Notáveis do CDS exigem a Cristas um partido "focado"
"O CDS não me parece muito focado", afirmou António Lobo Xavier no programa Circulatura do Quadrado, da TVI, um dia antes do Conselho Nacional do CDS, que vai analisar o mau resultado nas eleições europeias de domingo, que se quedou pelo 6,21% e apenas um eurodeputado eleito. Como o antigo líder parlamentar centrista, o porta-voz da Tendência Esperança e Movimento (TEM), Abel Matos Santos, irá levantar a voz na reunião desta noite para questionar o rumo da líder.
Lobo Xavier foi bastante duro para a liderança do CDS ao dizer que não se lembra de cinco ideias-chave que tenham sido defendidas nos últimos tempos. E frisou que se o partido tem "a preocupação de ocupar o espaço à direita", não é por manter o discurso sobre o 25 de novembro e sobre Sócrates ter levado o país à bancarrota que vai ao encontro do eleitorado do CDS. "Não responde às pessoas moderadas da direita", garantiu.
Para o também conselheiro de Estado, o discurso do CDS não resolve o problema das pessoas com baixos salários, não diz nada sobre os problemas ambientais e não diz nada ao país urbano e aos jovens. "Onde está a abstração é preciso um partido com identidade e valores de direita e que tenha resposta para os problemas", defendeu Lobo Xavier. O antigo líder parlamentar sugeriu que o partido aproveite mais a eficácia que Assunção Cristas tem na rua, no contacto com as pessoas.
Também o ex-deputado Filipe Lobo D'Avila, em declarações ao jornal i, atribuiu o mau resultado nas europeias a um problema de "discurso" e de posicionamento estratégico. "O CDS não pode ser só Lisboa. Tem de ser um partido nacional. Deve ser um partido interclassista e de causas". Caso contrário, admitiu, poderá ter no futuro um resultado "desastroso".
Ao DN, o porta-voz do TEM já tinha feito um diagnóstico semelhante. "Já esperávamos que isto fosse acontecer e alertámos para isso", afirma ao DN Abel Matos Santos.
O TEM nunca deixou de criticar a líder, por isso, agora, o desafio a Assunção Cristas é claro: "Ou continua com esta forma de liderança centrada em si própria, que é um caminho errado, ou faz um exame de consciência e ouve as críticas construtivas antes de ir a eleições", diz porta-voz desta ala conservadora do CDS.
Abel Matos Santos critica a linha ideológica que sem sido seguida por Assunção Cristas, que diz ser a de aproximação ao centro, e tenciona confrontá-la no Conselho Nacional. "É fundamental que no espetro político exista um CDS que interprete sem dúvidas o que é a democracia-cristã e os princípios fundadores do partido", garante o democrata-cristão
E insiste: "O encostar ao centro levou ao pior resultado de sempre". Uma alusão ao período quando o CDS ficou reduzido a quatro mandatos no Parlamento, e era chamado do partido do "táxi". O pior resultado foi em 1987, quando Cavaco Silva conseguiu maioria absoluta. O CDS ficou apenas com quatro deputados, com 4,4% dos votos. Abel Matos Santos entende que se o partido continuar a seguir a mesma estratégia poderá cair novamente numa situação similar. "Se o partido anda à procura dos votos do PS, PSD e do BE não conseguirá crescer", frisa.
O porta-voz do TEM quer que a direção "tire ilações do mau resultado" e deixe de posicionar o partido ao centro. "Para se mudar a situação tem de se ir buscar votos aos 75% dos portugueses que não votaram ou votaram branco e nulo. É aqui que está o eleitorado do CDS".
Abel Matos Santos dá exemplos de más opções da líder. A "guerra" dos professores e as passadeiras que os membros da junta de freguesia de Arroios quiseram pintar com a bandeira da comunidade LGBTI. "O partido começa a não ter uma doutrina e o nosso eleitorado não gosta disto. Não é pela líder do partido ser popular e cozinhar atum num programa da manhã que ganhamos votos", diz, numa alusão à presença de Cristas no programa de Cristina Ferreira, na Sic.
O TEM exige, por isso, uma mudança de rumo. "A líder tem de ir a eleições, mas é preciso perceber que o partido é mais do que o sound byte. Ou sermos os moderninhos ao centro, quando o centro já está ocupado".