"Ser esquisito é bom. Só em português é que quer dizer "estranho"-são os custos da parolice. Em todas as outras línguas primas da nossa significa: requintadíssimo, lindo transcendente" escreve MEC numa deliciosa crónica chamada "O Luxo do Não" incluída no volume Como é Linda a Puta da Vida. O titulo não esconde o tom amargo e doce do seu conteúdo. Entre o amor, a morte, o sexo, a marmelada, as mulheres bonitas e as feias está, Portugal pois, como se pode ler na página 173" Sou suspeito. Ser português é a minha profissão e, caso não exista isso de se ser português, estou tramado (...)espero ter sido suficientemente português para não ser bem entendido". .A estrela mais brilhante do firmamento da movida portuguesa dos anos 80 deu lugar a um homem que hoje prefere a cortesia, à crueldade ("fui infantilmente mau para muita gente. Só o Torres Couto é que me deu a volta e uma lição de vida", lembra), o cuidar ao criticar. E a sua escrita reflete essa transformação: "seria ridículo se hoje tentasse imitar quem fui aos 26 anos. Sou um sobrevivente, por isso não tenho medo de ser mal entendido. Ser livre é também não ceder ao que é mais fácil e que normalmente é mentira. Hoje tenho 58 anos passei por tantas coisas, li tantos livros (cerca de mil por ano) e isso tem que se refletir no que escrevo", diz MEC..Por isso em "Como é Linda... MEC escreve sem "aquele medo muito lusitano de estar a expor-se ou de ser criticado" numa prosa mais contida e enxuta, numa ironia mais subtil mas sempre sobre a mesma linha ténue entre a comédia e a tragédia onde não falta uma salutar auto ironia.