A NATO faz 70 anos em 2019. É uma história de sucesso para continuar?.Seguramente. A NATO é uma organização na qual repousa a defesa e a segurança de Portugal e da Europa até aos dias de hoje. Foi graças à NATO que foi contida a URSS e continua tão atual como quando foi criada..A Rússia está a ressurgir com grande força....A implosão do império soviético não significa que tenham acabado os desafios e ameaças à Europa. Basta perguntar aos países do anterior Leste Europeu - Bálticos, Polónia, Hungria, Roménia, Bulgária - o que pensam do chamado perigo russo. A Rússia já não é potência global mas tem o segundo maior armamento nuclear do mundo. E a NATO foi a primeira organização a que os países do Leste quiseram aderir logo que reganharam a liberdade e a democracia. Só depois quiseram aderir à UE..A carta de demissão do general Jim Mattis como líder do Pentágono revela que Trump rompeu com as posições em que assenta uma aliança como a NATO. Isso será reversível com um novo presidente dos EUA?.Temos de saber distinguir entre a atual administração e a posição dos EUA em relação à Aliança. A recente demissão do general Mattis tem sobretudo que ver com a retirada das forças americanas da Síria, que não é uma operação da NATO....Mas também vão reduzir a metade a presença no Afeganistão..Sim. Mas a retirada dos EUA da Síria, ao que se sabe, foi a pedido de um aliado da NATO, a Turquia..Contra a posição dos conselheiros de segurança de Trump, a começar no Pentágono..É verdade. Penso que é uma questão de política interna, porque o presidente Trump prometeu na campanha - como já Obama tinha prometido e não cumpriu - reduzir as forças americanas no Médio Oriente e no Afeganistão. Mas isto não põe em causa a indispensabilidade da NATO para a defesa da Europa e do Ocidente..A NATO consegue compatibilizar o que vê como crescente ameaça militar da Rússia com o discurso de apaziguamento da administração Trump face a Moscovo?.A NATO tem procurado, desde o fim da Guerra Fria, manter uma parceria de cooperação com a Rússia, que foi afetada com a ocupação da Crimeia e a atividade no leste da Ucrânia. Mas a NATO não desistiu de querer manter uma colaboração e uma parceria com a Rússia..Mas com a Rússia a aumentar a presença militar junto à Ucrânia, que resposta pode dar a NATO em caso de conflito no Leste?.Esperemos que não haja novo conflito no Leste e que a capacidade de dissuasão da NATO consiga diminuir as tensões. Não devemos confundir decisões parcelares da administração americana com os objetivos da NATO. Aliás, já com Trump, os EUA têm procurado que os aliados invistam mais e atinjam o objetivo de despender 2% do PIB em despesas de segurança e defesa. Agora, é óbvio que decisões da atual administração americana incomodam países europeus como a França e Alemanha..A forma como os EUA ignoram os europeus na Síria e no Afeganistão, onde Portugal tem tropas, terá consequências na NATO?.A confiança mútua entre os aliados não foi afetada. Uma coisa são afirmações da Casa Branca face à Síria e à diminuição de forças no Afeganistão, outra é a colaboração que continua a existir em termos de segurança, defesa e de operações de paz entre os EUA e os aliados europeus - que nem sempre são suaves em relação aos EUA. A NATO é essencial e incontornável para a defesa e a segurança de um país europeu e atlântico como é Portugal, que não tem alternativa à NATO para a sua defesa e segurança. Não é certamente com a fantasia da defesa europeia que se vai substituir a NATO..Que desafios para os próximos anos? São previsíveis novos alargamentos?.Os desafios têm que ver com a defesa e a segurança da Europa, do Atlântico Norte e do Mediterrâneo, como o combate ao terrorismo e às ciberameaças. A NATO tem de estar preparada para responder a qualquer ameaça que possa afetar os seus membros. E não podemos esquecer-nos de que, com o Brexit, o Reino Unido - como potência nuclear que é e membro permanente do Conselho de Segurança - vai seguramente ganhar nova centralidade relativamente à Aliança, porque não é seguramente a cooperação estruturada em Defesa chamada PESCO que se iniciou agora na Europa que nos vai proteger, sobretudo a Portugal, de ameaças que possamos ter no espaço europeu e atlântico. Quanto a novos alargamentos, há vários candidatos à espera, mas, como sempre, têm de ser ponderados tendo em conta parâmetros políticos, estratégicos, de coesão da própria Aliança Atlântica - e têm de ser aceites por unanimidade por todos os membros. São negociações difíceis, mas a NATO não é uma organização fechada.