Morrissey em romance: o método do tiro aos alvos

O antigo cantor dos Smiths estreia-se na ficção e decide ajustar contas com tudo o que o incomoda
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De um ponto de vista teórico, List of the Lost visa - ou melhor: indicia mas não cumpre - contar a história de Ezra, Nails, Harri e Justy, os quatro eleitos pelo autor para ocuparem os lugares de uma equipa dedicada ao atletismo e, em particular, a uma corrida de estafetas. Os mais atentos já ganharam, em júbilo, a primeira aproximação à vida pública e conhecida de Stephen Patrick Morrissey (n. 1959), a partir de agora também lançado no universo da ficção literária, depois do justíssimo êxito da sua autobiografia: os Smiths também eram quatro e, aplicado um paralelo que nada tem de forçado, a vida de um grupo musical também pode olhar-se como uma corrida, contra o tempo, contra as pressões, e os méritos de cada um dependem largamente do talento e da aplicação do parceiro do lado, com uma outra forma de "passagem do testemunho".

A questão (ou, se preferirem, o problema) fixa-se na metodologia e nos propósitos utilizados pelo novel romancista: desde muito cedo, num volume cujo número de páginas (124) parece fugir a sete pés do supérfluo e da tentação das "gorduras", Morrissey troca o fio da meada pelo encostar ao muro, e sem venda protetora, uma série de temas, circunstâncias e personalidades que parecem incomodá-lo ou angustiá-lo, num processo de ajuste de con- tas, exorcismo, desforra, em que o próprio escritor se constitui como "pelotão de fuzilamento".

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Ao optar por fazê-lo em livro, abdica de qualquer hipótese de intervenção do contraditório; mantém os seus alvos presos, imóveis, indefesos, e dispara em rajada, com o propósito de deixar marcas e de provocar, neste processo, tanto "sangue" quanto possível. Por outras palavras, aquilo que se supunha representar uma estreia absoluta no universo romanesco acaba por sofrer um assinalável desvio de conteúdo - alinha pela autobiografia (2013) e pelos livros publicados na juventude, fase pré- -Smiths (um dedicado à banda New York Dolls, uma das favoritas da sua adolescência, outro visando "imortalizar" James Dean), renuncia ao primado da ficção, transforma-se num multifacetado libelo acusatório. Em termos práticos: em livro, Morrissey monta a sua artilharia como se estivesse a gravar um álbum de canções.

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