A Linha Ruído, criada pela Câmara de Lisboa como resposta às muitas queixas contra o barulho fora de horas, recebeu 285 chamadas entre 19 de setembro, data da sua entrada em funcionamento, e 7 de novembro. No total, neste período, foram registadas 581 ocorrências relacionadas com ruído, segundo dados disponibilizados pela autarquia ao DN. A Misericórdia é a freguesia de origem da maior da parte das reclamações e os estabelecimentos são a maior fonte de barulho que incomoda os cidadãos, principalmente aos sábados e domingos, os dias com maior pico de chamadas..De acordo com os números da Câmara Municipal de Lisboa fornecidos ao DN, a Linha Ruído recebeu, entre 19 de setembro e 7 de novembro, 285 reclamações de moradores. Já a Polícia Municipal recebeu no seu atendimento telefónico geral 296 denúncias. Aos dados destes dois canais soma-se uma ocorrência não relacionada com ruído . No total, nas primeiras semanas desta linha dedicada criada pela autarquia foram registadas 581 participações contra o excesso de ruído.."Previamente à criação da Linha Ruído, a Polícia Municipal de Lisboa já recebia e continua a receber denúncias (ocorrências) referentes a situações de ruído, através do atendimento telefónico para o número geral desta organização", explica ao DN o vereador Ângelo Pereira..A freguesia da Misericórdia, que engloba as zonas de diversão noturna do Bairro Alto, Cais do Sodré e São Paulo, é a origem do maior número de chamadas (95), tendo como maior motivo de queixa o ruído de estabelecimentos (79). Seguem-se as freguesias de Santa Maria Maior (50), Arroios (48), Estrela (47) e Santo António (40). De acordo com a Câmara de Lisboa, em termos de menor número de queixas destacam-se as freguesias de Ajuda, Carnide, Beato, Parque das Nações e Santa Clara..No que diz respeito à fonte do ruído que leva os lisboetas a reclamarem, os estabelecimentos são os líderes distanciados (364), seguidos de obras (137), via pública (36), aparelhos de ar condicionado (8) e outros (37). Este outros refere-se a situações como o ruído causado pela passagem de aviões..Em relação aos dias da semana, sábado é aquele em que foram registadas mais chamadas (146), seguido do domingo (93), num total de 239 telefonemas. Segunda-feira é o dia com menos reclamações (46), seguida da terça-feira (59).."Esta é uma análise estatística que não é aferida, todavia, em termos de perceção dos elementos policiais do Centro de Coordenação e Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa que respondem à Linha Ruído, telefonam preferencialmente cidadãos com idades acima dos 60 anos", refere Ângelo Pereira, que tutela esta linha..Quanto ao seguimento que a Câmara de Lisboa dá a estas denúncias, o vereador explica que "caso seja da competência da Polícia Municipal, o Centro de Coordenação da Mobilidade ativa os meios necessários para a deslocação ao local e averiguação da respetiva ocorrência. Se for da competência da Polícia de Segurança Pública - como, por exemplo, ruído da vizinhança - a chamada é transferida para esta força de segurança, após informação ao cidadão"..Para Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, estes números não são uma surpresa. "É normal, é a freguesia que tem mais bares, mais estabelecimentos noturnos, por isso não me surpreende rigorosamente nada, já antes era assim. Esta linha está ligada à Polícia Municipal, a linha é a mesma, o número é que é diferente. Já antes era a freguesia de onde a Polícia Municipal recebia mais queixas de ruído"..Um motivo que leva a autarca a defender que a criação da Linha Ruído por parte da câmara não alterou nada na gestão do problema. "A linha não veio mudar nada porque a linha é a mesma. Mudou o número, as pessoas antes quando tinham problemas de ruído ou o que fosse ligavam para um 21 da Polícia Municipal, agora criaram um 808 que é atendido pela Polícia Municipal também. Portanto, não há alteração nenhuma", refere Carla Madeira. "Foi, de facto, uma maneira de dar maior visibilidade à linha, uma forma de fazer propaganda, se lhe quisermos chamar assim, mas de facto é isso. Até porque a Linha Ruído não resolve nada, o que resolve são as medidas que tomam para acabar com esse ruído. É o que as pessoas pretendem e isso continuo a não ver resolvido"..Este verão falou-se muito na questão do ruído causado pelos estabelecimentos de diversão noturna, nomeadamente na freguesia da Misericórdia, e o descontentamento dos moradores - o que culminou na criação da Linha Ruído. Um cenário que a presidente da junta diz estar atualmente pior. "Eu sinto que as coisas estão a piorar a cada semana que passa porque continuam a abrir novos estabelecimentos à revelia do Plano de Urbanização do Núcleo Histórico do Bairro Alto e Bica. E, apesar de nós denunciarmos estas situações à câmara, nada acontece", declara Carla Madeira, lembrando que a junta de freguesia apenas tem poder para licenciar ou retirar a licença de esplanadas..Na perspetiva da autarca, este degradar da situação verifica-se em todas as zonas de diversão noturna do bairro, mas há uma que se destaca. "Sobretudo na zona de São Paulo, os estabelecimentos que lá existem são todos novos e muitos deles não querem saber das regras que existem e, como não aparece lá ninguém a dizer que existem regras e que são para cumprir, continuam a funcionar assim"..ana.meireles@dn.pt