Militar da GNR sobre o dia do ataque a academia: "Não vi jogadores feridos"
Ao segundo dia do julgamento do processo do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, o militar da GNR Tiago Mateus relata no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, o que viu no dia da invasão, a 15 de maio de 2018. "Havia sangue no chão", afirmou o militar, citado pelo Expresso, sobre o momento em que entrou no balneário, uma hora depois do ataque. "Mas não vi jogadores feridos. O balneário estava todo revirado", acrescentou o então comandante da patrulha de ocorrências da GNR de Alcochete.
O militar Tiago Mateus foi o primeiro a chegar à Academia do Sporting, depois de ter sido informado de uma "invasão de desconhecidos." "Quando chegámos, vimos indivíduos encapuçados a correr e a sair da academia. Fomos à entrada e disseram-nos que já não havia ninguém lá dentro. Um BMW X3 tentou abalroar o carro patrulha para fugir. E nós voltámos para trás para apanhar os que conseguíssemos", recorda. O BMW acabou por escapar às autoridades. O militar contou que viu 50 pessoas a fugir.
No depoimento de Tiago Mateus é referido que quando chegaram os reforços, os militares da GNR que estavam na academia partiram em perseguição das viaturas que tinham fugido. Tiago Mateus conta que foi possível deter os ocupantes de duas viaturas e que estes "não ofereceram resistência".
"O meu colega perguntou: bato com o carro ou não?" E eu respondi: "Não batas que ainda nos metemos numa embrulhada e temos de pagar", contou Tiago Mateus referindo que o colega teve de travar a fundo para evitar a colisão com o BMX X3, que conseguiu fugir do parque de estacionamento junto à Academia do Sporting.
Miguel A. Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, pede para inquirir o militar da GNR, mas acaba por ser interrompido pela juíza. "Deixe-se de apartes e faça perguntas", disse a magistrada. Miguel A. Fonseca tenta novamente interrogar Tiago Mateus, faz uma introdução e volta a ser interrompido pela juíza. "Isto não é o 'Telejornal'. Faça as perguntas".
O advogado quer saber se o nível de desarrumação no balneário da academia era muito diferente dos dias de jogo ou de treino ao que o militar da GNR responde que já tinha estado em Alcochete como socorrista do INEM, mas que desta vez havia coisa danificadas, como um vidro rachado de uma porta. Perante esta resposta, o advogado de Bruno de Carvalho diz: "É por isto que queremos uma reconstituição".
Questionado pelo advogado Aníbal Pinto, que representa quatro arguidos, o militar reafirmou que viu o "balneário virado do avesso" e com as "instalações danificadas". "Não me lembro de ter cruzado com algum jogador do Sporting", reforçou.
No Tribunal de Monsanto marcam presença 25 dos 44 arguidos, depois de vários pedidos de dispensa, entre os quais o do antigo presidente do Sporting.
Bruno de Carvalho, que se identificou no primeiro dia do julgamento como comentador, Mustafá, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, estão acusados de serem os autores morais do ataque à academia de Alcochete. Estão ainda acusados de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e Mustafá também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Está previsto que nesta segunda sessão do julgamento sejam ouvidos seis elementos da PSP e seis militares da GNR.
[Em atualização]