Ministra coordena dossiê dos fogos. Costa acompanha

Constança no terreno, depois de críticas à sua intervenção. Marcelo diz que "não há má vontade" na resposta europeia
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António Costa pega no telefone e liga diretamente a quem quer para saber o que se passa - não é de agora. Nestes últimos dias, o primeiro-ministro não tem feito outra coisa com Constança Urbano de Sousa por causa dos incêndios. Mas é a ministra da Administração Interna quem continua a gerir este dossiê.

Costa - que retomou o seu trabalho logo na segunda-feira de manhã, apesar de não ter tido agenda pública - acompanha de perto a situação, esteve na terça-feira na Proteção Civil (com a ministra ao lado) e na Madeira, mas é Constança quem anda a palmilhar desde quarta-feira o chão queimado. Ontem à tarde estava em Castelo de Paiva, já tinha passado por Sever do Vouga, Arouca, Águeda ou Castanheira de Pera e, ao fim da tarde, falou aos jornalistas na freguesia da Moita, concelho de Anadia. E a agenda dos próximos dias será esta, nos locais afetados, onde a terra arde.

No entanto, a ministra não se livrou de críticas, por não ter aparecido logo a dar a cara quando a situação se complicou, por ter estado numa festa no sábado à noite (a situação agravou-se a partir de domingo) e por ter dito que esperava "maior solidariedade" da União Europeia depois da ativação do pedido de ajuda.

No governo, não há incómodo - nem a foto da festa social foi tema. Costa confia em Constança e a cadeia de comando foi cumprida, segundo explicou ao DN fonte governamental: no primeiro momento entrou o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que assumiu a comunicação em nome do executivo; só depois, já com a situação agravada em vários distritos, entrou a ministra, que foi sempre acompanhando à distância, justificou-se a própria Constança.

No terreno estão os "operacionais", com as estruturas municipais da Proteção Civil a sinalizarem as dificuldades junto da estrutura central, que depois faz seguir eventuais preocupações maiores junto das autoridades políticas.

Tréguas no Parlamento

Na Assembleia da República também houve tréguas à ação do executivo, na reunião de quinta-feira convocada para discutir os incêndios, em que até o PSD manifestou "solidariedade" com o governo (apesar de deputados e ex-parlamentares sociais-democratas terem criticado com virulência nas redes sociais a atuação da ministra).

Às 18.00 de terça-feira, Constança Urbano de Sousa estava ao lado do primeiro-ministro na reunião com o Comando da Proteção Civil - onde chegou a notícia do descontrolo absoluto nas chamas que ameaçavam o Funchal.

O cenário dantesco, com o fogo a fazer logo três vítimas e a atingir o centro histórico do Funchal, levou Belém e São Bento a acertarem uma visita quase imediata à Madeira: primeiro foi Marcelo Rebelo de Sousa, na quarta-feira, no conforto à população, depois seguiu na quinta-feira António Costa para colocar em marcha os planos para o dia seguinte.

Marcelo quer eficácia na justiça

No dia seguinte também preocupa a eficácia da justiça. O Presidente da República recebeu ontem o presidente da Liga dos Bombeiros e, no final, disse aos jornalistas que é importante que "se trate a sério da questão da eficácia da justiça", em relação aos incendiários suspeitos.

Citado pela Lusa, Marcelo revelou que teve conhecimento de casos de condenados, mais do que uma vez, por fogo posto (como também ontem descreveu o DN), não sendo possível atualmente medidas preventivas de circulação dessas pessoas, em áreas e períodos críticos.

Mas o Presidente da República deixou um aviso para cuidados a ter com o texto constitucional: "Os especialistas olharão para isso e verão como é possível, constitucionalmente, agir em conformidade." Ao DN, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que "o problema está nas medidas preventivas".

Outra preocupação manifestada pelo Presidente é o facto de todos os autarcas dos municípios atingidos pelos fogos terem garantido que há mão humana nos incêndios. "Se assim for, temos dois problemas: primeiro é criar meios de prevenir que isso sucede, e isso tem que ver com o problema da prevenção dos fogos, e depois é preciso punir em conformidade", atirou. Com as tais cautelas constitucionais.

Marcelo prometeu "acompanhar muito de perto" as políticas que terão de ser aplicadas a curto prazo e que o governo já antecipou para um futuro próximo (com a criação de um grupo interministerial). Segundo o Chefe do Estado, esses novos diplomas legais têm de permitir "concretizar planos de há muitos anos".

Depois do encontro que manteve com Jaime Marta Soares, o Presidente afastou qualquer má vontade europeia na resposta ao pedido de ajuda do governo. "Não penso que haja má vontade europeia em relação à solicitação portuguesa", disse Marcelo, lembrando que, "em curto espaço de tempo", Espanha, Itália, Marrocos e Rússia deslocaram para Portugal meios aéreos. "É uma resposta, que não sendo maciça, vem ajudar significativamente a intervenção das forças no terreno."

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