"A Madonna vive em Lisboa!? Nem acredito! Que interessante... É por causa do filho? Tão fixe...", diz-nos Natalie Portman mal chega à ronda de entrevistas do filme de Brady Corbet, o perturbante Vox Lux, um dos mais intrigantes filmes independentes americanos que vamos ver em 2019. Corbet, que está ao seu lado, dá corda ao fascínio lisboeta: "Come-se tão bem lá. Amo Lisboa!".Em Vox Lux, Portman interpreta uma cantora pop de música eletrónica para adolescentes, uma espécie de Miley Cyrus. Ela canta, dança e comporta-se como uma estrela diva cheia de tiques. Uma interpretação tão em modo de tour de force que terá ficado à porta das honrarias da temporada dos prémios.."Tive sorte de antes de ler o argumento ter falado muito com o Brady. Isso ajudou-me muito, sobretudo para perceber como este filme aborda questões muito fortes na América, como os ataques de terrorismo e os massacres nas escolas. A minha personagem e a sua experiência de vida acabam por ser um veículo para contextualizar isso mesmo. Ou seja, como podemos relacionar as notícias dos media com a cultura pop", começa por explicar a atriz que regressou em 2017 depois de ter voltado a ser mãe.."Vivemos tempos muito conturbados. Quis inventar ataques terroristas e não reportar-me a casos verdadeiros porque não quis explorar a miséria das pessoas. Caso contrário, tinha referido Columbine ou o Bataclan, em Paris. Mas sei que o tom do filme vai deixar muita gente à toa. O que é controverso é que o meu filme é entretenimento!", diz o realizador, enquanto Natalie sorri. E continua a sorrir quando se torna óbvio que a celebridade a quem dá vida pode ter rimas com o seu estatuto de vedeta de cinema: "Estou muito habituada à minha situação de pessoa famosa. Sabe, a maior parte das vezes as pessoas não me reconhecem na rua." "A sério?! não acredito!", pergunta espantado Brady..A atriz, muito bem disposta, prossegue: "Brady, sou uma rapariga de cabelo escuro muito pequenina e discreta. Sabes que mais? As pessoas já nem se olham na rua... Mas quando me abordam é para falar deLeon - O Profissional. Pronto, às vezes também mencionam Black Swan ou Star Wars, mas não se compara a Leon." Brady fica de boca aberta e reconhece que desconhecia o grau de culto do saudoso filme de Luc Besson, estreado em 1994. Mas será que Natalie ainda fica fascinada na presença de uma outra celebridade? As estrelas têm também episódios de "starstruck"? "Sim, claro! Olhe, por exemplo, com a Oprah! Devido ao Aniquilação conheci astronautas e fiquei doida. É fascinante imaginar como alguém viaja até ao espaço. Além do mais, fico sempre fascinada por quem faz coisas admiráveis e me deixa inspirada", responde de pronto..Natalie, aos 37 anos, continua a ser uma das atrizes mais procuradas em Hollywood, mesmo apesar de apostar em papéis em cinema independente e de viver grande parte do tempo em Paris, onde tem a sua família. Diz-nos também que não é nada fã do Método, onde há que ficar com a personagem o tempo todo: "Se adotasse o Método como poderia alguma vez ser uma assassina em cinema? E também não me gosto de comparar com as personagens que represento. Esta cantora diz que é uma rapariga privada num mundo público e também não é essa a minha abordagem perante a fama. Obviamente que não sou completamente privada!".Quem vir este filme vai perceber que ser ídolo de música é completamente diferente de ser uma estrela de cinema. Na visão de Brady, o cliché das drogas, da afetação e da problemática relação com os jornalistas, parece ser mais sublinhado. Ele próprio explica esse ponto de vista: "Uma estrela de cinema trabalha que se desunha numa rodagem mas depois pode parar e descansar, enquanto uma pop star está sempre ativa. O tempo que uma pop star dispõe é muito valioso. Basta estar presente e já está a render dinheiro para uma série de pessoas... Hoje em dia, há uma pressão tremenda para um artista da música fazer centenas de espetáculos por ano. É uma loucura! Todos sabemos que já ninguém fatura com os discos, apenas nos concertos. E têm de estar sempre a ensaiar e tudo o mais... É muito intenso.".Intenso foi também o que Natalie fez em termos de preparação para este papel. Com a ajuda do marido coreógrafo teve de dançar o que vemos nos concertos da personagem, além de aprender as canções que Sia preparou: "Gostaria de ter tido mais tempo para ensaiar, mas foram ainda algumas semanas. Com as dançarinas tive apenas um dia de ensaio, eram todos muito profissionais e excelentes! Se estava numa posição errada, elas compensavam logo. Estão muito habituadas. E as sessões de gravação da música também foram brutais! Mas senti-me mesmo uma pop star, foi muito divertido! Entrei realmente na personagem, sobretudo com a ajuda das unhas postiças, embora não me tenha inspirado em nenhuma cantora em concreto. Mas nunca estaria pronta para uma digressão, isso é que não! E confesso, gostei daquelas canções! Até a minha bebé já sabe os refrões!".Além de Natalie Portman, Vox Lux é protagonizado por Jude Law. Um par que já contracenou por quatro vezes - quem não se lembra do momento Closer - Perto Demais, em 2004? A atriz é fã confessa do seu colega britânico: "É espantoso já termos estado juntos em cinema tantas vezes! Ter o Jude neste filme foi um presente incrível do Brady. Ajudou muito conhecermo-nos tão bem. Tem que ver com um nível de conforto e aqui nem ensaiámos nada. Sei lá, é chegar ao plateau e sentir uma sensação de conforto e de confiança com as pessoas com as quais tens de contracenar... Senti-me segura para tentar tudo! Isso foi tão importante. A primeira cena que filmámos foi logo o clímax quase final do filme, enfim, foi surreal! Se fosse com um ator com o qual não tivesse aquele nível de confiança, seria embaraçoso! Neste filme arrisquei imenso. Mas nunca tive tanta liberdade... Num outro filme de Hollywood não poderia ter feito tantos takes." E de referir que Vox Lux foi filmado em película, Brady Corbet não acredita em câmaras digitais: "O celuloide é que traz a verdade evidente.".E como estamos perto da euforia dos Óscares, a oscarizada Natalie Portman falou também do que significa ter um Óscar, ganho em Black Swan: "Permitiu-me continuar a viver outras vidas, vidas de sonho. Mas foi divertido, foi! Todavia, não tenho o Óscar guardado em nenhum sítio especial da minha casa, nada de adorar falsos ídolos."