Miguel Esteves Cardoso o escritor-ícone de várias gerações
"Ser esquisito é bom. Só em português é que quer dizer "estranho"-são os custos da parolice. Em todas as outras línguas primas da nossa significa: requintadíssimo, lindo transcendente" escreve MEC numa deliciosa crónica chamada "O Luxo do Não" incluída no volume Como é Linda a Puta da Vida. O titulo não esconde o tom amargo e doce do seu conteúdo. Entre o amor, a morte, o sexo, a marmelada, as mulheres bonitas e as feias está, Portugal pois, como se pode ler na página 173" Sou suspeito. Ser português é a minha profissão e, caso não exista isso de se ser português, estou tramado (...)espero ter sido suficientemente português para não ser bem entendido".
A estrela mais brilhante do firmamento da movida portuguesa dos anos 80 deu lugar a um homem que hoje prefere a cortesia, à crueldade ("fui infantilmente mau para muita gente. Só o Torres Couto é que me deu a volta e uma lição de vida", lembra), o cuidar ao criticar. E a sua escrita reflete essa transformação: "seria ridículo se hoje tentasse imitar quem fui aos 26 anos. Sou um sobrevivente, por isso não tenho medo de ser mal entendido. Ser livre é também não ceder ao que é mais fácil e que normalmente é mentira. Hoje tenho 58 anos passei por tantas coisas, li tantos livros (cerca de mil por ano) e isso tem que se refletir no que escrevo", diz MEC.
Por isso em "Como é Linda... MEC escreve sem "aquele medo muito lusitano de estar a expor-se ou de ser criticado" numa prosa mais contida e enxuta, numa ironia mais subtil mas sempre sobre a mesma linha ténue entre a comédia e a tragédia onde não falta uma salutar auto ironia.