"Nós queremos Trump"? Presidente americano usa informação falsa para apoiar 'coletes amarelos'
"O Acordo de Paris não está a correr assim tão bem para Paris. Protestos e tumultos por toda a França". Foi desta forma que o presidente dos Estados Unidos da América começou um tweet publicado este sábado sobre as manifestações dos 'coletes amarelos' em França, que Donald Trump associa claramente a protestos contra as medidas para travar as alterações climáticas. Um acordo que Trump rasgou depois de chegar ao poder, por duvidar das conclusões científicas que o suportam.
Agora, o presidente dos EUA elogia e utiliza os protestos em França, que começaram há um mês motivados pela criação de um imposto sobre os combustíveis e que se converteram num ataque ao presidente Macron, para fortalecer os seus próprios argumentos. "As pessoas não querem pagar somas enormes de dinheiro, grande parte para países do terceiro mundo (que têm lideranças questionáveis), para talvez proteger o ambiente", defendeu Trump, que acaba a sua mensagem a dizer que os manifestantes em Paris gritam "Nós queremos Trump" e a declarar o seu amor a França.
Os boatos de que 'coletes amarelos' pedem um líder como o americano não são de hoje, já tinham sido espalhados em protestos nas semanas anteriores. Aparentemente, Donald Trump baseia as suas afirmações numa mensagem de Charlie Kirk, um ativista de direita que fundou em 2012 a Turning Point USA, uma organização para ensinar aos jovens os "verdadeiros valores do mercado livre".
No início desta semana, Kirk publicou no Twitter uma mensagem onde acusava a comunicação social de encobrir a "rebelião da classe média contra o marxismo cultural", dizendo que a "Europa está a arder" e que nas ruas de Paris se ouvia "Nós queremos Trump". Frase que o presidente Trump partilhou com os seus 56 milhões de seguidores e que Charlie Kirk repetiu num artigo de opinião publicado esta sexta-feira na Fox News, onde volta a afirmar que "alguns dos protestantes franceses foram ouvidos a cantar 'Nós queremos Trump'".
A questão, como explica por exemplo o serviço de fact checking da France Press, é que Kirk, tal como outros media e o próprio Trump, parecem ir beber a um vídeo gravado a meio deste ano em Inglaterra, numa ação de protesto da extrema-direita. Um facto, aliás, que dezenas de pessoas fizeram questão de notar em comentários ao tweet do presidente americano, onde aproveitam para garantir que não se ouvem hoje elogios a Trump em Paris.