Nacionalistas da Córsega em festa após eleição inédita de três deputados

Onda de resultados históricos começou há dois anos com vitória nas regionais. Um dos representantes agora eleitos pôs fim a uma longa dinastia familiar política que mantinha o assento parlamentar desde o início do século XX.
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É uma estreia para o movimento nacionalista Pè a Corsica (Pela Córsega), que nunca tinha conseguido eleger nenhum representante para a Assembleia Nacional de França, país do qual quer ser independente. Na segunda volta das legislativas, no dia 18, conseguiram eleger não um, mas três deputados - Paul-André Colombani, Jean-Félix Acquaviva e Michel Castellani - dos quatro a que a Córsega tem direito.

"Os corsos decidiram hoje de forma esmagadora que iriam escrever em conjunto uma nova página desta ilha", disseram Jean-Guy Talamoni e Gilles Simenoni, os líderes do Pè a Corsica, na noite da segunda volta. "A vaga nacionalista terá consequências além-mar. Penso que em Paris terão de colocar esta noite uma série de questões e concluir que ter tratado durante um ano e meio com desprezo a decisão dos corsos em 2015, de não ter aberto um diálogo sério com os representantes da Córsega, foi um erro político", acrescentou Talamoni, referindo-se aos resultados das territoriais de dezembro de 2015.

Na Alta Córsega, os nacionalistas fizeram o pleno. Na primeira circunscrição, Michel Castellani bateu, com 60,5% dos votos, o candidato d"Os Republicanos, Sauveur Gandolfi-Scheit, que tentava conquistar o seu terceiro mandato mas não resistiu à onda nacionalista. "Este resultado é um sinal indiscutível do progresso das nossas ideias", afirmou Castellani, professor de Economia reformado de 72 anos, após a sua vitória. "O presidente tem de perceber que poderá marcar o seu mandato ao ser o primeiro presidente a alterar a situação da Córsega", acrescentou o agora deputado.

Na segunda circunscrição - onde o deputado da Esquerda Radical Paul Giacobbi estava fora da corrida após ser condenado a três anos de prisão por desvio de fundos públicos -, Jean-Félix Acquaviva não deu hipóteses a Francis Giudici, do La République en Marche!, ganhando com 63,5% dos votos. "É a união que deu os seus frutos e nos levou além dos meros nacionalistas", declarou, por seu turno, Acquaviva, de 44 anos, até agora diretor do Gabinete de Transportes da Córsega.

Na Córsega do Sul, o novato Paul-André Colombani impôs-se com 55,9% face a Camille de Rocca Serra, d"Os Republicanos, que deixou escapar um lugar de deputado detido praticamente sem interrupção pela sua família desde o início do século XX na segunda circunscrição deste departamento.

Nas legislativas de 2012, os nacionalistas tinham conseguido passar à segunda volta em duas das quatro circunscrições da Córsega, mas não haviam conseguido chegar à Assembleia Nacional em Paris, perdendo para três candidatos da UMP (antigo nome d"Os Republicanos) e um do Partido Radical de Esquerda.

Mas o momento alto dos nacionalistas corsos, pelo menos até agora, deu-se nas eleições territoriais da Córsega de dezembro de 2015 - que se realizam ao mesmo tempo do que as regionais francesas e servem para eleger os 51 deputados da Assembleia corsa - quando os dois partidos nacionalistas (Femu a Corsica e Corsica Libera, cuja união deu origem ao Pè a Corsica) conseguiram eleger 24 deputados.

Para alguns analistas, a eleição deste trio será apenas uma presença "simbólica", em que serão totalmente "afogados" pela onda de deputados fiéis ao presidente Emmanuel Macron. Mas os nacionalistas, garante Jean-Félix Acquaviva, farão ouvir "a voz do conselho executivo da Córsega", o minigoverno da ilha do Mediterrâneo.

O objetivo dos três deputados corsos é fazer valer as suas reivindicações em torno do estatuto de residência para os habitantes da ilha, a equiparação do corso ao francês como língua oficial e a exigência de uma amnistia para prisioneiros ditos "políticos". Reivindicações que ganharam força com os resultados eleitorais de 2015, mas não receberam resposta do governo de Paris.

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