A chegada às salas portuguesas do sexto filme da saga Missão Impossível, protagonizada por Tom Cruise desde o princípio (há 22 anos), justifica a pergunta: este ainda dá conta do recado? Diga-se que, do nosso lado, as notícias não podiam ser mais entusiasmantes. Tom Cruise não só dá conta do recado como o faz com a mesma intensidade de desempenho, físico e psicológico, a que nos habituou. Justamente, o que distingue Ethan Hunt, por exemplo, de um James Bond é que a sua ação física e consciência moral trocam a elegância imanente a esse tipo de herói desprovido de superpoderes por aquilo que o define enquanto ser humano - as suas fragilidades e o sentido de esforço. É importante não desvalorizar, de modo algum, este aspeto..Aquilo que Cruise, do alto dos seus 56 anos, deixa bem claro na sua composição da personagem é que cada etapa do trabalho de salvar o mundo se traduz mesmo em qualquer coisa aflitiva e diligente, sem preocupações de estilo de performance (esse está lá naturalmente). Por isso, um dos grandes atributos do novo filme continua a ser a "verdade do corpo", essa persistência do ator em executar a maioria das cenas arriscadas, como que procurando a plenitude orgânica das imagens do cinema de ação, que hoje se confundem cada vez mais com videojogos..Dito isto, Missão: Impossível - Fallout volta a mostrar - e aqui o verbo aplica-se com muita propriedade - que não há impossíveis para Tom Cruise, juntamente com a dupla maravilha do IMF, os peritos em tecnologia Simon Pegg e Ving Rhames. De novo assinado por Christopher McQuarrie (responsável pelo filme anterior, de 2015, que tinha por subtítulo Nação Secreta), aqui reúne-se algum do elenco já conhecido, como a agente britânica interpretada por Rebecca Ferguson, o vilão de Sean Harris, e ainda, surpreendentemente, Michelle Monaghan, na pele da ex-mulher do protagonista, que não víamos desde Missão Impossível: Operação Fantasma (2011). Quem se estreia nestas andanças, no papel de um agente da CIA que vai acompanhar Cruise na missão, é Henry Cavill, o ator que normalmente usa a capa do Super-Homem... Desta vez, perde protagonismo para o herói da saga..Esta é uma sequela cujo enredo se vai desmontado quase ao mesmo ritmo da ação, com diversas manobras, reservando para o final nada menos do que a cereja em cima do bolo. O que precisamos de saber é que no âmago de cada cena de perseguição - seja de moto, carro, a pé ou de helicóptero - está um só objetivo: recuperar três esferas de plutónio que caíram nas mãos erradas. Como sempre, e apesar das diferenças que existem entre todos os filmes da franchise, a corrida contra o tempo faz que este seja aproveitado numa dimensão espetacular. E aí, para todos os efeitos, Missão: Impossível - Fallout é dos melhores exemplos de aparato visual da série, que funciona em excelente articulação com a dinâmica narrativa. Será mesmo possível um filme de ação combinar o melhor espetáculo de ação coreográfica com uma boa escrita? Sem dúvida..Apesar do pessimismo causado pelo excesso de sequelas que, sobretudo nesta época do verão, dão à costa nas salas de cinema, há que dizer com todas as letras que o novo Missão Impossível está aí para provar que é muito mais do que uma máquina de fazer números (a estreia já alcançou os 133 milhões de euros a nível mundial). O que faz resistir a sua grande qualidade é a intrínseca consciência de um modelo clássico, um "fazer à moda antiga" que se insinua por detrás do virtuosismo e da sofisticação técnicos. E a âncora desse modelo é nada mais nada menos do que o herói clássico, tão bem assumido por Tom Cruise.
A chegada às salas portuguesas do sexto filme da saga Missão Impossível, protagonizada por Tom Cruise desde o princípio (há 22 anos), justifica a pergunta: este ainda dá conta do recado? Diga-se que, do nosso lado, as notícias não podiam ser mais entusiasmantes. Tom Cruise não só dá conta do recado como o faz com a mesma intensidade de desempenho, físico e psicológico, a que nos habituou. Justamente, o que distingue Ethan Hunt, por exemplo, de um James Bond é que a sua ação física e consciência moral trocam a elegância imanente a esse tipo de herói desprovido de superpoderes por aquilo que o define enquanto ser humano - as suas fragilidades e o sentido de esforço. É importante não desvalorizar, de modo algum, este aspeto..Aquilo que Cruise, do alto dos seus 56 anos, deixa bem claro na sua composição da personagem é que cada etapa do trabalho de salvar o mundo se traduz mesmo em qualquer coisa aflitiva e diligente, sem preocupações de estilo de performance (esse está lá naturalmente). Por isso, um dos grandes atributos do novo filme continua a ser a "verdade do corpo", essa persistência do ator em executar a maioria das cenas arriscadas, como que procurando a plenitude orgânica das imagens do cinema de ação, que hoje se confundem cada vez mais com videojogos..Dito isto, Missão: Impossível - Fallout volta a mostrar - e aqui o verbo aplica-se com muita propriedade - que não há impossíveis para Tom Cruise, juntamente com a dupla maravilha do IMF, os peritos em tecnologia Simon Pegg e Ving Rhames. De novo assinado por Christopher McQuarrie (responsável pelo filme anterior, de 2015, que tinha por subtítulo Nação Secreta), aqui reúne-se algum do elenco já conhecido, como a agente britânica interpretada por Rebecca Ferguson, o vilão de Sean Harris, e ainda, surpreendentemente, Michelle Monaghan, na pele da ex-mulher do protagonista, que não víamos desde Missão Impossível: Operação Fantasma (2011). Quem se estreia nestas andanças, no papel de um agente da CIA que vai acompanhar Cruise na missão, é Henry Cavill, o ator que normalmente usa a capa do Super-Homem... Desta vez, perde protagonismo para o herói da saga..Esta é uma sequela cujo enredo se vai desmontado quase ao mesmo ritmo da ação, com diversas manobras, reservando para o final nada menos do que a cereja em cima do bolo. O que precisamos de saber é que no âmago de cada cena de perseguição - seja de moto, carro, a pé ou de helicóptero - está um só objetivo: recuperar três esferas de plutónio que caíram nas mãos erradas. Como sempre, e apesar das diferenças que existem entre todos os filmes da franchise, a corrida contra o tempo faz que este seja aproveitado numa dimensão espetacular. E aí, para todos os efeitos, Missão: Impossível - Fallout é dos melhores exemplos de aparato visual da série, que funciona em excelente articulação com a dinâmica narrativa. Será mesmo possível um filme de ação combinar o melhor espetáculo de ação coreográfica com uma boa escrita? Sem dúvida..Apesar do pessimismo causado pelo excesso de sequelas que, sobretudo nesta época do verão, dão à costa nas salas de cinema, há que dizer com todas as letras que o novo Missão Impossível está aí para provar que é muito mais do que uma máquina de fazer números (a estreia já alcançou os 133 milhões de euros a nível mundial). O que faz resistir a sua grande qualidade é a intrínseca consciência de um modelo clássico, um "fazer à moda antiga" que se insinua por detrás do virtuosismo e da sofisticação técnicos. E a âncora desse modelo é nada mais nada menos do que o herói clássico, tão bem assumido por Tom Cruise.