Cavalos com asas, um gato gigante com juba, um dragão com pele de algas aquáticas e... Niffler, a amorosa criatura atraída por metais, que já conhecíamos do primeiro filme. Estes são alguns dos espécimes que abrilhantam a fantasia e o espetáculo visual de Monstros Fantásticos: os Crimes de Grindelwald. E embora haja mais exemplos, é caso para dizer que os bichos estão ligeiramente em crise neste novo filme de David Yates - que, relembre-se, é o segundo título da saga que explora os acontecimentos anteriores ao universo Harry Potter..Quer isto dizer que a própria autora, J.K. Rowling, responsável pelo argumento original, desta vez apostou mais nas personagens humanas, gerando um engarrafamento de feiticeiros, a começar no vilão Gellert Grindelwald, interpretado por um sempre estiloso Johnny Depp, e a terminar no "magizoologista" Newt Scamander de Eddie Redmayne. Pelo meio, um rol de personalidades ressurgem do primeiro filme, outras inauguram a sua presença na série, e quase todas fazem despontar pequenas narrativas que servem, claramente, para alimentar as próximas três grandes produções. Aliás, percebe-se mesmo que o sentido novelesco em torno do passado de algumas delas não é mais do que combustível para a densidade dos livros que vão sendo publicados a par com as estreias cinematográficas. É o negócio perfeito de Rowling..Assim, esta segunda aventura do franchise Monstros Fantásticos torna-se necessariamente mais maçuda do que a primeira (que tirava partido sobretudo dos animais divertidos de Newt), começando a tecer mistérios, detalhes complexos e toda uma atmosfera sombria ligada a Grindelwald. É dele que parte a nova etapa da história, com a sua fuga da prisão e os planos de dominar o mundo, que contemplam a extinção da população dos não-mágicos... Depois da Nova Iorque de Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los (2016), Paris é a nova cidade para onde se transfere grande parte da ação, funcionando como ponto de encontro para a nata da comunidade de feiticeiros - cujos destinos parecem manipulados num autêntico tabuleiro de xadrez. Do que se sabe, o próximo filme será ambientado em Nuremberga, e segundo as pistas dadas pela autora aos fãs nas redes sociais, o seguinte assinala no mapa o Rio de Janeiro, sendo o último apontado para uma cidade italiana..A teia narrativa, e de relações de personagens, é mais ou menos esta: Newt vai para Paris à procura do jovem Credence (Ezra Miller), e aí encontra a sua amada Tina Goldstein (Katherine Waterston), que ainda não está completamente recuperada do mal-entendido sobre o relacionamento de Newt com Leta Lestrange (Zoë Kravitz), esta que, por sua vez, está noiva do irmão dele, Theseus Scamander... Entretanto, o não-mágico amigo de Newt, Jacob Kowalski (Dan Fogler), também está de volta com a apaixonada feiticeira Queenie Goldstein (Alison Sudol), irmã de Tina. Ora sobre estas personagens e mais umas quantas impera a sombra de Grindelwald, que no passado teve uma relação forte com... Albus Dumbledore! Interpretado por um enigmático e charmoso Jude Law, ele é certamente uma das boas surpresas do elenco..De resto, com tantos pequenos enredos dentro da narrativa geral, Monstros Fantásticos: os Crimes de Grindelwald acaba por ter um foco difuso e tomar a forma de uma construção demasiado pormenorizada do universo de J.K. Rowling - como se quer na literatura -, perdendo algum do ritmo natural de uma produção cinematográfica. Dito de outra forma: o excesso de informação dificulta a fluidez dos acontecimentos, contribuindo, por outro lado, para cimentar o preciosismo literário dos fãs..Posto isto, ao entrar no filme já não há termo de comparação com o índice da realidade. É a pura imaginação de Rowling para aficionados que, debaixo da assinatura do já rotinado David Yates, toma conta do grande ecrã, entre múltiplos e vistosos efeitos especiais, criaturas excêntricas e deslumbrantes, e todo um sentido de abstração mágica... Será tão-somente uma questão de varinhas e pós de perlimpimpim que segura o poderoso véu digital de Monstros Fantásticos..** Com interesse