Na Praia das Maçãs há um cartaz que celebra a baixa taxa de natalidade
"Celebrate low birth rates" - é assim, com letras garrafais e em inglês, que um cartaz colocado junto à estrada, na Praia das Maçãs, no concelho de Sintra, pede a todos os turistas que "celebrem as baixas taxas de natalidade".
O cartaz faz parte da campanha da organização holandesa The Great Decrease que, até agora, além de Sintra, colocou outro em Singapura com a frase "Shrink towards abundance" ("encolham em direção à abundância"). Um terceiro cartaz será colocado na Holanda no próximo dia 12. "Num mundo sobre-povoado, ter menos filhos é maior ação pró-crianças que se pode tomar", explica a The Great Decrease. Assim, esta campanha internacional visa "encorajar os países com baixas taxas de natalidade a celebrar este facto", explica-se no site oficial
Ao DN, Sascha Landshoff, da agência de design Ultra Ultra, responsável pela campanha da The Great Decrease, responde que Portugal foi escolhido por ter a mais baixa taxa de natalidade da Europa (1,2): "Consideramos que é um feito que deve ser celebrado". Em Singapura a taxa de natalidade é de 1,3 e na Holanda 1,6.
"O crescimento da população é o motivo por trás dos principais problemas da atualidade, incluindo as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a escassez de recursos", explica ao DN Sascha Landshoff. "Os legisladores preocupam-se apenas com o consumo, mas o número de pessoas no planeta é um multiplicador desses problemas." Assim, o principal objetivo desta campanha, diz, "é impulsionar a conversa e tornar o crescimento da população um tema de discussão. Espera-se que isso encoraje os especialistas, políticos e legisladores a reconhecer o aumento da população mundial como uma preocupação real e, ao mesmo tempo, a procurarem baixar as taxas de natalidade."
Segundo Sascha Landshoff, "medidas simples e diretas que poderíamos tomar seriam tornar a contraceção e o aborto legais, gratuitos e disponíveis em todo o mundo e eliminar os incentivos para quem tem bebés. Mas também capacitar as mulheres, financiar programas de planeamento familiar e reorganizar as pensões e os sistemas económicos para acomodar as sociedades que estão cada bez mais envelhecidas."
A organização tentou colocar um cartaz na Hungria mas ela foi rejeitada por se "opor totalmente à campanha do governo" que procura incentivar as pessoas a ter mais filhos.
De acordo com um relatório publicado pela ONU em junho passado, neste momento a população mundial é de 7,7 mil milhões e a manter-se o ritmo de crescimento espera-se que em 2050 os habitantes da Terra sejam 9,7 mil milhões, o que levanta muitas questões sobre a sustentabilidade do planeta.
Por esse motivo, nos últimos anos surgiram várias campanhas de sensibilização para a necessidade de não contribuir para o aumento da população. Por exemplo, o príncipe Harry, do Reino Unido, anunciou que quer ter apenas dois filhos: "Eu sempre pensei: este lugar onde vivemos é emprestado. E, certamente, sendo tão inteligentes como nós somos, ou tão evoluídos como é suposto sermos, deveríamos ser capazes de deixar algo melhor para a próxima geração", justificou.
Mais radical, o movimento BirthStrike é formado por homens e mulheres que decidiram não ter filhos para evitar o chamado "colapso ecológico".
O cartaz originou algumas críticas nas redes socais, onde se chegou a questionar a sua legalidade, uma vez que a alínea C do Artigo 7.º do Código da Publicidade explica que é ilegal qualquer anúncio que "atente contra a dignidade da pessoa humana" e também que "tenha como objeto ideias de conteúdo sindical, político ou religioso". Mas a Câmara Municipal de Sintra garantiu à Renascença que o cartaz "está legalizado, encontra-se em local licenciado e com os pressupostos legais cumpridos".