Mulher de Bo Xilai testemunha contra o marido

Gu Kailai, a mulher do ex-dirigente chinês Bo Xilai que está a ser julgado desde quinta-feira, disse que o seu marido "devia ter conhecimento" das gratificações recebidas de um empresário, noticia a agência EFE.
Publicado a
Atualizado a

Bo Xilai, protagonista do maior escândalo político vivido na China em décadas, é formalmente acusado de ter recebido subornos, juntamente com a mulher e o filho Bo Guagua, correspondentes a 2,67 milhões de euros de dois homens de negócios - Tang Xiaolin e Xu Ming - próximos da família.

O ex-dirigente é também acusado de desvio de fundos públicos (cinco milhões de yuan ou 612.000 euros) e de abuso de poder por travar uma investigação criminal que visava a mulher.

Num testemunho em vídeo filmado a 10 de agosto e difundido hoje no Tribunal Intermédio de Jinan, no leste da China, Gu Kailai admite que contou ao marido sobre as ofertas que o empresário Xu Ming, um "amigo de longa data", fez em favor do filho do casal, Bo Guagua.

Segundo Gu Kailai, que no ano passado foi condenada a pena de morte suspensa por dois anos pelo homicídio de um empresário britânico em Chongqing, Xu Ming comprou uma mota elétrica para o filho e adquiriu bilhetes de avião para a família.

Questionada sobre se informou o marido sobre essas ofertas, Gu mostrou-se inicialmente evasiva e indicou que Bo "devia ter conhecimento". Pressionada durante o interrogatório foi mais precisa, respondendo que "sim", que o informou.

"Elogiei Xu Ming perante Bo Xilai, disse-lhe que é um homem de confiança, com quem podemos contar para muitas coisas", explicou a antiga advogada.

Bo Xilai, por sua vez, alegadamente terá ajudado Xu Ming a conseguir o controlo da equipa de futebol de Dalian, cidade que dirigia na altura, entre outros benefícios.

Na sua declaração, Gu Kailai também respondeu sobre a intervenção de Xu Ming para que Bo Xilai e a família conseguissem um chalé no sul de França, ainda que neste caso a mulher do ex-dirigente comunista remetesse para declarações anteriores suas, sem dar mais detalhes.

De acordo com a AFP, Bo Xilai reagiu às declarações da mulher qualificando-a como "louca".

Bo disse em tribunal que a mulher era mentalmente instável e comparou-a a um histórico assassino chinês, afirmando que ela se sentiu uma "heroína" quando matou o empresário britânico Neil Heywood.

Ela comparou-se a Jin Ke, que há mais de 2.000 anos tentou e não conseguiu matar o homem que se tornaria o primeiro imperador da China unificada, acrescentou.

De acordo com as transcrições da audiência de sexta-feira divulgadas no Weibo, rede social chinesa equivalente ao Twitter, Bo Xilai disse em tribunal: "Ela é louca e muitas vezes diz mentiras".

"Os investigadores colocaram uma enorme pressão sobre ela para me expor quando ela estava mentalmente desequilibrada", afirmou o antigo dirigente comunista.

O julgamento, presidido pelo juiz Wang Xuguang, deverá ser concluído hoje, mas o veredicto não será conhecido antes de setembro, segundo a televisão estatal CCTV.

O caso Bo Xilai foi despoletado em fevereiro de 2012 quando Wang Lijun, um braço direito do antigo dirigente, pediu asilo político num consulado norte-americano onde admitiu o seu envolvimento no homicídio do empresário britânico Neil Heywood às ordens da mulher de Bo Xilai.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt