Emoção e alegria são palavras recorrentes no discurso de Pedro Azevedo, o programador do MIL, que poucos dias antes do festival voltar a abrir as portas, depois de um ano de interrupção devido à pandemia, falou com o DN sobre este regresso. Ainda não se tratará de um regresso à normalidade, é certo, mas "já paira no ar um ambiente pós-covid", como assinala Pedro Azevedo, que torna esta quinta edição do MIL "um momento muito esperançoso"..Para cumprir as normas sanitárias, o evento mudou-se este ano para o Hub Criativo do Beato, onde segundo Pedro Azevedo manterá todas as características dos anos anteriores. "Vamos continuar a ter capacidade para mil pessoas e igualmente dezenas de artistas, que vão atuar num espaço incrível e muito amplo, para permitir ao público saltitar de palco em palco, como já acontecia no cais do Sodré", esclarece. Para amanhã, dia de abertura do MIL, destacam-se por exemplo as presenças de Cabrita, Gala Drop, Fado Bicha, Lavoisier ou Stereoboy, enquanto nos dois dias seguintes sobressaem os nomes como os de Ray, Club Makumba, Pedro da Linha, EU.CLIDES ou MURAIS, o projeto a solo de Hélio Morais. Além desta ampla amostra das novas tendências da música nacional, o cartaz inclui também diversas propostas internacionais, num claro regresso ao antigo normal, com a presença, entre outros, da luso-anglo-angolana Carla Prata, da brasileira YNDI, da inglesa Naima Bock, da espanhola Queralt Lahoz, do suíço Dino Brandão ou dos franco-americanos Faux Real..Como é habitual, em paralelo com os concertos, haverá também uma convenção destinada aos profissionais, para discutir o futuro música, bem como diversas iniciativas paralelas, mais direcionadas para a indústria, sob a forma de masterclasses, keynotes, debates e workshops. Um dos principais objetivos do festival continua a ser a promoção dos artistas, apresentando-os a promotores e agentes internacionais que lhes podem abrir portas para novos mercados. "Para os profissionais é muito importante mostraram-se para tocar ao vivo e vamos ter cá pessoas, em representação de salas e de agências, mas também muitos promotores, que podem realmente mudar a vida dos artistas. Através de um festival de música ao vivo, queremos relembrar e poder provar que se pode continuar a viver disto", sustenta Pedro Azevedo..O lema deste ano, "o futuro da cultura é o futuro do ao vivo", sublinha precisamente isso e partindo dessa premissa, o programa de convenção do MIL "pretende introduzir uma reflexão crítica sobre a transformação digital", abordando temas como a soberania digital, as políticas do streaming, os direitos de autor ou a crescente concentração levada a cabo pelas grandes empresas tecnológicas, bem como formas de resistência e denúncia a esta nova realidade. De forma complementar, será ainda debatida a importância de proteger e preservar os setores da música ao vivo e todos os seus intervenientes. "É alegria muito grande, podermos voltar a fazer um festival com esta dimensão e com estes objetivos. Já não sentíamos isto há tanto tempo, que tudo se torna muito mais emotivo", confessa o programador..Este lado mais direcionado para a indústria é também enaltecido por Hélio Morais, que em anos anteriores já participou no MIL, enquanto membro de Paus e de Linda Martini. "São momentos muito úteis e importantes para os artistas, mas tem de haver um trabalho prévio de promoção e de relações públicas da nossa parte, no sentido de cativar essas pessoas para irem assistir aos nossos concertos. Até pode acontecer de forma fortuita, porque a própria organização do MIL também proporciona esses encontros, mas é mais difícil", afirma o músico, recordando, como exemplo, a participação dos Paus no Eurosonic, um festival com as mesmas características do MIL, realizado em Groningen, nos Países Baixos. "Esse trabalho foi muito bem feito pelo nosso booking e o resultado disso foi passarmos quase esse ano todo em digressão pela Europa", lembra. No caso do projeto MURAIS, assume um foco muito direcionado para Espanha, este ano um dos mercados mais presentes no MIL, pelo que "o festival pode ser a concretização desse trabalho prévio"..Quanto à sua atuação no MIL, com o projeto MURAIS, assume apenas "uma enorme vontade de ver as pessoas felizes, tanto as que vão estar a trabalhar, em palco, como as que vão estar a divertir-se. Antevejo acima de tudo a alegria de ver pessoas", conclui, lembrando em seguida a recente atuação dos Linda Martini na Festa do Avante: "ver aquela gente toda, mesmo sentada, emocionou-me tanto que fiquei com lágrimas nos olhos antes de entrar em palco. Presumo que volte a sentir o mesmo".