Ministro nega ao Financial Times que Portugal seja "o amigo especial" da China na Europa

Augusto Santos Silva recusa a ideia de que há um domínio indevido do investimento chinês em Portugal.
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"Foi criado um mito de que Portugal é uma espécie de amigo especial da China na Europa. Isso não faz nenhum sentido." A declaração é do ministro dos Negócios Estrangeiros ao Financial Times . Augusto Santos Silva assegura que o país não está dependente de Pequim, numa altura em que está a decorrer o concurso internacional para o novo Terminal de Contentores de Sines, em que concorrem empresas chinesas, refere o jornal britânico.

No artigo do Financial Times é lembrado que o investimento chinês no país acelerou com a crise que Portugal enfrentou há quase uma década, tendo sido posto em prática um programa de privatizações, como constava no memorando de entendimento entre o governo e a troika (União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu), com quem o país acordou o plano de resgate financeiro.

A China Three Gorges (CTG) ganhou a corrida à última fase de privatização da EDP. O Estado vendeu os 21,35% que ainda detinha na elétrica a troco de quase 2,7 mil milhões de euros. Em outubro de 2017, a empresa que construiu e gere a barragem das Três Gargantas investiu mais 200 milhões para aumentar a participação para 23,27%. Ao todo, o investimento foi de 2,9 mil milhões. Além da CTG, a China está ainda presente no capital da EDP através da CNIC, que detém 4,98% da elétrica.

Na REN, o Estado vendeu, em 2012, uma fatia de 25% da empresa à chinesa State Grid.

No total, houve um encaixe superior a nove mil milhões de euros da venda de participações de empresas portuguesas iniciada no final de 2011 com a entrada da China Three Gorges na EDP.

A entrada de capital chinês "transformou o país num dos maiores recetores per capita da Europa em investimentos chineses", escreve o jornal, que salienta ainda o facto de os dois países terem assinado um memorando de entendimento para a cooperação bilateral em dezembro de 2018, quando da visita do presidente chinês Xi Jinping a Lisboa. Na altura foram assinados 17 acordos no total no âmbito do programa Uma Faixa, Uma Rota (BRI, na sigla em inglês), a nova rota da seda que é uma estratégia de desenvolvimento adotada por Pequim envolvendo o desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em países da Europa, Ásia e África.

Empresas chinesas interessadas no novo Terminal de Contentores de Sines

Com esta cooperação, o governo disse querer atrair investimento para Sines, colocando o porto português na rota dos porta-contentores chegados do canal do Panamá como ponto de transbordo de carga com destino à Ásia.

Apesar desta proximidade com a China, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirma que Portugal está fora do grupo 17+1, referente à cooperação entre a China e a Europa Central e do Leste. "Não é o espaço geopolítico de Portugal", afirmou o governante ao Financial Times.

De acordo com o jornal, a empresa estatal chinesa Cosco e a Shanghai International Port Group estão entre as empresas que manifestaram interesse para construir e ter a concessão do novo Terminal de Contentores de Sines. O concessionário deste novo projeto portuário deverá investir 642 milhões de euros por 50 anos de contrato. Numa primeira fase, esta infraestrutura vai permitir a duplicação da capacidade de movimentação de contentores do porto de Sines.

Augusto Santos Silva espera que haja também propostas de empresas norte-americanas e europeias. "A qualidade das ofertas será muito melhor", defendeu. Acrescentou que o novo terminal "representa uma das grandes oportunidades para a Europa diminuir a sua dependência do gás russo".

O responsável pela pasta dos Negócios Estrangeiros recusa a ideia do domínio indevido da China em Portugal e referiu que "o investimento chinês na Europa está massivamente concentrado em grandes países como Reino Unido, Alemanha, França, entre outros".

Ao jornal britânico afirmou que Portugal continua interessado em atrair investimentos chineses, expandir o comércio e incentivar o turismo.

"Chegou a hora de os investidores chineses estabelecerem aqui empresas industriais, principalmente nos setores da mobilidade e da elétrica", disse Santos Silva. "Também estamos muito atrasados ​​no processo de abrir a China às exportações portuguesas. Levou anos para negociar uma entrada para as nossas carcaças de suínos congeladas, por exemplo. Mas esse pequeno item sozinho aumentará as nossas exportações para a China em mais de 20% no primeiro ano."

O governante garantiu que os investidores chineses trouxeram "estabilidade e desenvolvimento" e cumpriram com as leis nacionais e europeias.

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