O que se passa com Nicole Kidman? A atriz australiana pode ter feito a irremediável travessia no deserto, mudanças de visual duvidosas e escolhas menos felizes, mas em 2018 decidiu ser uma das atrizes mais ativas em Hollywood. O que agora vamos ver do seu trabalho é para deixar qualquer um de queixo caído..Se janeiro é o seu mês nos ecrãs portugueses, importa sublinhar que continua na lista dos filmes mais vistos, como super-heroína aquática em Aquaman, de James Wan, uma demonstração da sua versatilidade. Kidman é uma deusa do mar num filme com espalhafato a mais. Esta aposta da DC Comics foi um triunfo comercial e é sempre positivo estar envolvida num sucesso à escala planetária..Mas é neste final de janeiro que a kidmania ganha real expressão com dois papéis, um deles com isca para o Óscar. Em Novos Amigos Improváveis, de Neil Burger, remake de Amigos Improváveis, o filme francês que conquistou Portugal em 2011, interpreta um papel secundário, o que é o mesmo que dizer que está lá para conferir poder de elenco a um filme dominado pela dupla Kevin Hart e Bryan Cranston. Na América, neste fim de semana, surpreendeu tudo e todos e teve uma performance nas bilheteiras transcendente, tendo sido o primeiro filme do estúdio STX a firmar-se como líder na semana de estreia, o que não deixa de ser irónico por ser um dos últimos filmes desenvolvidos por Harvey Weinstein..E é em Destroyer - Ajuste de Contas, de Karyn Kusama, que o caso Kidman se torna mais sério. A atriz foi nomeada aos Globes de Ouro e, para a semana, está na linha da frente para fazer companhia a Olivia Colman e a Glenn Close nas nomeações aos prémios da Academia. O filme fez algum burburinho no Festival de Toronto, embora seja a sua transformação física que tenha chamado verdadeiramente a atenção. O filme é um thriller à base de flashbacks sobre uma agente policial que depois de um trabalho de infiltração de muitos anos nunca mais voltou a ser a mesma. Trata-se de uma Nicole Kidman em modo de "número" de transformação física que a mostra cansada, desfigurada e menos jovem. Claro que impressiona, mas não deixa de ser "número". Ainda assim, o que conta na sua interpretação são as sequências onde a vemos mais jovem e, aí sim, não há "número"..Destroyer está a ser rebocado pelo efeito Nicole Kidman, mas onde esta brilha sem truques de maquilhagem é em Boy Erased, de Joel Edgerton, com Lucas Hedges e Russell Crowe, filme em que interpreta uma mãe religiosa numa história sobre centros de reorientação sexual e onde a sua personagem envia o seu filho para um desses centros para deixar de ser homossexual. Uma história verdadeira na qual a atriz de De Olhos Bem Fechados é de uma contenção emocional absolutamente espantosa. Nesta temporada dos prémios, também aqui Nicole foi várias vezes nomeada na categoria das atrizes secundárias. Neste engarrafamento de filmes oscarizáveis, o mercado português ainda não tem estreia confirmada para o filme e é bem possível que apenas chegue via home cinema..E como não há fome que não dê em fartura, em 2019 vamos continuar a vê-la na série afamada Big Little Lies, onde continua a contracenar com Shailene Woodley e Reese Witherspoon. Neste vendaval de reinvenção, a televisão não a vai largar. Na forja está The Undoing, a tal série com Hugh Grant, e também The Expatriates, projeto ainda em pré-produção que a vai levar para Hong Kong..Com tudo isto, já esquecemos aquele período recente em que fazia cinema a mais e sempre supérfluo, como Stoker (2013), de Park Chan-wook, e The Railway Man - Uma Longa Viagem, de Jonathan Teplitzky. Hoje, em 2019, continua a ser uma das atrizes mais trabalhadoras de Hollywood e cada vez mais "atriz de composição". Venha a vaga Nicole Kidman.