"Adoro este país, se não vivesse tão longe gostava de ter cá uma casa", diz, com os olhos postos no horizonte marítimo de Cascais, enquanto caminha desde o centro da vila até ao hotel onde desde há alguns anos fica hospedado, sempre que os Metallica atuam em Portugal. O baixista da banda californiana, Roberto Trujillo, de 54 anos, sabe do que fala, afinal é visita regular do país desde 2003 - e não só quando há concertos..Tinha então ingressado nos Metallica, em substituição de Jason Newsted, num dos períodos mais conturbados da banda, quando um português, que acabara de conhecer nos bastidores do festival alemão Rock am Ring, o desafiou a vir surfar na Costa Vicentina. Veio com alguns amigos na semana seguinte, foi tocar a Madrid e regressou poucos dias depois, trazendo consigo o guitarrista da banda, Kirk Hammett. Nesse ano e nos seguintes, voltou mais algumas vezes, sempre para a Costa Vicentina, onde foi criando uma pequena rede de amigos..Em 2004, quando os Metallica vieram tocar à primeira edição do Rock in Rio, naquela que foi a estreia com a banda de Trujillo em território nacional, o músico fez questão de os convidar a todos para jantar em Lisboa, levando-os em seguida para uma festa organizada pelo Rock in Rio, na então discoteca Estado Líquido, onde também estavam bandas como os Black Eyed Peas ou os Sepultura. O jantar com os amigos virou entretanto tradição, como aquele, no ano passado, no restaurante vegetariano House of Wonders, em Cascais, onde aprendeu "a fonética" para cantar "de forma quase correta" o tema A Minha Casinha, dos Xutos & Pontapés..A ideia de interpretar uma versão de um artista local, em cada uma das cidades por onde passam, foi de Robert, que desafiou Kirk para o acompanhar nessa "aventura em palco". Escolheram os Xutos também por sugestão de um amigo, apesar de a editora Universal os ter também aconselhado, quando questionada pelo management da banda sobre a banda ideal para ser tocada em Lisboa. "Prefiro aconselhar-me com os meus amigos", diz com um sorriso. E foi com eles que durante meses trocou e-mails, com os sons dos ensaios, para que estes lhe confirmassem se tudo estava bem. Do outro lado do Atlântico, Robert também fez o trabalho de casa e apesar de a sugestão inicial ter sido logo A Casinha, o baixista estava mais inclinado para fazer uma versão do tema Vida Malvada. Entretanto, viu um vídeo dos festejos da conquista do Euro 2016, ao som da Casinha, e ficou convencido de que aquela era a escolha certa. "Sei que é uma versão de uma música muito antiga, mas eles conseguiram transformá-la num verdadeiro hino.".O primeiro e-mail, a explicar o pretendido, chegou muitos meses antes do desaparecimento de Zé Pedro e foi-lhe até sugerido que o guitarrista dos Xutos, também ele grande fã dos Metallica, fosse convidado para o concerto, para o surpreender e homenagear, numa altura em que o seu frágil estado de saúde já era do domínio público. Tal não foi possível, mas a homenagem não deixou de ser feita. "Foi um momento muito especial, que permitiu conectar-me de uma forma muito forte ao público português e isso não tem preço", agradeceu, num e-mail enviado aos amigos logo no dia seguinte ao concerto. E hoje à noite, haverá nova surpresa? "Talvez, mas se o revelasse deixava de ser surpresa.".Como habitualmente acontece, sempre que os Metallica atuam por cá, Robert Trujillo veio uns dias mais cedo, para matar saudades das ondas portuguesas, que já andou por aí a surfar. Desde que os filhos nasceram, Tye tem 14 anos e Lullah 12, as visitas têm-se tornado mais espaçadas, resumindo-se agora quase só às atuações dos Metallica. "Venho sempre mais cedo e tento ficar sempre o máximo de tempo possível. Uma vez tinha um concerto em Praga, no dia seguinte ao de Lisboa, fui, toquei e voltei no dia seguinte", conta. Quanto ao jantar deste ano, ficou marcado para depois do concerto, "para termos tempo de meter a conversa em dia". No final, não deixou de dizer: "Vocês têm uma grande sorte em viver neste país.".Metallica.Estádio do Restelo, Lisboa.Hoje, 1 maio, 19.00. €75 a €118