Em 300 anos de economia linear que trouxeram bem-estar, na lógica de "extrair, transformar, usar, descartar", assumo que não sou agnóstico ao crescimento económico, mas num planeta com dez mil milhões de habitantes no ano de 2050, temos necessariamente de crescer mas regenerando recursos e sendo hipocarbónicos.".A frase usada pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, para encerrar uma conferência há dois dias diz muito dos grandes desafios que temos pela frente e do compromisso que Portugal assume junto dos seus parceiros europeus, numa época em que os efeitos das alterações climáticas - bem visíveis nas secas, inundações, tempestades e fogos que recentemente começámos a ter de enfrentar com alguma (preocupante) regularidade - são enfim encarados com seriedade. É preciso agir, é preciso que a ação seja rápida e eficaz, é preciso mudar, sob pena de deixarmos de ter o que sempre demos por garantido. E é preciso dar esses passos que nos permitam preservar e proteger o ambiente sem prejudicar o crescimento económico e o bem-estar que nos habituámos a ter. A equação é tão complexa quanto exigente, e tem apenas um caminho possível: "Mudar atitudes, hábitos, mentalidades", conforme resume João Matos Fernandes..Ora se alterar a forma de pensar e de agir das pessoas é difícil, os processos de sensibilização para uma utilização mais eficiente e inteligente da água e da energia são fundamentais para conseguir atingir essa finalidade. E é aí que entram em cena atores como a ADENE - Agência para a Energia, que tem como missão o desenvolvimento de atividades de interesse público na área da energia, do uso eficiente da água e da eficiência energética na mobilidade, focando-se em particular nos últimos anos "numa abordagem mais ampla para a eficiência de recursos, a economia circular e o nexus água-energia - alargando a sua missão à área da eficiência hídrica (...), com especial enfoque nas cidades e edifícios"..Acontece que, ainda que os portugueses estejam entre os europeus mais preocupados com as alterações climáticas (cerca de 80% assumem-no) e desejem reduzir a sua pegada carbónica, muitas vezes não sabem como simples gestos diários podem realmente fazer a diferença (Veja as dicas ao lado)..Se isso é verdade na vida familiar, quando tomamos como exemplo a gestão dos edifícios, das empresas, das cidades no que se prende com as preocupações de eficiência energética ainda há demasiado desperdício. Com custos financeiros associados - uma boa performance energética e um sistema competente de aproveitamento de águas podem resultar em poupanças significativas na fatura energética e hídrica, além de pouparem recursos..Com a COP24 a arrancar na Polónia, o titular da pasta do Ambiente - que bem sintonizado com os desafios presentes passou a incluir na designação a Transição Energética - admitiu ontem que "existe sempre um risco de marginalização quando se fazem estas transformações", mas "os custos da inação são indesmentivelmente mais elevados". E se Portugal é um dos países que sempre cumpriram as metas estabelecidas desde o protocolo de Quioto (que em 1997 deu início ao processo de envolvimento dos Estados no combate às alterações climáticas), há investimentos a fazer para melhorar. Um compromisso que Matos Fernandes assumiu, anunciando que "na próxima década vão ser investidos 900 milhões de euros na proteção do litoral e na descarbonização do transporte coletivo mais 7,5 mil milhões"..Até 2030, segundo avançou a Lusa em entrevista ao responsável, Portugal terá de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 45% e 55%, terá de chegar a 47% da produção de energia a partir de fontes renováveis e a 80% no que respeita em particular à energia elétrica..Preservar a água, reduzir drasticamente as emissões de CO2, colher a energia cada vez mais em fontes limpas, proteger o planeta são exigências para um futuro que começa já hoje. E Portugal está empenhado em continuar a seguir na linha da frente desse caminho de transformação..Utilização mais inteligente da água e da energia em debate no Museu do Oriente.Mais de uma década depois de as questões da eficiência energética e hídrica entrarem no dia-a-dia dos portugueses, sensibilizá-los para uma melhor utilização dos recursos continua a ser uma necessidade. Pretendendo responder a esse desafio, bem como procurar abordagens inovadoras para a promoção da eficiência hídrica e energética nos edifícios e nas cidades, o DN e a Adene - Agência para a Energia juntam-se no Museu do Oriente, em Lisboa, para promover o debate..A Grande Conferência Água & Energia 2018, que terá lugar dia 18, às 9.30, e que contará com a presença do ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Matos Fernandes, e do secretário de Estado João Galamba, pretende precisamente explorar sinergias e promover a partilha de experiências entre os setores, através de um grande debate nacional sobre eficiência energética e hídrica, num processo de informação, participação e sensibilização nacional. O encontro será também o momento de lançamento do Cinergia - Centro de Informação para a Energia, que visa revelar uma visão integrada do setor energético, incluindo produção, transporte, armazenamento e consumo, para uma melhor literacia energética..Dicas para poupar água e energia. Temperatura da casa .O ar condicionado pode não ser a melhor opção para controlar a temperatura em casa. Por cada grau Celsius que reduz, o consumo de energia pode subir 11%. Os ventiladores de teto são uma boa alternativa: refrescam o ambiente até 5 graus e gastam só uma fração da eletricidade. Janelas e portas bem vedadas é fundamental para conservar a temperatura.. Aparelhos eficientes .Ter em conta a etiqueta energética da UE quando compra um dispositivo pode ajudar muito - os mais bem classificados podem ser até 60% mais eficientes do que as alternativas. E ao desligar os aparelhos sempre que não está a usá-los poderá cortar até 50€/ano na fatura da luz.. Economizadores nas torneiras .Um economizador de água aplicado às torneiras e chuveiros lá de casa não apenas faz as vezes de um filtro como reduz o fluxo de água em mais de 50%. Uma utilização tradicional de uma torneira, 8 litros/minuto, passa a corresponder a um gasto de apenas 2 litros/minuto. A poupança na fatura da água pode chegar a 50 euros anuais.. Dar uso à água da chuva .Não precisa de instalar um complexo sistema de aproveitamento de águas para aproveitar o que a natureza lhe dá. Se puser um par de coletores na varanda quando chove, pode depois usar a água que ali se acumula para regar plantas, por exemplo, ou substituir uma descarga de autoclismo - cada uma significa 7 a 15 litros diretos para o cano.