Morreu Álvaro Tavares, um dos grandes fotojornalistas do DN
"Tinha uma visão moderna da fotografia". "Era um grande profissional, dedicado ao Diário de Notícias, mas também a toda a sua classe". Duas frases, de dois antigos companheiros que ilustram o legado que deixou Álvaro Tavares no DN. Imagem a que já depois de deixar o jornal juntou outra: doou todo o seus espólio da época da revolução de 1974 à Associação 25 de Abril.
As recordações sucedem-se junto dos antigos colegas deste fotojornalista que liderou o gabinete fotográfico do DN e sobre o qual há sempre boas recordações.
Álvaro Tavares sofria de problemas graves de saúde e morreu na segunda-feira. O funeral será esta quinta-feira, em Cascais.
O antigo grande repórter do DN João Céu e Silva recorda os bons momentos que partilhou com aquele que foi uma das figuras carismáticas do jornal. "Foi uma figura que eu sempre vi no gabinete de fotografia desde que entrei para o jornal em 1989. Era um dos fotógrafos do Diário de Notícias do 'antigamente'. Era uma pessoa particularmente interessante porque tinha uma visão moderna sobre fotografia, mesmo no tempo em que os fotógrafos ainda não eram considerados artistas como hoje em dia. De todo o património fotográfico do século XX, ele foi um dos que captou grandes imagens. A imagem que tenho do Álvaro Tavares é de um dos grandes profissionais do Diário de Notícias."
José António Santos, antigo chefe de redação do DN, recorda-o desta forma: "Álvaro Tavares chega à Redação DN anos depois do 25 de Abril. Trazia consigo créditos firmados como grande repórter fotográfico. Antes da Revolução manejava já a arte da fotografia que lhe havia sido incutida pela via familiar: seu irmão José Tavares, já falecido, repórter fotográfico do Diário de Lisboa, fora seu guia no fotojornalismo ao ponto de o levar a ingressar na Redação do República. De inquietante serenidade, Álvaro Tavares fixou para o Diário de Notícias, através da fotografia, histórias e reportagens de excelência que são património deste jornal. Credor do respeito e admiração dos seus camaradas, Álvaro Tavares foi por eles várias vezes eleito para o Conselho de Redação. Quando arrumou a máquina fotográfica quis fazê-lo com um gesto simples: ofereceu à Associação 25 de Abril as fotos que ele o irmão fixaram sobre o 25 de Abril".
Margarida Maria, ex-jornalista do DN, especializada na área da Justiça, lembra: "O Álvaro Tavares era super discreto e era um indivíduo muito atento. E dava dicas sobre determinadas situações que não nos apercebíamos. Era uma pessoa culta. Quando íamos fazer uma reportagem, uma entrevista, documentava-se sobre os entrevistados tal como eu. Gostava muito de trabalhar com ele sobretudo nos trabalhos mais complicados, pela sua discrição, as pessoas não davam por ele". Margarida Maria conta ainda um episódio passado nos anos 90 do século passado. "Fizemos uma reportagem sobre 24 horas num estabelecimento prisional. Às 06:00 telefonei-lhe a dizer: «Vamos para o Estabelecimento Prisional de Lisboa». Estivemos lá as 24 horas e, quando nos viemos embora, trazia uma série de notas com pessoas com quem esteve a conversar e que me deram ideias para uma série de reportagens".
Já Rui Coutinho, que em tempos foi editor-adjunto de Álvaro Tavares, conta: "Foi um fotojornalista muito competente e dedicado ao Diário de Notícias. Ele vivia muito intensamente a vida da redação. Atravessou um período que vai desde antes do 25 de abril até à era digital e ajudou formar muita gente". Para o editor, fica na memória o seu "sentido de humor muito próprio".
Também o jornalista Fernando Madail fez a sua homenagem ao "gigante" na rede social Facebook:
Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/1582451803/posts/10224385336012634/?d=n
O velório realiza-se esta quinta-feira, pelas 17 horas no Complexo Funerário de Alcabideche, seguindo-se as 18 horas a cremação.