Chefiada pelo embaixador de Israel na Índia, Ron Malka, uma delegação de peritos partiu de Telavive com destino a Nova Deli. A equipa vai realizar as fases finais da investigação para determinar a eficácia de tecnologias desenvolvidas para o diagnóstico rápido da covid-19..O projeto passa pela recolha de dezenas de milhares de amostras de casos suspeitos do novo coronavírus em dez dias, e analisá-las recorrendo a sistemas informáticos baseados em inteligência artificial. Segundo a diplomacia israelita, "esta amostragem maciça encurtará os processos e fará avançar a aprovação de tecnologias eficazes"..A delegação é composta por cerca de 20 peritos em vários campos dos ministérios da Defesa e da Saúde, das forças armadas de Israel e e das empresas que se associaram no desenvolvimento das soluções de diagnóstico rápido..Na bagagem, a equipa levou igualmente equipamento de proteção e ventiladores em número não determinado para uso das autoridades de saúde indianas.."Esperamos que a investigação e desenvolvimento liderados pela Direção de Investigação e Desenvolvimento da Defesa, juntamente com as nossas excelentes indústrias e instituições académicas, conduzam a um avanço que mude a forma como diagnosticamos e combatemos o vírus, dando ao mesmo tempo o impulso necessário para 'reiniciar' a nossa economia", declarou o ministro da Defesa Benny Gantz. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros Gabi Ashkenazi destaca a "mensagem de amizade e solidariedade" com a Índia. Mas não só: "Proporciona uma oportunidade única para a cooperação científica e tecnológica que pode ajudar Israel, a Índia e o mundo a enfrentar tanto a pandemia como a crise económica que lhe está associada.".O I é a menor das semelhanças.Para os mais desatentos ou para quem tenha entrado em reclusão no início dos anos 90 e regressado agora, esta operação científico-militar entre Israel e Índia pode parecer supreendente. Mas é o corolário lógico de uma relação bilateral que se tem fortalecido nas últimas duas décadas, mas em especial na última meia dúzia de anos..O nome começado por I é a menor das semelhanças entre um país com 3,29 milhões de quilómetros quadrados e 1,3 mil milhões de habitantes e outro com pouco mais de 20 mil quilómetros quadrados e 9,2 milhões de habitantes. Ambos os países tiveram uma relação colonial com o Reino Unido e obtiveram a independência em datas próximas (a Índia em 1947, Israel no ano seguinte). Mas, acima de tudo, são países democráticos, dotados de capacidade nuclear, em tensão permanente isolados por uma vizinhança abertamente hostil ambos sentem na pele a ameaça do terrorismo islâmico..Nem sempre foi assim. Apesar de a Índia ter reconhecido o Estado de Israel em 1950, as relações entre os dois estados foram frias durante décadas. Nova Deli, como líder do movimento dos não-alinhados, pendeu as relações para o mundo árabe e também para a esfera de influência da União Soviética, enquanto Telavive estabeleceu desde sempre uma ligação umbilical com os Estados Unidos e próxima do Ocidente em geral..Antes mesmo de as relações diplomáticas serem oficialmente reconhecidas ao mais alto nível entre os dois países, em 1992, há quem assegure que Israel forneceu armas à Índia na guerra com o Paquistão, em 1971, e assistência ao programa nuclear indiano, durante essa década..E que, nos anos 80, se ofereceu para replicar o ataque surpresa ao reator nucleares do Iraque, mas desta vez no Paquistão. Segundo o Indian Express, o ataque não aconteceu porque os Estados Unidos terão avisado Islamabad e pressionado Nova Deli..As relações bilaterais subiram um degrau em 1999, quando Israel não só forneceu munições, mas também mísseis teleguiados, o que fez toda a diferença no conflito de Cargil, na Caxemira..Em troca, a Índia deixou de tocar num assunto chamado Palestina..Casamento feito no céu.A visita de Narendra Modi a Israel em 2017 foi o impulso decisivo para uma nova fase nas relações entre ambos os estados. Três anos antes, Modi reuniu-se com Benjamin Netanyahu em Nova Iorque, tendo ambos discutido as possibilidades de cooperação económica, tecnológica e agrícola. Netanyahu expressou então as suas preocupações relativas a um Irão com capacidade nuclear e sobre a propagação do Islão radical por todo o Médio Oriente..A visita de três dias de Modi em 2017, a primeira de um chefe de governo indiano a Israel, não foi de turismo. Modi tratou Netanyahu por Bibi, abraçou-o várias vezes e, mas importante, assinaram uma série de acordos, o que veio a repetir-se no ano seguinte em especial nas áreas da agricultura, tecnologia (incluindo a espacial), defesa e segurança. "Um casamento feito no céu e que está a ser aplicado na Terra", disse o governante israelita..Hoje a Índia é o maior mercado da indústria de defesa de Israel. Só uns exemplos: Telavive forneceu tecnologia de sensores para a fronteira da Índia na chamada linha de controlo com o Paquistão; ambos os países desenvolvem em conjunto um sistema de mísseis terra-ar de médio e longo alcance; e foi adjudicado um projeto de dois mil milhões de dólares para equipar a marinha e o exército indiano com um novo sistema de defesa aéreo..As relações económicas também floresceram nos últimos anos: as trocas comerciais passaram de meros 200 milhões de dólares em 1992 para 5,8 mil milhões em 2018..A diferença essencial."É claro que a Índia beneficia muito de Israel, quer seja na área da tecnologia, quer seja na criação de um ecossistema que encoraje o desenvolvimento tecnológico, quer seja para o setor civil ou para o militar. Mas não devemos sobrestimar a dimensão da segurança", escreve Manoj Joshi, investigador da Observer Research Foundation, em artigo no The Quint. No entanto, adverte que os cenários de segurança dos dois países não poderiam ser mais diferentes.."Israel não pode permitir-se qualquer grande revés militar ou terrorista no seu território, enquanto a Índia pode assimilar muita coisa. Muitos indianos, especialmente os próximos do BJP [Partido Nacionalista Hindu, de Narendra Modi], admiram a dura postura militar de Israel, que envolve ataques transfronteiriços periódicos contra os seus inimigos. Israel pode realizar esses ataques porque tem total superioridade aérea contra os seus adversários não estatais. Ao contrário de Israel, os nossos terroristas são apoiados por um Estado com armas nucleares", afirma o autor, traçando os limites das semelhanças entre Israel e Índia sobre as relações com os países vizinhos..De qualquer modo, a relação próxima entre Israel e Índia parece ter vindo para ficar e aprofundar-se, mesmo que os protagonistas do romance mudem.
Chefiada pelo embaixador de Israel na Índia, Ron Malka, uma delegação de peritos partiu de Telavive com destino a Nova Deli. A equipa vai realizar as fases finais da investigação para determinar a eficácia de tecnologias desenvolvidas para o diagnóstico rápido da covid-19..O projeto passa pela recolha de dezenas de milhares de amostras de casos suspeitos do novo coronavírus em dez dias, e analisá-las recorrendo a sistemas informáticos baseados em inteligência artificial. Segundo a diplomacia israelita, "esta amostragem maciça encurtará os processos e fará avançar a aprovação de tecnologias eficazes"..A delegação é composta por cerca de 20 peritos em vários campos dos ministérios da Defesa e da Saúde, das forças armadas de Israel e e das empresas que se associaram no desenvolvimento das soluções de diagnóstico rápido..Na bagagem, a equipa levou igualmente equipamento de proteção e ventiladores em número não determinado para uso das autoridades de saúde indianas.."Esperamos que a investigação e desenvolvimento liderados pela Direção de Investigação e Desenvolvimento da Defesa, juntamente com as nossas excelentes indústrias e instituições académicas, conduzam a um avanço que mude a forma como diagnosticamos e combatemos o vírus, dando ao mesmo tempo o impulso necessário para 'reiniciar' a nossa economia", declarou o ministro da Defesa Benny Gantz. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros Gabi Ashkenazi destaca a "mensagem de amizade e solidariedade" com a Índia. Mas não só: "Proporciona uma oportunidade única para a cooperação científica e tecnológica que pode ajudar Israel, a Índia e o mundo a enfrentar tanto a pandemia como a crise económica que lhe está associada.".O I é a menor das semelhanças.Para os mais desatentos ou para quem tenha entrado em reclusão no início dos anos 90 e regressado agora, esta operação científico-militar entre Israel e Índia pode parecer supreendente. Mas é o corolário lógico de uma relação bilateral que se tem fortalecido nas últimas duas décadas, mas em especial na última meia dúzia de anos..O nome começado por I é a menor das semelhanças entre um país com 3,29 milhões de quilómetros quadrados e 1,3 mil milhões de habitantes e outro com pouco mais de 20 mil quilómetros quadrados e 9,2 milhões de habitantes. Ambos os países tiveram uma relação colonial com o Reino Unido e obtiveram a independência em datas próximas (a Índia em 1947, Israel no ano seguinte). Mas, acima de tudo, são países democráticos, dotados de capacidade nuclear, em tensão permanente isolados por uma vizinhança abertamente hostil ambos sentem na pele a ameaça do terrorismo islâmico..Nem sempre foi assim. Apesar de a Índia ter reconhecido o Estado de Israel em 1950, as relações entre os dois estados foram frias durante décadas. Nova Deli, como líder do movimento dos não-alinhados, pendeu as relações para o mundo árabe e também para a esfera de influência da União Soviética, enquanto Telavive estabeleceu desde sempre uma ligação umbilical com os Estados Unidos e próxima do Ocidente em geral..Antes mesmo de as relações diplomáticas serem oficialmente reconhecidas ao mais alto nível entre os dois países, em 1992, há quem assegure que Israel forneceu armas à Índia na guerra com o Paquistão, em 1971, e assistência ao programa nuclear indiano, durante essa década..E que, nos anos 80, se ofereceu para replicar o ataque surpresa ao reator nucleares do Iraque, mas desta vez no Paquistão. Segundo o Indian Express, o ataque não aconteceu porque os Estados Unidos terão avisado Islamabad e pressionado Nova Deli..As relações bilaterais subiram um degrau em 1999, quando Israel não só forneceu munições, mas também mísseis teleguiados, o que fez toda a diferença no conflito de Cargil, na Caxemira..Em troca, a Índia deixou de tocar num assunto chamado Palestina..Casamento feito no céu.A visita de Narendra Modi a Israel em 2017 foi o impulso decisivo para uma nova fase nas relações entre ambos os estados. Três anos antes, Modi reuniu-se com Benjamin Netanyahu em Nova Iorque, tendo ambos discutido as possibilidades de cooperação económica, tecnológica e agrícola. Netanyahu expressou então as suas preocupações relativas a um Irão com capacidade nuclear e sobre a propagação do Islão radical por todo o Médio Oriente..A visita de três dias de Modi em 2017, a primeira de um chefe de governo indiano a Israel, não foi de turismo. Modi tratou Netanyahu por Bibi, abraçou-o várias vezes e, mas importante, assinaram uma série de acordos, o que veio a repetir-se no ano seguinte em especial nas áreas da agricultura, tecnologia (incluindo a espacial), defesa e segurança. "Um casamento feito no céu e que está a ser aplicado na Terra", disse o governante israelita..Hoje a Índia é o maior mercado da indústria de defesa de Israel. Só uns exemplos: Telavive forneceu tecnologia de sensores para a fronteira da Índia na chamada linha de controlo com o Paquistão; ambos os países desenvolvem em conjunto um sistema de mísseis terra-ar de médio e longo alcance; e foi adjudicado um projeto de dois mil milhões de dólares para equipar a marinha e o exército indiano com um novo sistema de defesa aéreo..As relações económicas também floresceram nos últimos anos: as trocas comerciais passaram de meros 200 milhões de dólares em 1992 para 5,8 mil milhões em 2018..A diferença essencial."É claro que a Índia beneficia muito de Israel, quer seja na área da tecnologia, quer seja na criação de um ecossistema que encoraje o desenvolvimento tecnológico, quer seja para o setor civil ou para o militar. Mas não devemos sobrestimar a dimensão da segurança", escreve Manoj Joshi, investigador da Observer Research Foundation, em artigo no The Quint. No entanto, adverte que os cenários de segurança dos dois países não poderiam ser mais diferentes.."Israel não pode permitir-se qualquer grande revés militar ou terrorista no seu território, enquanto a Índia pode assimilar muita coisa. Muitos indianos, especialmente os próximos do BJP [Partido Nacionalista Hindu, de Narendra Modi], admiram a dura postura militar de Israel, que envolve ataques transfronteiriços periódicos contra os seus inimigos. Israel pode realizar esses ataques porque tem total superioridade aérea contra os seus adversários não estatais. Ao contrário de Israel, os nossos terroristas são apoiados por um Estado com armas nucleares", afirma o autor, traçando os limites das semelhanças entre Israel e Índia sobre as relações com os países vizinhos..De qualquer modo, a relação próxima entre Israel e Índia parece ter vindo para ficar e aprofundar-se, mesmo que os protagonistas do romance mudem.