Gouveia e Melo admite atraso na meta dos 70% de proteção da população

Redução de vacinas por idade pode "atrasar a meta dos 70% de proteção da nossa população", disse o coordenador da <em>task force</em> na reunião do Infarmed com os políticos. População maior de 60 anos estará vacinada até 23 de maio.
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O especialista da Direção-Geral da Saúde fez uma avaliação positiva da evolução da pandemia nos últimos 14 dias, e que irá suportar as decisões do governo para a entrada numa 4.ª fase do desconfinamento, com maior abertura da economia. André Peralta Santos disse que"há uma boa notícia" porque há uma estabilização de casos a nível nacional e a "mortalidade com tendência decrescente".

Segundo o mesmo especialista a faixa etária onde se registam agora mais novos casos é a dos 10 aos 20 anos,, mas que "não geram particular preocupação" porque a doença não tem a mesma gravidade que noutras faixas etárias.

Um "ponto muito positivo", disse André Peralta Santos, é a "tendência decrescente " das hospitalizações de pessoas com mais de 80 anos. "Neste momento é o grupo mais protegido", disse. "Estamos com 5 mortes por milhão de habitantes".O que se deve sobretudo à vacinação.

Ainda assim, na última reunião do Infarmed havia 22 concelhos acima dos 120 casos por 100 mil habitantes, mas há agora mais concelhos e mais população afetada. Fala, no entanto, numa estabilização da incidência a nível nacional e numa heterogeneidade.

A região norte é aquele que apresenta uma tendência crescente, mas abaixo dos 120 casos por 100 mil habitantes, referiu e acrescentou que as "Hospitalizações mantêm tendência ligeiramente decrescente" e o número de camas em cuidados intensivos baixou para menos de 100, o que é "positivo".

O grupo dos 50 aos 79 anos é o que tem maior ocupação em unidades de cuidados intensivos, acrescentou.

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Baltazar Nunes do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) analisou a transmissibilidade do vírus e de incidência. No que diz respeito à transmissibilidade, após o início de abril, estima-se que o R (t) esteja próximo de 1, o que indica uma estabilização da tendência.

Este especialista disse que todas as regiões estão abaixo dos 120 casos por 10 mil habitantes e apenas a do norte está acima de 1. E tal como o especialista anterior, referiu que acima dos 80 anos regista-se uma descida da taxa de incidência, que subiu entre os 10 e os 19 anos.

Baltazar Nunes recordou que a taxa de vacinação é bastante elevada na faixa etária dos 80 anos ou mais. E frisou que é importante o aumento da testagem, e rastreio e manutenção das restrições nos contactos sociais e a vacinação.

Também especialista do INSA, João Paulo Gomes fez um retrato das variantes da covid-19 que neste momento existem nos território nacional e as que são mais preocupantes. A variante do Reino Unido continua a ser a dominante, na ordem dos 89 e os 90% dos casos, mas a variante de Manaus, do Brasil, começa a "tornar-se preocupante", disse. Há já 73 casos associados a esta variante do vírus, sendo que 44 foram identificados nos últimos 15 dias.

Há também já um número significativo de casos da variante sul-africana, na ordem dos 64 casos, o que "é reflexo da abertura de fronteiras", afirmou João Paulo Gomes. Na última semana, foram também detetados seis casos associados à variante indiana na região de Lisboa e Vale do Tejo. Mas João Paulo Gomes frisou, que o vírus está a lidar com uma população cada vez mais imune. O que quer dizer que as vacinas são eficazes para responder ainda a estas variantes.

"A situação epidemiológica das principais variantes não é impeditiva da continuação do plano de desconfinamento", garantiu João Paulo Gomes.

Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, deu conta dos inquéritos feitos para avaliar recetividade à vacinação. O que deu base para perceber que são os idosos, pessoas com mais rendimentos e e com mais escolaridades as que estão mais recetivas às vacinas.

Este especialista frisa que entre a primeira fase da pandemia, em que a probabilidade de morrer com covid-19 era de 4%, até porque os casos detetados eram os mais graves. Nesta segunda fase essa probabilidade "desceu brutalmente" para os 0,5%.

A aceleração da vacinação, reconheceu, está associada a menos mortes nos idosos. "A nossa estratégia de vacinação vai implicar menor número de mortes e internamentos ", frisou.

Segundo o especialista espera-se que em setembro não haja mais casos de covid-19, mesmo com as variantes mais letais. Isto se forem mantidas as medidas em vigor e cumprido o plano de vacinação.

Neste momento, "se alguém adoecer na região autónoma da Madeira tem menos probabilidade de morrer" em comparação com as outras regiões do país, disse o especialista. "Nas amostras que temos, as pessoas infetadas com a variante do Reino Unido parecem ter um aumento significativo na probabilidade de morrer. O ser infetado por esta variante aumenta o risco de morrer", acrescentou Henrique de Barros.

Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, falou sobre as perceções sociais da pandemia em Portugal, referindo-se às últimas quatro semanas."Um em casa cinco portugueses" afirmou que que se tem sentido agitado, ansioso, em baixo ou triste devido às medidas de restrição, referiu a especialista.

Indicou uma confiança crescente dos portugueses nos serviços de saúde, apesar de "ser lenta". "Se conseguirmos continuar a capacitar as pessoas e dar-lhes oportunidades para os comportamentos mais adequados, como o uso da máscara e desinfetar as mãos, podemos ter uma ação no comportamento".

"Os comportamentos estão mais permissivos", frisou, sendo que a medida mais difícil de cumprir é evitar estar com famílias e amigos. Carla Nunes referiu que 81,7% está disponível para tomar a vacina contra a covid-19. As idades ativas, disse, mostram maior resistência sobre a segurança e eficácia das vacinas.

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force para o Plano de Vacinação contra a covid-19 em Portugal frisou que "a nível nacional já ultrapassamos 3 milhões de vacinas inoculadas" No segundo trimestre, existiu uma ligeira evolução positiva, passamos para 9,2 milhões de vacinas.

A redução de vacinas no plano implica reduzir o ritmo de vacinação ligeiramente, mais no 3º trimestre, e atrasar a meta dos 70% da população vacinada, explicou na sua apresentação.

"O limite de idade de dois tipos de vacinas que estamos a usar podem condicionar a utilização até meio milhão de vacinas", apesar de se estar a tentar mitigar esta situação.

A redução de vacinas devido às limitações de idade de duas vacinas (AstraZeneca e Janssen) no plano implica reduzir o ritmo de vacinação ligeiramente, mais no 3º trimestre.

"No 3º trimestre, as mesmas duas vacinas com as limitações de idade podem retirar ao plano cerca de 2,7 milhões de vacinas", disse.

"O impacto relativamente a esta redução de vacinas de acordo com as disponibilidades existentes é reduzir ligeiramente o ritmo da vacinação, mais no terceiro trimestre, e atrasar a meta dos 70% de proteção da nossa população"

"Hoje ou amanhã vamos atingir "os 3 milhões de vacinas inoculadas só no continente. A nível nacional já ultrapassamos 3 milhões de vacinas inoculadas", garantiu Gouveia e Melo. No final da semana, estimamos ter "mais de 22% da população vacinada com a primeira dose".

A faixa etária dos 80 anos está totalmente vacinada, diz, com algumas exceções, sendo que no final da semana estima-se atingir cerca de 100% desta população vacinada. O vice-almirante disse que espera-se ter na semana de 23 de maio ter todo o grupo dos 60 anos para cima coberto.

O Presidente da República elogiou o "progresso na vacinação" e que vai sendo fundamental na gestão da pandemia. Marcelo Rebelo de Sousa saudou a decisão anunciada pelo coordenador da Task Force para a vacinação de que, por causa da escassez das vacinas, serão administradas mais primeiras doses, em vez de se fazerem mais reservas para uma segunda.

Marcelo frisou que a mortalidade vai acompanhando em sentido inverso o avanço da vacinação. "Tem havido um processo de adesão crescente à medida que os portugueses entendem ser o sucesso, pelo menos imediato, da vacinação".

"O trabalho destas equipas junta-se ao genérico de todos quantos no domínio da Saúde têm tido um protagonismo nesta crise pandémica".

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