Moody's espera quebra de 2% no preço das casas em 2021

... mas a capacidade de aceder à habitação vai ser menor entre jovens e pessoas com salários mais baixos. É esperada maior pressão sobre as políticas públicas de habitação social.
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Os países do sul da Europa com maior dependência do turismo, como Portugal, deverão conhecer uma quebra nos preços da habitação em torno dos 2% no próximo ano, com expectativa de recuperação em 2022, antecipam os analistas da Moody's numa nota sobre o mercado de habitação europeu publicada nesta segunda-feira.

As previsões dos analistas da agência de rating consideram que a tendência será comum em Espanha, Portugal, Itália e França. As quebras serão mais pronunciadas também no Reino Unido, por efeito de uma pandemia combinada com o desenrolar do Brexit, ao passo que na Alemanha o mercado de habitação não deverá sofrer impactos significativos. Ainda assim, a Moody's não antecipa que a redução de preços e o efeito do abrandamento económico na capacidade de as famílias suportarem crédito traga dificuldades aos balanços dos bancos, mesmo no sul da Europa.

O impacto será, contudo, sentido entre os grupos mais jovens e trabalhadores com salários mais baixos, com uma redução da capacidade de suportar encargos com habitação eventualmente arrastada ao longo dos próximos quatro anos, com a atividade e os trabalhadores dependentes do turismo a viverem maiores dificuldades.

"A dificuldade, especificamente, em Portugal, é que esperamos que o turismo recupere apenas gradualmente nos próximos anos. Em particular, esperamos que os números de turistas dos níveis pré-crise sejam atingidos apenas em 2023/2024", considera Vincent Allilaire, vice-presidente da Moody's, responsável pela estratégia de crédito.

A demora penalizará a capacidade das famílias com menos rendimentos e alargará as desigualdades a nível europeu. "Ainda que os preços desçam, a capacidade de comprar casa irá piorar para muitos compradores em perspetiva após a covid-19, devido aos rendimentos reduzidos e acesso a financiamento. A disponibilidade de crédito será limitada devido a critérios mais apertados de concessão. Tal afetará os grupos de jovens e com menores rendimentos, em particular, exacerbando as desigualdades de rendimentos", antecipa o relatório da Moody's.

O caso português não é isolado do que sucederá no resto do sul da Europa. Porém, a Moody's nota algumas diferenças no que diz respeito à distribuição de rendimentos. "As pessoas que podem trabalhar remotamente estão mais próximas do escalão de rendimentos mais elevados e as outras pessoas dos escalões baixos-médios. A diferença em Portugal é que alguns setores fechados, particularmente ligados ao turismo e hotelaria, estão mais junto dos escalões médios do que noutros países", referiu Vincent Allilaire na apresentação.

Para a Moody's, a pandemia trará assim uma maior pressão para o investimento em habitação social nas políticas públicas. "Vamos continuar a assistir a uma atenção das políticas a estes aspetos sociais", considerou Barbara Rismondo, vice-presidente sénior da Moody's para a área do crédito estruturado.


A partir de 2021, vai aumentar o número de empréstimos em incumprimento nos bancos, alertou nesta segunda-feira (23 de novembro) a Moody's. <strong>As medidas adotadas pelo Governo no âmbito da pandemia vão levar ao aumento do desemprego e à descida do rendimento disponível de muitas famílias. As dificuldades em cumprir com o pagamento dos empréstimos, assim que acabar o prazo das moratórias, vai ter impacto nos bancos, avisa a agência de notação financeira. Em Portugal, a maior parte das moratórias, incluindo as do crédito à habitação, terminam no final de setembro de 2021.

Por outro lado, a queda dos preços das casas vai afetar as operações de venda de carteiras de crédito malparado. Mas a Moody's acredita que "as robustas reservas de capital dos bancos mitigarão esse risco". "Esperamos que os empréstimos problemáticos nas principais economias europeias atinjam um pico de aproximadamente o dobro dos níveis pré-covid-19", apesar da existência de as moratórias poderem adiar um pouco esse efeito negativo. No caso de Portugal, no final de 2019, o peso do malparado no crédito total concedido pelo setor bancário português situava-se em 6,1%.

O aumento do malparado ocorrerá "principalmente devido a problemas de empréstimos em setores particularmente expostos a disrupções" causadas pelas medidas dos governos, "como pequenas e médias empresas, imóveis comerciais e empréstimos não garantidos ao consumidor, e menos por causa de empréstimos hipotecários a clientes de retalho", considera a agência de rating.

"O principal desafio para o setor bancário deverá ser lidar com maiores custos de crédito sem prejudicar as posições de capital, tarefa que será mais difícil para os bancos com rentabilidade fraca, ou bancos com exposições concentradas a setores afetados pela [crise da] covid-19, ou ambos", explicou.

Em Portugal, tanto os banqueiros como o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertaram para os perigos de serem retirados os apoios às famílias e às empresas antes de a economia estar a recuperar.

"No geral, contamos que os bancos serão capazes de absorver custos de crédito mais altos se houver uma queda de curto prazo nos preços das casas. Se os preços dos imóveis caírem no médio prazo, as implicações negativas de crédito seriam mais graves", alerta a Moody's.

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