Não. Não foi o Covid que matou o comércio local!
Em casa.
Agora compro tudo em casa.
Desta vez foram uns pares de calças... e lá vou eu ter que trocá-las.
A "quarentena" trocou-me os algarismos da balança e não há volta de bicicleta que resista! Adiante...
Em casa! Ou a partir de casa, talvez seja mais correcto. Comprar a partir de casa: sim ou não?
E estando o Natal aí à porta... o que oferecer? O que comprar? E ainda mais pertinente este ano: como comprar? Sim! Roupa no Natal. Todos o fazemos... nem que seja para aquele presente a que nos faltou um rasgo de criatividade.
Sou adepto do sim, comprar de casa, por motivos de segurança. Mas também sou adepto do não, porque se olharmos para o fenómeno do consumo com a agulha nos espaços tradicionais, estes saem a perder. E muito!
Até já li algures que o Governo tem poder para cancelar o Natal! What? Really? Dará mesmo para cancelar? Enfim...
Cancelando ou não, Natal é Natal! E o Natal transporta-me sempre para as vivências do passado. Eu vivo num sítio pequeno, e quando digo pequeno, é mesmo pequeno! Uma mercearia, 2 cafés e um clube de futebol. Daqueles do tipo Liga dos Últimos... onde no dia de Natal as famílias se reuniam na sede do clube depois de almoço para tomar as suas bicas e as suas amêndoas amargas e... exibir as roupas novas!
Antes de ser eu a escolher, lá ia com a minha mãe à Cenoura da baixa. Que beto! Aquelas roupinhas todas certinhas e coloridas... que eram na verdade compradas na Benetton portuguesa dos anos 80. Nem era assim tão mau. Ou era?
Quando passei eu a escolher, lá me metia no autocarro com o gang das artes e em romaria entrávamos na Porfírios! O mundo da moda alternativa! Quase que arrisco a dizer que o guarda-roupa do "5º Elemento" podia ter sido fornecido por este marco da moda lisboeta, para verem o quão alternativa uma fatiota saída da Porfírios podia ser.
Duas entradas que davam para ruas diferentes, corredores estreitos, escadas em caracol, salas escuras, luzes coloridas, a fazer lembrar um ambiente de uma discoteca e... muita, muita gente à porta. Um mundo! Por dentro e por fora. E ir à baixa nas quadras festivas era ainda mais espectacular.
Chegou a dizer-se que a Porfírios era, na ápoca, uma das poucas ligações que Portugal tinha com o mundo, num Portugal que vivia de mentalidades provincianas.
E agora? Tão ligados que estamos ao mundo que vamos todos para as marcas globais, vestimos todos o mesmo, somos todos iguais.
Vamos todos aos mesmos sítios, compramos todos nas mesmas lojas... e à distância de um clique.
Isto para não falar do Natal em tempos de Covid... pois ir à baixa, ir a ao comércio tradicional é um desespero. Tudo vazio. Vazio de gente.
É um desespero, mas o certo é que devíamos ir.
E reparem que não foi o Covid que matou o comércio local, pois não?
Designer e Director do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia