Hélio Lucas, o treinador que moldou Fernando Pimenta desde os tempos em que o melhor do mundo ainda "virava muitas vezes o caiaque", recorre a uma conversa pessoal que teve com o atleta no dia seguinte à maior desilusão da carreira deste, quando as algas da lagoa Rodrigo de Freitas lhe travaram o sonho olímpico no Rio 2016, para exemplificar como é que o canoísta limiano chegou ao patamar de melhor do mundo, oficializado com o inédito título de K1 1000 conquistado nos Mundiais de canoagem que se realizaram em Montemor-o-Velho - e onde repetiu ainda a vitória na distância de K1 5000.."Nesse dia seguinte à final no Rio [em que Fernando Pimenta foi quinto, ainda assim a melhor classificação individual de sempre para a canoagem portuguesa em Jogos Olímpicos] eu estava muito triste, porque sabia que ele estava na melhor forma de sempre. Para ter uma ideia, ele estava num momento muito melhor do que está agora. E perder a medalha daquela forma... Levei-o para fora daquele ambiente, para ele limpar a cabeça e podermos conversar sobre como íamos superar aquilo, e ele virou-se desde logo para mim e disse: "Olha, Lucas, eu já virei a página. Já estou focado em Tóquio"", contou ao DN o treinador que nestes Mundiais viu Fernando Pimenta confirmar aquilo que Hélio Lucas já sabia..O "expoente máximo da geração dourada da canoagem portuguesa", como o descreve o presidente da federação Vítor Félix, redobrou o foco e a ambição após a desilusão do Rio e, desde então, "não falhou uma medalha em provas internacionais", frisa o técnico..Agora, chegou "a mais especial" de todas até aqui, reconheceu o próprio Pimenta: o título mundial de K1 1000, a primeira vez que um canoísta português se sagra campeão do mundo de uma distância olímpica - Pimenta já tinha ganho, no ano passado, o ouro em K1 5000, num título que repetiu desta vez, mas essa é uma distância que não entra no programa olímpico..No início até era descoordenado.A determinação do limiano é aquilo que o distingue, não duvida o seu treinador de sempre, que, em conversa com o DN, recordou os primeiros treinos com Pimenta. "Ele tinha uns 12 ou 13 anos quando começou. Era bastante descoordenado e virava muitas vezes. Mas em força de vontade já era o campeão que é hoje. A embarcação virava e ele saía da água e voltava rapidamente lá para dentro, a querer fazer melhor", conta Hélio Lucas. "Há atletas assim, especiais, que às vezes parecem até nem ter as melhores características mas cuja determinação os faz superar tudo.".Determinação, foco, disciplina são substantivos comuns nos discursos de quem melhor conhece Fernando Pimenta. E o principal foco que faz mover o melhor do mundo está virado para Tóquio, onde em 2020 se realizam os próximos Jogos Olímpicos. O título mundial de K1 1000 foi "apenas" mais uma etapa no caminho. Uma etapa inédita, especial, em Portugal, com a família e os amigos a encher as bancadas da pista de Montemor-o-Velho, mas um ponto de passagem mais rumo ao grande objetivo de carreira: a medalha olímpica..Vítor Félix, o presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, não tem dúvidas de que Fernando Pimenta "já entrou na galeria de notáveis do desporto português". "Nesta altura, o que lhe falta é a tal medalha olímpica, para poder entrar no lote restrito de campeões olímpicos por Portugal. Tem 29 anos, vai chegar a Tóquio na idade ideal para o conseguir. O palmarés dele justifica-o", diz o dirigente..Hélio Lucas também espera que a carreira do menino descoordenado que virava caiaques e se tornou o melhor de sempre da canoagem portuguesa não termine sem cumprir esse sonho. Seria uma "injustiça" para uma carreira exemplar.