Nó górdio europeu

Publicado a
Atualizado a

Desde 2009 que a UE tem remendado, em vez resolver, o seu problema estrutural: ancorar a união monetária (UEM) numa verdadeira união política, garantindo segurança aos cidadãos, previsibilidade aos agentes económicos e uma perspetiva coerente de prosperidade alargada. A Alemanha assumiu uma liderança europeia inquestionável e indisfarçável, confundindo, contudo, prudência com egoísmo míope. Agora o projeto europeu começa a estilhaçar-se no seu núcleo interno, na incapacidade de Berlim encontrar respostas para todas as outras crises que, entretanto, se juntaram numa combinação explosiva: a dura reação russa ao avanço da NATO, a maré humana de milhões de refugiados em êxodo para o Centro da Europa, e o desafio terrorista do "Estado Islâmico". Na questão dos refugiados, a surpreendente generosidade da chanceler Merkel encontrou um muro de hostilidade no Leste Europeu (Polónia e Hungria à cabeça), e nenhum entusiasmo a Ocidente, como as declarações dos chefes de governo de Paris e Haia o comprovam. Berlim tenta segurar as vagas de desesperados nos campos de primeira linha, na Turquia, no Líbano e na Jordânia. Mas para isso tem de prometer dinheiro e recompensas políticas à Turquia, o que suscita uma reação negativa de Paris (contrária à entrada dos turcos na UE), enfraquecendo também a "coligação" contra o EI, de que Ancara suspeita, para além de levantar a desconfiança de Moscovo, que não simpatiza com uma aproximação germano-turca. Com uma união monetária que estiola no Sul. Com Schengen agonizante no Centro e no Leste, o projeto europeu transformou-se num trágico nó górdio, à espera de um génio que o desate ou, o que é mais provável, de um(a) louco(a) capaz de erguer a espada que o corte. Sem olhar às terríveis consequências que se lhe seguirão.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt