Milhões de abelhas estão a morrer no Brasil e isso é um aviso
A morte em massa de abelhas devido aos químicos agrícolas já é há muito tempo uma preocupação no Brasil, onde, entre 1990 e 2016, o uso de pesticidas aumentou 770%, de acordo com a FAO, organização das Nações Unidas que acompanha o setor agrícola e alimentar. Mas a eleição de Jair Bolsonaro, que já deixou claro que questões ambientais ou de saúde não o impedirão de abrir caminho aos grandes agricultores que o apoiaram na corrida à presidência, veio agravar ainda mais o cenário.
Por isso, a mortandade verificada nos primeiros meses do ano - mais de 500 milhões de abelhas em quatro estados do sul do país - voltou a trazer a questão a lume, chamando-se a atenção para a elevada quantidade e variedade de pesticidas usados na agricultura brasileira, alguns deles proibidos noutras regiões do mundo, como a União Europeia (UE). É o caso do Fipronil, que, de acordo com uma reportagem da Bloomberg, foi encontrado nas abelhas mortas.
Este agroquímico, que está banido da UE e foi classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência Ambiental dos Estados Unidos da América, é, no entanto, autorizado no Brasil. Nada de espantar, se tivermos em conta que, segundo a Greenpeace, 40 por cento dos pesticidas usados neste país são altamente tóxicos e 32% não são permitidos na UE.
Acresce que, desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto, foi atingido o recorde de pesticidas autorizados para venda - 290 - mais 27 por cento do que no mesmo período do ano passado - e é de esperar que os limites ao tipo de químicos e tóxicos sejam ainda mais alargados.
A variedade de produtos é uma das questões que mais alarma os especialistas. "Quanto maior for o número, mais baixas as nossas hipóteses de segurança, porque não é possível controlá-los a todos", disse à Bloomberg Silvia Cazenave, professora de toxicologia da Universidade de Campinas.
Teme-se, portanto, o pior: uma produção agrícola inundada de pesticidas que contaminam a alimentação humana. "A morte de todas estas abelhas é um sinal de que estamos a ser envenenados" disse ao site de notícias Carlos Alberto Bastos, presidente da Associação Apícola do Distrito Federal brasileira.