Não enjeitam a tradição mas vêm a Portugal mostrar que existe arte mexicana para além de Diego Rivera e Frida Kahlo. Falamos dos pintores Sofia Castellanos, Rafael Ibarra e Alejandro Pintado, cujas obras poderão ser vistas na exposição México: Criadores Contemporâneos - Cultura, Natureza, Cosmos, patente na sede do Instituto Camões, em Lisboa, entre 22 de junho e 7 de julho. Paralelamente, Sofia, a mais jovem deste trio, pintará um mural frente à embaixada do México em Lisboa, em plena parede exterior do Estádio Pina Manique. Chamar-lhe-á La Caravana de la Vida e promete associar a exuberância natural do Parque Florestal do Monsanto, onde se localizam estádio e embaixada, à importância do desporto na formação dos jovens, uma das missões do Casa Pia Atlético Clube desde a sua fundação, em 1920..Sofia está em Lisboa pela primeira vez, Rafael vive em Braga há sete anos, por amor a uma portuguesa, e Alejandro, não podendo deslocar-se a Portugal, faz-se representar pelos seus quadros. Para os dois primeiros, importa, antes de mais, mostrar ao público português a arte contemporânea do seu país para além do "postal ilustrado"..Rafael, vencedor da Bienal de Cerveira do ano passado com o projeto fotográfico Cidade Fantasma, está muito interessado em tudo o que se relacione com as migrações e não esconde o quanto há de motivação pessoal nesta escolha de tema: "Gosto muito de estar em Portugal, o meu filho já é português mas, claro, que tenho saudades da família que deixei lá, do ambiente, do país." Mas se fala de migrações, o artista não se refere apenas a seres humanos deslocados. Podem ser flores, como as que mostra na série de quadros expostos no Instituto Camões: "A série que estou a apresentar chama-se Flores Migratórias e evoca algumas das plantas que os conquistadores espanhóis trouxeram da América para a Europa nos séculos XVI e XVII" diz ao DN. "Como não conseguiam trazer flores vivas, traziam as sementes. É o caso da dália, a flor nacional do México porque já os astecas decoravam as suas pirâmides com dálias, mas também das buganvílias, da flor de Natal ou da espécie mais aromática de cravos, habitualmente usada no Dia dos Mortos." Refira-se, a título de curiosidade, que o interesse de Rafael Ibarra pela botânica e pela floricultura extravasa os limites da tela. No Minho, onde reside, está a cultivar uma série de produtos muito usados na cozinha do seu país, como o tomatillo: "É muito parecido com a physalis europeia, mas pode ser usado em molhos picantes", explica..Mais urbana, Sofia cedo se apaixonou pelas possibilidades de intervenção comunitária que a arte pública proporciona. Talvez por isso também tenha estudado cenografia: "Há muito de teatro num mural que se pinta diretamente sobre um edifício ou uma parede de rua", diz. "Desde os 10 anos que não perco uma oportunidade de fazer arte urbana e gosto especialmente das possibilidades expressivas das grandes dimensões. Talvez porque isso me traz a oportunidade de tirar a arte da galeria, ou do museu, e de a partilhar com os outros. É como se a própria cidade se transformasse na minha tela." Essa partilha com a comunidade não está isenta de riscos, da crítica à vandalização, mas, por ora, Sofia não tem más experiências para contar: "Quando me veem pintar na rua, as pessoas vêm fazer perguntas, dão opiniões, às vezes até ajudam. Essa simpatia talvez tenha que ver com o facto de eu relacionar os temas que pinto com a vida e a história do lugar.".Os temas que prefere têm que ver com o feminino, com a natureza e "com essa espécie de realismo mágico que atravessa toda a cultura mexicana, desde a literatura às artes plásticas. Mesmo numa grande metrópole como é a Cidade do México, com os seus quase 9 milhões de habitantes, as pessoas procuram manter a ligação a esse imaginário ancestral, muito rico". Também por isso os quadros de Sofia Castellanos que poderemos ver no Instituto Camões estão cheios de algumas das suas criaturas preferidas, como mariposas, felinos e flores. Tudo em formato oversize..Para José Manuel Cuévas Lopez, conselheiro encarregue dos assuntos culturais da Embaixada do México em Lisboa, esta parceria com o Instituto Camões marca o princípio do projeto de dar a conhecer aos portugueses o que de mais contemporâneo se faz no seu país, nas artes plásticas, mas também na gastronomia ou na literatura. "Somos culturas e línguas próximas. Não há qualquer razão para que se persista no mútuo desconhecimento", diz..dnot@dn.pt