico Starnone Vida Mortal e Imortal da Rapariga de Milão, da colombiana Llorena Salazar Masso Esta Ferida Cheia de Peixes. Um dos livros mais aguardados será o de Fernando Venâncio sobre o Acordo Ortográfico, além das novidades na coleção Livros Negros e Atlas Históricos. Neste caso, com destaque para o Atlas do Holocausto - A Execução dos Judeus da Europa 1939-1945, de Georges Bensoussan.

Não faltam novidades no grupo: a ASA lança o finalista do National Book Award, História de uma Fraude de E. Lockhart e Doce Tóquio de Durian Sukegawa. A Editorial Caminho publica O Adeus às Virgens de Alexandre Pinheiro Torres, Um Dia Lusíada de António Carlos Cortez e a autobiografia de Joshua Ruah, Um Judeu em Lisboa. A Casa das Letras desvenda os arquivos de Pio XII com a biografia de José Carvalho, as viagens de Joke Langens no Lisboa em 10 Histórias. A Oficina do Livro terá a Breve História do Afeganistão de Ricardo Alexandre e O Fenómeno Marcelino da Mata de Nuno Gonçalo Poças.

Na D. Quixote são muitas as novidades: Doramar ou a Odisseia do premiado Itamar Vieira Junior, Canción de Eduardo Halfon, a antologia 50 Anos de Poesia de Nuno Júdice, Los Vencejos de Fernando Aramburu, a publicação póstuma de textos de José Cutileiro Podia ter sido pior, ensaios de José Milhazes e de Francisco Rui Cádima, e o Retorno de um Rei de William Dalrymple.

O grupo editorial que adquiriu a 20/20 recentemente vai publicar mais de 600 títulos: quatro obras do Nobel da Literatura Abdulrazak Gurnah; o novo romance Mr. Loverman de Bernardine Evaristo, a continuação da trilogia de Leïla Slimani, o mais recente (e sempre polémico) romance de Michel Houellebecq, a biografia de Susan Sontag escrita por Benjamin Moser e a ciência de Carlo Rovelli com Helgoland. Dá-se o regresso de Manuel Vilas com Os Beijos e de Colson Whitehead com Harlem Shuffle. Também é reeditado o romance de João Tordo O Livro dos homens sem luz e sairá o seu novo, Naufrágio. A investigação biográfica está representada com As sete vidas de Saramago, de Miguel Real e Filomena Oliveira.

A editora começa o ano com o sucesso mundial Gente Ansiosa, de Fredrik Backman. Segue-se Violeta, o novo romance de Isabel Allende, o thriller O Sanatório, de Sarah Pearse, e A Mãe de Frankenstein de Almudena Grandes, a novela gráfica O Crespos de Adolfo Luxúria Canibal com ilustração de José Carlos Costa. Na Assírio & Alvim haverá um novo Fernando Pessoa, com a antologia Sobre a Heteronímia, coordenado por Richard Zenith e Fernando Cabral Martins. Na poesia, surgem Firmamento de Rui Lage e a antologia O Olhar Diagonal das Coisas de Ana Luísa Amaral.

A editorial vai publicar continuação do bestseller A Papisa Joana, de Donna Woolfolk Cross; Vender de Jordan Belfort, o autor de O Lobo de Wall Street, e O Adolescente de Dostoievski. A chancela Marcador vai editar A Morte de um Apicultor de Lars Gustafsson.

Continua a publicação de Elena Ferrante com As Margens e a Escrita, o novo de Jaime Rocha, Anotação do Mal, Irradiante, o Negro de Rui Nunes, Não-Coisas de Byung-Chul Han, Eu, Robô de Isaac Asimov, O Fim do Mundo Clássico: De Marco Aurélio a Maomé de Peter Brown, Herbarium de Emily Dickinson, O Spleen de Paris de Charles Baudelaire, Obras Escolhidas, de Ana Teresa Pereira. Continua a reedição de José Cardoso Pires com Jogos de Azar e de Louise Glück com Pradarias.

Entre os vários títulos estão as biografias de George Lucas por Brian Jay Jones; Diva - a vida oculta de Maria Callas de Lyndsy Spence, e A Chanceler: A Notável Odisseia de Angela Merkel de Kati Marton; bem como 2010: Odisseia Dois de Arthur C. Clarke.

Começa o ano com Poetas de Dante, coordenado por Alberto Manguel e que coloca 34 poetas de língua portuguesa a responder aos cantos do Inferno. Segue-se Odes Didácticas, a antologia poética de João Pedro Grabato Dias, A Afirmação Negra e a Questão Colonial. Textos, 1919-1929 de Mário Domingues, o livro de viagens O Africano da Gronelândia de Tété-Michel Kpomassie, uma coletânea de ensaios literários de David Mourão-Ferreira.

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